Os dividendos da paz e do desarmamento : “os ingentes recursos materiais e humanos
empregados para as despesas militares e para os armamentos, na realidade, são desviados
dos projectos de desenvolvimento dos povos”
(12/11/2009) Bento XVI por ocasião do dia mundial da paz de 2009, na sua mensagem
“ combater a pobreza, construir a paz”, recorda porque é que do ponto de vista moral
merece uma particular atenção, a relação existente entre desarmamento e desenvolvimento.
Dwepois o Papa acrescenta :”gera preocupação o actual nível global de despesa militar.
É que, como já tive ocasião de sublinhar, « os ingentes recursos materiais e humanos
empregados para as despesas militares e para os armamentos, na realidade, são desviados
dos projectos de desenvolvimento dos povos, especialmente dos mais pobres e necessitados
de ajuda. E isto está contra o estipulado na própria Carta das Nações Unidas, que
empenha a comunidade internacional, e cada um dos Estados em particular, a ‘‘promover
o estabelecimento e a manutenção da paz e da segurança internacional com o mínimo
dispêndio dos recursos humanos e económicos mundiais para os armamentos''. O
desenvolvimento é o novo nome da paz. O Santo Padre prossegue: “Uma tal conjuntura,
longe de facilitar, obstaculiza seriamente a consecução dos grandes objectivos de
desenvolvimento da comunidade internacional. Além disso, um excessivo aumento da despesa
militar corre o risco de acelerar uma corrida aos armamentos que provoca faixas de
subdesenvolvimento e desespero, transformando-se assim, paradoxalmente, em factor
de instabilidade, tensão e conflito. Como sensatamente afirmou o meu venerado antecessor
Paulo VI, « o desenvolvimento é o novo nome da paz ».7 Por isso, os Estados
são chamados a fazer uma séria reflexão sobre as razões mais profundas dos conflitos,
frequentemente atiçados pela injustiça, e a tomar providências com uma corajosa autocrítica.
Se se chegar a uma melhoria das relações, isso deverá consentir uma redução das despesas
para armamentos. Os recursos poupados poderão ser destinados para projectos de desenvolvimento
das pessoas e dos povos mais pobres e necessitados: o esforço despendido em tal direcção
é um serviço à paz no seio da família humana. Paz, desenvolvimento e crise alimentar.
Na sua mensagem para o dia mundial da paz de 2009, falando da luta contra a pobreza
material, Bento XVI afirma que ela “diz respeito à crise alimentar actual, que põe
em perigo a satisfação das necessidades de base. Tal crise é caracterizada não tanto
pela insuficiência de alimento, como sobretudo pela dificuldade de acesso ao mesmo
e por fenómenos especulativos e, consequentemente, pela falta de um reajustamento
de instituições políticas e económicas que seja capaz de fazer frente às necessidades
e às emergências. A má nutrição pode também provocar graves danos psicofísicos nas
populações, privando muitas pessoas das energias de que necessitam para sair, sem
especiais ajudas, da sua situação de pobreza. E isto contribui para alargar a distância
angular das desigualdades, provocando reacções que correm o risco de tornar-se violentas.
Todos os dados sobre o andamento da pobreza relativa nos últimos decénios indicam
um aumento do fosso entre ricos e pobres. Causas principais de tal fenómeno são, sem
dúvida, por um lado a evolução tecnológica, cujos benefícios se concentram na faixa
superior da distribuição do rendimento, e por outro a dinâmica dos preços dos produtos
industriais, que crescem muito mais rapidamente do que os preços dos produtos agrícolas
e das matérias primas na posse dos países mais pobres. Isto faz com que a maior parte
da população dos países mais pobres sofra uma dupla marginalização, ou seja, em termos
de rendimentos mais baixos e de preços mais altos.