CONGRESSO NO VATICANO REFLETIRÁ REALIDADE DOS SURDOS NA VIDA DA IGREJA
Cidade do Vaticano, 17 nov (RV) - Oferecer "uma oportunidade para valorizar
a contribuição das pessoas surdas nos diversos campos de apostolado, dando pleno reconhecimento
à relevância de seu trabalho". Esse é o objetivo da Conferência internacional centralizada
no tema: "Effatà! A Pessoa surda na vida da Igreja".
O Congresso, promovido
pelo Pontifício Conselho da Pastoral para os Agentes de Saúde, vai se realizar no
Vaticano de quinta-feira até o próximo sábado, portanto, de 19 a 21 do corrente.
A
iniciativa foi apresentada esta manhã na Sala de Imprensa da Santa Sé. Participaram
da coletiva, entre outros, o presidente do Pontifício Conselho da Pastoral para os
Agentes de Saúde, Dom Zygmunt Zimowski, e o sacerdote da Congregação Pequena Missão
para os Surdos-mudos, Pe. Savino Castiglione.
No mundo, as pessoas com deficiência
auditiva são mais de 278 milhões. Entre essas, 59 milhões são atingidas por surdez
total. 80% das pessoas surdas vivem nos países menos desenvolvidos, onde a falta de
infraestruturas sanitárias adequadas e de intervenções tempestivas se acrescenta às
dificuldades econômicas para a aquisição de medicamentos.
Muitas vezes são
dificultadas a inserção no mundo do trabalho, a participação na vida social e a possibilidade
de se criar uma família. Um grande impedimento diz respeito também à questão da possibilidade
de crescimento na vida espiritual e na prática religiosa, como ressaltou Dom Zimowski:
"As
consequências são notáveis quanto inevitáveis na vida da Igreja Católica, da qual
se estima que façam parte cerca de um milhão trezentos mil surdos."
Não se
pode permanecer surdos à Palavra de Deus. O trecho evangélico da cura do surdo-mudo,
ao qual Jesus diz "Effatà, abre-te", é um convite a não viver no anonimato,
a não fechar-se em si mesmos. A esse propósito, eis o que disse o secretário do Pontifício
Conselho da Pastoral para os Agentes de Saúde, Dom José Redrado:
"O Senhor
diante do surdo grita: Abre-te! É um grito de esperança, é uma experiência para o
surdo que começa a ouvir e a proclamar. E esse a Igreja faz seu esse gesto de Jesus
e diz: Abre-te!"
O secretário do referido organismo vaticano citou o exemplo
de alguém que soube abrir o próprio ânimo diante de suas limitações: o grande compositor
Beethoven, que viveu a experiência da surdez:
"Beethoven encontrava-se próximo
a Viena vivendo isolado e escrevendo páginas amargas, desoladoras, nas quais transparecem
propósitos suicidas. Encontrava-se condenado a não ouvir nunca mais as suas melodias
a não ser em seu íntimo ânimo. Ele fez então um esforço titânico – refiro-me a isso
como exemplo – e superou a crise. O desfecho não foi o túmulo, a depressão, mas o
triunfo, o prêmio pelo esforço, a ressurreição do espírito sobre a frágil matéria."
O
Congresso examinará os aspectos médicos, sociais e psicológicos da surdez e as necessidades
pastorais das pessoas surdas. Expoentes do clero e de institutos religiosos e do laicato
se deterão sobre sua experiência de pessoas surdas.
O testemunho do missionário
sul-africano cego e surdo Pe. Cyril Axelrod será particularmente significativo. Ele
anuncia a Palavra comunicando com os gestos para deixar uma mensagem universal: ninguém
pode realmente sentir-se excluído do amor de Deus. (RL)