2009-11-25 19:26:12

ARGENTINA - CHILE: RECORDANDO A MEDIAÇÃO PONTIFÍCIA


Cidade do Vaticano, 25 nov (RV) - Bento XVI receberá em audiência, sábado próximo, as presidentes do Chile, Michelle Bachelet e da Argentina, Cristina Kirchner. O evento celebra os 25 anos da assinatura do “Tratado de paz e amizade” entre os dois países, levado a bom êxito através da mediação diplomática pontifícia, que, em 1978, resolveu uma controvérsia entre Chile e Argentina.

O Cardeal Antonio Samoré, artífice desta mediação, teve entre seus colaboradores mais próximos o atual núncio apostólico da Grã-Bretanha, Dom Faustino Sainz Muñoz, que entrevistamos:

R. – Creio que a Argentina e o Chile queriam evitar o abismo da guerra, porque certamente não desejavam a guerra, mas se viram de certa maneira “conduzidos” à beira deste precipício! Assim, tiveram a boa idéia de pedir ao Santo Padre, a João Paulo II, a possibilidade que os ajudassem a achar uma solução melhor. O Santo Padre decidiu enviar o Cardeal Samorè no Natal de 78, para que ele visse, como mediador, as possibilidades existentes para uma via pacífica de solução da controvérsia. Então, os dois países se mantiveram por seis anos nessa atitude de escuta confiante diante das propostas do Santo Padre, através do Cardeal Samorè, pacientemente, até chegar à feliz solução com a assinatura do Tratado de paz e amizade, feita em 29 de novembro de 1984. Creio que, de um lado, o elemento fundamental foi o compromisso da Santa Sé, de João Paulo II, através do Cardeal Samorè, e, ainda, a paciência da Santa Sé, do próprio Cardeal Samorè, e dos dois países no seguimento das indicações dadas.

P. – Do risco de uma guerra à cooperação e à integração: passaram-se exatamente 25 anos que o Chile e a Argentina assinaram um acordo de paz e de amizade. Confirmava-se, então, quanto havia dito João Paulo II no início desta mediação, ou seja, que a paz daria muitos frutos para todos, para chilenos e argentinos...

R. – Isso é evidente! Foi o que pude constatar semana passada. Estive em Santiago do Chile para participar de uma comemoração dos 25 anos da assinatura do Tratado, organizada pela Pontifícia Universidade Católica do Chile e pela nunciatura apostólica em Santiago. Intervim na primeira missão do Cardeal Samorè e também ajudei durante todo o itinerário da mediação, e, em minha recente visita, pude verificar como se cumpriu realmente a profecia do Santo Padre. O Tratado incluía muitas cláusulas de colaboração, de integração de todo tipo. Tenho que dizer que estas cláusulas foram cumpridas de maneira incrível. Em ambos os países vi que estão muito contentes e posso dizer que a relação entre os dois países definitivamente mudou: a situação atual nada tem a ver com o clima que se respirava em dezembro de 78, que era um clima de guerra, de desconfiança. Hoje não há mais desconfiança, mas integração quase que total. A prova disso é que, recentemente, os dois países assinaram um novo tratado que é fruto do que foi celebrado há 25 anos.

P. – A mediação na zona sul da América Latina demonstrou que, em toda controvérsia, o diálogo não prejudica os direitos das partes, mas, ao invés disso, amplia as possibilidades de compor ou resolver as divergências. Quais lições podemos tirar hoje do evento passados 30 anos?

R. – A lição mais importante é que com o diálogo pode-se resolver qualquer problema entre as partes, porque, com o diálogo, os respectivos direitos podem ser melhor identificados. Às vezes consideram-se direitos algumas aspirações que não correspondem a esta categoria de direito, mas com o diálogo pode-se chegar a uma melhor compreensão dos direitos de ambas as partes, chegando-se evidentemente a uma solução justa, pacífica e satisfatória para todos. Foi exatamente este o caso da solução achada para o conflito na região sul da América Latina. E creio que isto também seja possível para outras questões que, atualmente, possam dividir países irmãos. Por exemplo, na América do Sul não faltam hoje problemas que possam ser bem resolvidos através do diálogo, e não através de ameaças, como se ouve algumas vezes. (RD)







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