SENTENÇA QUE PEDE REMOÇÃO DE CRUCIFIXO DESCONHECE NOSSA HISTÓRIA: DIZ JURISTA ITALIANO
Roma, 05 nov (RV) - "Uma sentença ideologicamente orientada": foi a definição
dada pelo arcebispo de Gênova e presidente da Conferência Episcopal Italiana, Cardeal
Angelo Bagnasco, ao pronunciamento da Corte de Estrasburgo, na França, que pede a
remoção dos Crucifixos das salas de aula.
O purpurado italiano expressou assim
o seu estupor e desconcerto. Essa sentença – observou ainda – não leva em consideração
a "verdade histórica da Itália e da Europa", que "se inspiram no Evangelho".
Por
outro lado, a sentença da Corte é também inapropriada do ponto de vista jurídico.
É o que ressalta o docente de Direito eclesiástico da Universidade Roma Três, o jurista
Carlo Cardia, entrevistado pela Rádio Vaticano:
Carlo Cardia:- "Há um
problema de competência porque a Corte de Estrasburgo contradisse até mesmo a sua
jurisprudência. Em muitos casos precedentes da Corte ela se pronunciou dizendo que
não podia entrar no mérito da disciplina do fator religioso, a não ser em casos particularíssimos,
porque essa disciplina fazia parte da jurisdição de cada Estado nacional. Por outro
lado, em nenhum tratado da União Européia, do Conselho da Europa, jamais se encontra
escrito que essa competência é da Corte de Estrasburgo."
P. Um aspecto mais
doloroso, absurdo da sentença, é a definição do Crucifixo como um "símbolo de parte
que divide, que limita a liberdade de educação"...
Carlo Cardia:-
"Esse é o aspecto mais doloroso, mas também o mais grave para um juiz. Um juiz europeu
que considera o Crucifixo um elemento de parte contradiz até mesmo o bom senso, o
conhecimento mínimo da história. É aí que se vê o perfil ideológico, porque – no mundo
e não somente na Europa – quem quer que seja, independentemente da sua pertença religiosa,
que olha para o Crucifixo, como quando nós olhamos a imagem piedosa do Buda, nenhum
de nós pensa que esse símbolo possa causar divisão. Esse é o aspecto mais negativo
da sentença do ponto de vista cultural. É algo que um juiz europeu não pode fazer
porque vai contra o mínimo conhecimento da história e da realidade dos nossos dias."
P.
O célebre escritor e jornalista inglês Chesterton dizia que "quando os homens deixarem
de acreditar em Deus poderão acreditar em qualquer coisa". A impressão que se tem
é que exista um projeto voltado a eliminar os símbolos religiosos e, portanto, levar
ao esquecimento, à perda da memória...
Carlo Cardia:- "Creio que
essa sentença seria perfeita dois séculos atrás, quando tínhamos um antigo iluminismo
que queria eliminar os sinais da religião em todos os lugares. Depois, tendo eliminado
tudo, Robespierre teve que inventar a "deusa Razão". Essa sentença é uma sentença
ultrapassada, de uma época em que existia o forte contraste entre Estado e Igreja.
Hoje temos uma situação em que a laicidade é inclusiva, acolhe todos, não exclui ninguém."
(RL)