(30/11/2009) Os trabalhos da XIX Cimeira Ibero-Americana começaram, esta segunda-feira,
no Estoril, com os chefes de Estado e de governo de Portugal, Espanha e América Latina
a procurarem impulsionar a inovação, além de respostas para a crise, Honduras e alterações
climáticas. «Inovação e Conhecimento», como via para o desenvolvimento e para
superar os efeitos sociais e económicos da crise económica mundial, e a aplicação
da tecnologia em vários domínios, é o tema oficial da Cimeira e esteve já na agenda
de várias reuniões prévias. Dessas reuniões, ministeriais, de especialistas e
instituições nas áreas da justiça, finanças e regulação financeira, educação, e administração
central, resultou uma base documental para os compromissos que se espera sejam assumidos
nesta cimeira. A crise política das Honduras é um tema, já assumido nos discursos
do acto inaugural da cimeira, como central nesta reunião, mas a tensão entre a Colômbia
e a Venezuela poderá também ser abordada, apesar da ausência do chefe de estado venezuelano,
Hugo Chávez. A cimeira do clima, a decorrer em Copenhaga no próximo dia 07, deverá
também assumir um papel central nesta cimeira, após um apelo expresso do secretário-geral
das Nações Unidas, lido pelo Alto Comissário da ONU para os Refugiados, António Guterres,
no acto inaugural da reunião. José Sócrates e o seu homólogo, José Luis Rodríguez
Zapatero, vão debater com os líderes de Mercosul o acordo pendente entre este grupo
de países e a União Europeia. À margem da Cimeira, está também prevista uma conferência
de imprensa da cantora colombiana Shakira, presente no Estoril como activista da Fundação
Alas, vocacionada para a saúde e educação das crianças na América Latina.Dos 22 países
participantes nestas cimeiras, três são europeus (Portugal, Espanha e Andorra) e os
restantes da América Latina, embora estejam ausentes Venezuela, Cuba, Bolívia, Guatemala,
Uruguai, Guatemala e Nicarágua, além do mandatário das Honduras, onde domingo se realizaram
eleições para escolher o sucessor de Manuel Zelaya, deposto por um golpe de estado.
A Cimeira foi inaugurada domingo, com uma cerimónia nos Jardins da Torre de Belém,
onde ficou claro o elenco dos temas dominantes da Cimeira - inovação, crise económica,
pobreza, Honduras e alterações climáticas -,e termina terça-feira, depois de uma sessão
plenária dos chefes de estado e de governo. -A inovação e
o conhecimento é o tema desta Cimeira Ibero-Americana; mas foi a crise financeira
a marcar a sessão inaugural do encontro. Os temas estiveram nos cinco discursos
da noite, especialmente no do primeiro-ministro português, que apontou as lições que
se devem tirar da crise. "Construir instituições e dispositivos à escala internacional
que permitam uma regulação eficaz do sector financeiro" e impeçam "a repetição do
triunfo da especulação de curto prazo sobre as necessidades da economia real" foi
o primeiro. Em segundo lugar, "a centralidade dos Estados e das políticas públicas":
A terceira lição tinha a ver com a importância das estratégias centradas na inovação
e no conhecimento, os temas da Cimeira Ibero-Americana. Daqui, Sócrates passou
para o ambiente e para o a necessidade de uma economia amiga das boas práticas ambientais.
E classificou a Cimeira de Copenhaga como "decisiva para o planeta", onde todos terão
que "concentrar esforços e actuar de forma concertada em prol de um objectivo comum". Cavaco
Silva foi o último a falar:o Presidente da República dedicou um parágrafo à crise
financeira, afirmando que esta só poderá ser "verdadeiramente ultrapassada" se dela
se souber "extrair todos os ensinamentos". Isso significa ser-se capaz "de encontrar
um modelo de desenvolvimento que concilie a liberdade, a democracia e a economia de
mercado com uma eficaz defesa dos valores éticos". "Um modelo de desenvolvimento
que, para além disso, olhe para o planeta com o respeito que nos impõe a responsabilidade
que todos temos perante as gerações que hão-de vir". Antes, já António Guterres
alto-comissário da ONU para os Refugiados (ACNUR), tinha lido uma mensagem do secretário-geral
das Nações Unidas, Ban Ki-moon em que a cimeira de Copenhaga foi o tema central. Ban
apelou aos líderes políticos ibero-americanos para que não deixem de estar presentes
numa cimeira que "não se pode deixar falhar", afirmando que as notícias de que pode
ser um fracasso "são mentira". Guterres, já falando em seu nome, disse que as migrações,
a segurança, as alterações climáticas e o problema energético e da água estão "a agravar,
os desequilíbrios que, pela primeira vez, mostram um limite físico ao desenvolvimento
da humanidade". "É preciso agir já. A nossa capacidade para inovar tem que ser posta
em prática sem demora", afirmou.