Juiz de Fora, 26 out (RV) - O sofrimento, a dor, a doença não são coisas que
o ser humano deseja.
A natureza humana, por si, busca sempre o desejável, o
agradável e rejeita tudo o que não lhe traga satisfação na vida. Isso é natural. Ninguém,
pois, quer ficar doente, ninguém quer sofrer, todavia, a doença, a dor são companhias
constantes da vida. Então, como encarar a dor, a doença, o sofrimento, se tais
coisas, dia mais, dia menos, baterão às portas de nossa existência.
Bem, Viktor
Frankl, um psiquiatra judeu que esteve no campo de concentração de Auschewitz, durante
a perseguição a que nossos irmãos judeus sofreram na Alemanha Nazista, através dessa
dolorosa experiência narrada em seu livro “EM BUSCA DE SENTIDO”, criou a logoterapia,
isto é, a terapia encontrada no sentido da existência.
Relativamente ao sentido
do sofrimento afirma nos conceitos fundamentais da logoterapia:“Não devemos esquecer
nunca que também podemos encontrar sentido na vida quando nos confrontamos com uma
situação sem esperança, quando enfrentamos uma fatalidade que não pode ser mudada.
Porque o que importa, então, é dar testemunho do potencial especificamente humano
no que ele tem de mais elevado, e que consiste em transformar uma tragédia pessoal
num triunfo, em converter nosso sofrimento numa conquista humana. Quando já não somos
capazes de mudar uma situação – podemos pensar numa doença incurável, com um câncer
que não se pode mais operar – somos desafiados a mudar a nós próprios.”
No
mesmo livro, mais abaixo diz: “É preciso deixar perfeitamente claro, no entanto, que
o sofrimento não é de modo algum necessário para encontrar sentido. Ínsito apenas
que o sentido é possível mesmo a despeito do sofrimento – desde que, naturalmente,
o sofrimento seja inevitável.” (cf. na obra citada, pg. 101). Conclui Viktor Frankl:
“Se (o sofrimento) for evitável, o que faz sentido é remover a sua causa, porque o
sofrimento desnecessário é masoquismo e não ato heróico.” (cf. pg. 125)
Pela
psiquiatria se pode, pois, encontrar sentido no sofrimento inevitável, pois o ser
humano tem potencialidades que desconhecemos. Mas, quero agora, falar da superação
da dor e do sofrimento pelo exemplo de um homem, chamado Jesus Cristo. Ele ante
o sofrimento inevitável da paixão, humanamente falando quis evitá-la: “Pai, se possível,
afasta de mim esse cálice.”
Mas, em face de sua missão de Redentor do Mundo
por vontade de seu Pai, disse: “Todavia, faça-se a tua vontade” desta maneira, Jesus,
se salvou do desespero e da angústia e sofreu os maiores tormentos com uma paz, jamais
vista no homem diante da dor e do sofrimento.
Esse é o segredo que nos deixou,
se aquilo que nos ocorre é algo que não podemos evitar, temos dois caminhos a nossa
frente: revoltar-se ou aceitar o inevitável, como um dom de Deus.
Depois dizer
como Jesus: “Pai querido, se possível, afasta de mim esse sofrimento, mas que se faça,
antes o tu queres ou permites e paz será nossa companheira.” Esse segredo na mística
cristã tem um nome, chama-se “abandono”, ou seja, se aquilo que nos molesta podemos
modificar, não é hora do “abandono”, mas se estamos diante de fatos que não se alteram
nem que derramemos rios de lágrimas, a solução é aceitar como dádiva do Pai e nos
abandonarmos em suas mãos paternas e maternas.
Quero terminar, com a conhecida
oração de CHARLES DE FOUCAULD – ATO DE ABANDONO: “Meu Pai, em me entrego em tuas mãos;
meu Pai, confio-te a ti; meu Pai, em me abandono em ti; meu pai Pai, faz de mim aquilo
que quiseres; o que quer que faças a mim, eu te agradeço; obrigado por tudo; estou
pronto a tudo; aceito tudo; eu te agradeço; obrigado por tudo; estou pronto a tudo;
aceito tudo; agradeço-te por tudo. Desde que se faça a tua vontade em todas as criaturas,
em todos os teus filhos, em todos aqueles que teu coração ama, nada mais desejo, meu
Deus; entrego minha alma em tuas mãos, eu a dou, meu Deus, com todo o amor do meu
coração, porque te amo e porque me dar e uma necessidade de amor, colocar-me sem medida
entre tuas mãos com uma infinita confiança, pois tu és meu Pai.” (cf. 15 Dias de Oração
com CHARLES DE FOUCAUL – Michel Lafon - A última prece do nosso Mestre – pag. 97
– Edições Paulinas.)
Assim, em ação de graças, agradeço todas as manifestações
de amizade e de oração de todos os meus amigos, antigos diocesanos e fiéis em geral
que nos últimos dias rezaram, quando passei nove dias, na companhia mais íntima de
Nosso Senhor na Santa Casa de Juiz de Fora. Deus lhe pague muito, porque com a graça
de Deus, estou totalmente recuperado. Amém!
+ Eurico dos Santos Veloso Arcebispo
Emérito de Juiz de Fora (MG)