BENTO XVI NA FAO: A FOME PODE E DEVE SER DERROTADA
Roma, 16 nov (RV) – "A fome é o sinal mais cruel e concreto da pobreza. Não
é possível continuar a aceitar opulência e desperdício." Bento XVI participou esta
manhã, em Roma, da inauguração da Cúpula Mundial sobre Segurança Alimentar, na sede
do Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).
Ao saudar
os presentes, o papa renovou, em continuidade com seus predecessores Paulo VI e João
Paulo II, a estima pela ação da FAO.
Bento XVI recordou que a comunidade internacional
está enfrentando nesses anos uma grave crise econômica e financeira. As estatísticas
testemunham o dramático crescimento do número de quem sofre a fome. Tudo isso enquanto
se confirma que a terra pode suficientemente nutrir todos os seus habitantes – o que
indica a ausência de uma relação de causa-efeito entre o crescimento da população
e a fome.
Para o papa, a convocação desta Cúpula demonstra a fraqueza dos atuais
mecanismos da segurança alimentar e a necessidade de repensá-los. Bento XVI alerta
para um nível de desenvolvimento desigual entre e nas nações, acentuando
a contraposição entre pobreza e riqueza. Não se trata somente de modelos de desenvolvimento,
mas também da percepção que a sociedade tem do problema, correndo o risco que a fome
possa ser considerada como estrutural, parte integrante da realidade sociopolítica
dos países mais fracos, objeto de resignação e de indiferença.
"Não é assim
e não deve ser assim" – frisou o pontífice, afirmando que para combater e vencer a
fome é essencial começar a redefinir os conceitos e os princípios até aqui aplicados
nas relações internacionais. Falando da relação entre solidariedade e justiça,
o papa recordou que a solidariedade deve ser dar em um ambiente de justiça, ou seja,
respeitar o que cabe ao outro em razão do seu ser e do seu agir.
No plano
concreto, o pontífice indicou as estradas da solidariedade e da subsidiariedade entre
as nações; destacou que é necessário um desenvolvimento agrícola respeitoso das necessidades
e expectativas das comunidades locais, em um contexto econômico e financeiro mundial
inspirado na lógica do desenvolvimento e não do lucro como valor absoluto.
Condenou
a especulação e a tendência a considerar os elementos básicos, como os cereais, iguais
às demais mercadorias. E voltou a defender o direito à água como um dos direitos humanos
fundamentais. O papa falou também da relação entre desenvolvimento e meio ambiente;
e recordou que o desejo de possuir e usar de maneira excessiva e desordenada os recursos
do planeta é a primeira causa de toda degradação da natureza. "A fome é o sinal
mais cruel e concreto da pobreza. Não é possível continuar a aceitar opulência e desperdício"
– disse por fim Bento XVI, reafirmando os esforços da Igreja Católica para derrotar
a fome. Não se trata de interferir nas escolhas políticas, mas de trabalhar com a
palavra e com as obras, em uma ação solidária que todos os membros da comunidade internacional
são chamados a empreender.
E concluiu: "Reconhecer o valor transcendente de
cada homem e de cada mulher permanece o primeiro passo para favorecer aquela conversão
do coração que pode amparar o empenho para eliminar a miséria, a fome e a pobreza
em todas as suas formas". (BF)