REFLEXÃO LITÚRGICA DESTE DOMINGO, SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS
Cidade do Vaticano, 1º nov (RV) - No Evangelho Jesus nos fala das bem-aventuranças,
da sorte daqueles que vivem, que praticam sua palavra. Ele identifica essas pessoas
como pobres em espírito e perseguidas por causa da justiça. Ele diz que delas é o
reino do céu. Jesus constata que elas, onde estejam, já vivem e já realizam o Reino.
Mas
quem são pobres em espírito de que fala Jesus? São aqueles que abriram mão de bens
deste mundo para poderem construir uma nova sociedade, de acordo com o projeto de
Deus. Uma sociedade de justiça, de partilha, de paz.
Quem são os perseguidos
por causa da justiça?
São esses pobres que fizeram opção por uma sociedade
justa, fraterna, caracterizada pela partilha e comunhão de bens. São perseguidos porque
esse modo livre de viver não é suportado por aqueles que são escravos dos bens materiais,
do poder econômico, da divisão em classes sociais, que não acreditam em um outro mundo,
mas que aqui na terra têm o seu paraíso.
Os santos são esses cidadãos que trabalham
pela realização do Reino, já aqui neste mundo. Por isso são rechaçados, martirizados,
desprezado pelos filhos deste mundo que, naturalmente, não podem se identificar com
eles. Por isso, São João na segunda leitura de hoje nos diz que “Por isso o mundo
não nos conhece..” Mais adiante do trecho escolhido para a liturgia de hoje, São
João nos diz que “aquele que pratica a justiça é justo, como também Jesus é justo”.
E Jesus é o Santo, por excelência! Portanto se praticamos a justiça, assemelhamo-nos
a ele, o Santo e, consequentemente, somos santos.
Contudo, sabemos que no dia
a dia, não é fácil viver a santidade. Vários fatores corroboram para isso. Desde a
atitude desafiadora da sociedade paganizada, de estruturas tirânicas, passando por
nossa fragilidade e caminhando em meio a atitudes agressivas de muitos de nossos contemporâneos,
temos a experiência, muitas vezes amarga, de como é difícil ser santo. Para nos encorajar,
nos dar alento na luta pela santidade, a liturgia nos oferece a leitura do Apocalipse,
livro que foi escrito com o objetivo de nos animar dentro desse ambiente opressor.
O versículo 14 dá a chave para a manutenção da luta: “Esses são os sobreviventes
da grande tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do cordeiro.”
Deus, que desde o Antigo Testamento, defendeu o povo judeu oprimido pelos egípcios,
libertando-os da escravidão, também agora, através de Jesus Cristo, nos livra da opressão
e nos liberta, para sempre, do mal. Não significa que não teremos adversidades, mas
que seremos libertos, salvos, dentro delas. Deus não nos livra dos sofrimentos, mas
nos liberta nos sofrimentos.
Ser santo é viver o batismo através de gestos
concretos de promoção da justiça e da paz, mesmo que isso nos leve a beber o cálice
que Jesus, na agonia no horto das oliveiras, pediu ao Pai que afastasse, mas logo
acrescentou; “...não se faça o que eu quero, mas, sim, o que tu queres.” Ser santo
é colocar em prática o conselho mariano: “Faz tudo o que ele mandar”. Ser santo é
deixar-se conduzir por Deus, plenamente!