Dar de comer a quem tem fome: não esquecer a prioridade da sua dimensão ética
(12/11/2009) Por ocasião do dia mundial da alimentação de 2007, Bento XVI numa mensagem
ao director da FAO Jacques Diouf recordava a todos que nos encontramos perante um
dos desafios mais graves do nosso tempo: libertar da fome milhões de seres humanos,
cuja vida se encontra em perigo pela falta do pão quotidiano. O tema escolhido para
esta jornada, “o direito á alimentação” abre idealmente as reflexões que a comunidade
internacional se prepara para fazer por ocasião da celebração dos 60 anos da Declaração
Universal dos Direitos do Homem. Esta coincidência ajuda a pensar na importância que
o direito á alimentação reveste para se poder conseguir felizmente outros direitos,
a começar, antes de mais pelo direito fundamental á vida. Devemos constatar que os
esforços envidados até agora não parecem ter diminuído significativamente o numero
daqueles que sofrem a fome no mundo, não obstante todos reconheçam que a alimentação
é um direito primário. Isto deve-se talvez ao facto que se tende a agir motivados
apenas ou principalmente, por considerações técnicas e económicas, esquecendo a prioridade
da dimensão ética de dar de comer aos famintos. Esta prioridade concerne o sentimento
de compaixão e de solidariedade que é próprio do ser humano, que leva a partilhar
uns com os outros não só os bens materiais, mas também o amor de que todos precisam.
Efectivamente damos demasiado pouco se oferecemos apenas coisas materiais. Os dados
disponíveis mostram que não respeitar o direito à alimentação se deve não só a causas
de tipo natural mas também, e sobretudo, a situações provocadas pelo comportamento
dos homens e que desembocam num deterioramento geral de tipo social, económico e humano.
São sempre mais numerosas as pessoas que, devido à pobreza ou a conflitos sangrentos,
se vêem obrigadas a deixar as suas casas e os seus familiares para procurar sustento
fora da sua terra. Não obstante os compromissos internacionais, muitas delas são reprimidas.
O
direito à alimentação, pelo que implica, tem uma repercussão imediata quer na sua
dimensão individual quer comunitária, que atinge inteiras populações e grupos humanos.
Penso de modo particular na situação das crianças primeiras vítimas desta tragédia
muitas vezes impedidas no seu desenvolvimento físico e psíquico e, em muitas ocasiões,
obrigadas a um trabalho forçado ou alistadas nos grupos armados com a promessa de
receber algum alimento. A este respeito, coloco a minha esperança nas iniciativas
que foram empreendidas a nível multilateral para favorecer a alimentação escolar e
que permitem a inteiras comunidades, cuja sobrevivência está ameaçada pela fome, olhar
com mais confiança para o futuro.
A Igreja Católica sente-se próxima de vós
neste esforço e, através das suas diversas instituições, deseja continuar a colaborar
para apoiar as aspirações e as esperanças daquelas pessoas e povos para os quais se
dirige a acção da FAO.