Cidade do Vaticano, 07 (RV) - “Escolheram novamente Barrabás”. Essa frase compareceu
nesta semana em uma charge publicada em um jornal italiano sintetizando de modo esplêndido
a sentença emitida pela Corte Europeia de Direitos Humanos, com sede em Estrasburgo,
de punir o Estado Italiano pela presença de crucifixos em escolas em resposta à reivindicação
de uma mãe italiana, que pediu ao colégio de seus filhos que retirasse o crucifixo
das salas de aula por se opor ao princípio de laicismo no qual queria educá-los. Já
no início da semana, através do diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Padre Federico
Lombardi, o Vaticano afirmou que considera errada a decisão da Corte Européia. “É
errado e míope querer excluir a religião da realidade educativa” – ressaltou Pe. Lombardi.
Assim um sinal profundo de amor, de oferta do amor de Deus ao homem se torna
símbolo de divisão e interpretação de limitação da liberdade. Uma sentença que muitos
jornais católicos italianos definiram como “uma sentença que vai contra a história”.
Num deles, além de recordar as raízes cristãs da Europa, evidencia-se que dois homens
da recente história, protagonistas de eventos que são comemorados nestes dias, a queda
do Muro de Berlim com o fim do comunismo e a reafirmação dos direitos humanos para
milhões de pessoas, Lech Walesa e Karol Wojtyla eram homens que carregavam no peito
e muitas vezes nas mãos um crucifixo. O crucifixo é símbolo do amor de Deus pelo homem
livre. A impressão é que o sentimento anti-religioso que se concentra neste símbolo
de amor, vai mais além, pois o “eu” está se tornando mais importante do que o “nós”,
e assim se constrói sem nenhum pudor um novo muro, o muro do individualismo, do egoísmo,
do egocentrismo.
Quando falamos que o homem necessita de Deus, do seu amor
e de expressar esse amor, surgem para contrapor essa idéia, correntes de pensamento
que afirmam que isso não interessa a ninguém, que o religioso diz respeito somente
à esfera pessoal. “Você quer amar o teu Deus, faça isso em casa, longe dos meus olhos”;
quase dizendo que o ato de externar o amor a Deus, cria um sentido de inveja, que
incomoda, que atrapalha. É preciso encontrar coragem para suportar certos momentos
de dificuldade, e naturalmente coragem para políticas que saibam responder aos anseios
mais profundos de uma sociedade, cujas raízes são fortes, mas que muitas vezes tem
dúvidas sobre os frutos produzidos por essa grande árvore. Isso é possível fazendo
emergir as raízes cristãs que representam a identidade do Velho continente, do nosso
ocidente. Infelizmente os juízes da Corte Européia dos direitos do homem de Estrasburgo
não viram isso.
Quem rejeita o crucifixo usando a laicidade como desculpa,
falsamente entendida como ausência de todos os símbolos de fé, quer somente excluir
o religioso da vida das pessoas, criando a idéia de que a sociedade está melhor sem
eles. Naturalmente quem pensa diferente deve ser respeitado nas suas idéias, mas deve
estar também aberto para um confronto, partindo do fato que a nossa sociedade atual
ocidental tem ainda sede daquele Deus que por nós morreu pregado em um madeiro, símbolo
então da humilhação do homem, que Deus transformou em símbolo de amor. (SP)