Roma, 16 nov (RV) - Sem metas estabelecidas e esvaziada pela ausência dos líderes
dos países ricos, a Cúpula Mundial contra a Fome começa com o risco de não representar
um avanço na luta contra a fome. A ideia do Brasil e de países emergentes de estabelecer
a meta de eliminar a fome até 2025 não entrará no acordo final.
Os países
em desenvolvimento propuseram que a declaração final estabelecesse a eliminação dos
índices de fome até 2025, seguindo a meta da América Latina. Mas o texto final não
vai apresentar prazo. “Estamos comprometidos para tomar ações para uma erradicação
sustentável da fome no prazo mais curto possível” - afirma a declaração, publicada
no site da FAO, que deve ser aprovada hoje.
Em seu discurso, o secretário-geral
da ONU, Ban Ki Moon, citou o Brasil como exemplo de que é possível combater a fome,
e cobrou a promessa feita pelos líderes do G8, em julho passado em L’Aquila, de que
destinariam US$ 20 bilhões para lutar contra a fome. Até hoje, o dinheiro não veio.
Quase
60 chefes de Estado e de Governo participaram da cerimônia de abertura da Cúpula.
O
evento, contornado por um forte dispositivo de segurança, teve ainda com as presenças
do dirigente líbio Muamar Kadafi e do controverso presidente do Zimbábue, Robert Mugabe.
Dentre os países do G8, apenas o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, estava
presente.
Em seu discurso, Lula deve lembrar que a reforma da FAO segue os
mesmos passos da estrutura criada no Brasil para debater a fome e criar programas
para combatê-la. O presidente também deve participar de reunião com líderes africanos
de países que contam com savanas. A ideia do Brasil é a de cooperação na produção
de alimentos nessas áreas. Segundo a FAO, as savanas têm potencial para se transformarem
em um centro de produção de grãos e alimentos, repetindo a performance do cerrado
brasileiro.
Ainda hoje, o presidente Lula recebe uma homenagem da ‘Action
Aid International’. A ONG vai apresentar um levantamento - baseado em dados oficiais,
mas também em organismos internacionais - sobre a eficácia das políticas públicas
de enfrentamento da miséria, no qual conclui que o Brasil é exemplo para o mundo.
Segundo a ONG, a redução da fome foi extremamente substancial, rápida e sustentável
em nosso país. Mais de 10 milhões de famílias saíram da pobreza extrema e não são
mais pessoas subnutridas. Na mensagem enviada ao diretor-geral da FAO, Jacques
Diouf, por ocasião do Dia Mundial da Alimentação, em outubro passado, Bento XVI recordou
que os “bens da criação são limitados por natureza: são precisas, portanto, atitudes
responsáveis e capazes de favorecer a segurança procurada, pensando igualmente na
das gerações vindouras. Por conseguinte, é necessária uma profunda solidariedade e
uma fraternidade clarividente”. “O drama da fome – continua o texto do Papa – só poderá
ser vencido eliminando as causas estruturais que a provocam e promovendo o desenvolvimento
agrícola dos países mais pobres”.
Por sua vez a Caritas Internacional e a CIDSE
- associação de cooperação internacional para o desenvolvimento econômico que agrupa
diversas organizações católicas - também marcam presença nesta Reunião de Cúpula.
As duas instituições, que apostam no potencial dos pequenos agricultores, temem que
a comunidade internacional promova técnicas de alta tecnologia, muitas das quais são
insustentáveis do ponto de vista social e ambiental.
Os dois organismos esperam que
os responsáveis reiterem o apoio a uma maior abertura dos mercados e à conclusão das
negociações comerciais de Doha.
Na véspera do encontro, Jacques Diouf fez uma
greve de fome de 24 horas, chamando a atenção para o drama das carências alimentares.
A abstinência de alimentos e bebidas de Jacques Diouf começou às 20h de Sexta-feira,
no salão de entrada da sede da FAO, em Roma, onde passou a noite. Com este gesto,
o diretor-geral espera que a pressão da opinião pública contribua para assegurar a
resolução do problema.
O diretor-geral da FAO referiu que “a silenciosa crise
da fome – que afeta um sexto da humanidade – coloca em sério risco a paz e segurança
mundiais”. Por isso, “precisamos urgentemente chegar a um consenso amplo sobre a rápida
e total erradicação da fome no mundo”.
A organização das Nações Unidas estima
que, em 2009, mais de um bilhão de pessoas passem fome, um aumento de cem milhões
em relação ao ano passado. Cristiane Murray, direto da sede da FAO. (SP-CM)