2009-11-13 15:15:16

Trabalhar a favor de uma ordem social justa


(12/11/2009) A 1 de Dezembro de 2007, no Vaticano , durante uma audiência aos participantes no foro das organizações não-governamentais de inspiração cristã salientou que estas associações , em estreita colaboração com a Santa Sé, podem oferecer uma solução dos numerosos problemas e desafios ligados às várias actividades das Nações Unidas e de outras organizações internacionais e regionais...
Gratidão e apreço do Papa. “Participam neste importante encontro representantes de grupos nascidos nos primórdios da presença internacional do laicado católico, junto com membros de grupos nascidos recentemente para responder ao atual processo de integração global. Estão presentes grupos empenhados de modo particular na defesa dos direitos (advocacy) e outros dedicados à promoção de projetos de cooperação ao desenvolvimento. Algumas de vossas organizações são reconhecidas pela Igreja como associações públicas ou privadas de fiéis, outras compartilham o carisma de determinados institutos de vida consagrada e outras preferem ter somente um reconhecimento civil e incluem entre os seus membros pessoas não católicas e também não cristãs. No entanto, todos vós tendes em comum a paixão pela promoção da dignidade humana. Esta mesma paixão tem inspirado constantemente a actividade da Santa Sé no seio da comunidade internacional. Assim, o verdadeiro motivo do presente encontro consiste em expressar a gratidão e o apreço por aquilo que já estais a realizar em colaboração activa com os representantes pontifícios nas organizações internacionais. Além disso, este encontro procura promover um espírito de cooperação entre as vossas organizações e, consequentemente, a eficácia da vossa actividade conjunta em prol do bem integral da pessoa humana e de toda a humanidade.
Configurar rectamente a vida social. Esta unidade de intenções só pode ser alcançada através de uma variedade de funções e actividades. Na maior parte dos casos, a diplomacia multilateral da Santa Sé procura confirmar os princípios fundamentais da vida internacional, uma vez que a contribuição específica da Igreja consiste em servir "a formação da consciência na política e ajudar a crescer a percepção das verdadeiras exigências da justiça e, simultaneamente, a disponibilidade para agir com base nas mesmas" (Deus caritas est, 28a). Por outro lado, "o dever imediato de trabalhar por uma ordem justa na sociedade é próprio dos fiéis leigos" e no contexto da vida internacional isto inclui os diplomatas e os membros das Organizações Não-Governamentais cristãos que "são chamados a participar pessoalmente na vida pública" e a "configurar de modo recto a vida social, respeitando a sua legítima autonomia e cooperando segundo as respectivas competências e sob a própria responsabilidade" (Ibid., n. 29).
O primado jurídico e politico dos direitos humanos. A cooperação internacional entre os governos em geral, que já sobressaía no final do século XIX e que aumentou constantemente ao longo do século passado, não obstante a trágica explosão das duas guerras mundiais, contribuiu de maneira significativa para a criação de uma ordem internacional mais justa. A este propósito, podemos considerar com satisfação conquistas como o reconhecimento universal do primado jurídico e político dos direitos do homem, a adopção de finalidades conjuntas a respeito da fruição integral dos direitos económicos e sociais por parte de todos os habitantes da terra, os esforços que se envidam em vista de desenvolver uma economia global justa e, mais recentemente, a salvaguarda do meio ambiente e a promoção do diálogo intercultural.
Ao mesmo tempo, os debates internacionais muitas vezes parecem caracterizar-se por uma lógica relativista que tende a considerar como única garantia para a coexistência pacífica entre os povos a rejeição de admitir a verdade acerca do homem e a sua dignidade, bem como a possibilidade de uma ética fundamentada no reconhecimento da lei moral natural. Com efeito, isto levou à imposição de uma noção da lei e da política que, em última análise, cria consenso entre os Estados um consenso às vezes condicionado por interesses a curto prazo, ou manipulado por pressões ideológicas como a única base genuína para as normas internacionais. Os frutos amargos da lógica relativista são tristemente evidentes:  pensemos, por exemplo, na tentativa de considerar como direitos humanos as consequências de determinados estilos de vida egocêntricos; a falta de interesse pelas necessidades económicas e sociais das nações mais pobres; o desprezo pelas leis humanitárias; e a defesa selectiva dos direitos do homem. Faço votos a fim de que o vosso estudo e a vossa reflexão durante estes dias tenham como resultado a descoberta de formas mais eficazes de tornar a doutrina social da Igreja mais bem conhecida e aceite no plano internacional. Vos encorajo a opor ao relativismo a grande creatividade da verdade sobre a dignidade inata do homem e dos directos que dela se derivam. Por sua vez, isto há-de contribuir para a formação de uma resposta mais adequada às numerosas problemáticas que estão a ser debatidas hoje no foro internacional. Sobretudo, ajudará a fazer progredir iniciativas específicas assinaladas por um espírito de comunhão e de liberdade.
Princípios éticos não “negociáveis. Com efeito, é necessário um espírito de solidariedade que leve a promover unidos aqueles princípios éticos que pela sua própria natureza e por ser fundamento da vida social não são negociáveis. Um espírito de solidariedade imbuído de um forte sentido de amor fraternal leva a um melhor apreço das iniciativas dos outros e a um desejo mais profundo de cooperar com os mesmos. Graças a este espírito, sempre que for útil ou necessário, trabalhar-se-á em colaboração com as várias Organizações Não-Governamentais ou com os representantes da Santa Sé, no devido respeito pelas suas diferenças de natureza, de finalidades institucionais e de métodos de trabalho. Além disso, um autêntico espírito de liberdade, vivido na solidariedade, promoverá a iniciativa dos membros das Organizações Não-Governamentais a criarem uma vasta gama de novas abordagens e soluções a propósito das questões que Deus deixou ao juízo livre e responsável de cada um dos indivíduos. Se forem vividos com solidariedade, o pluralismo e a diversidade legítimos não levarão à divisão nem à competição, mas sim a uma maior eficácia. As actividades das vossas organizações hão-de de produzir frutos genuínos, contanto que permaneçam fiéis ao magistério da Igreja, ancorados na comunhão com os seus pastores e, acima de tudo, com o Sucessor de Pedro, enfrentando com um espírito de abertura prudente os desafios do momento presente.

 

 

 
 







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