2009-10-24 18:51:29

SÍNODO: NAS PROPOSIÇÕES FINAIS, ÁFRICA QUER SER PROTAGONISTA DE SEU DESTINO


Cidade do Vaticano, 24 out (RV) - A II Assembléia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, que tem como tema "A Igreja na África a serviço da reconciliação, da justiça e da paz. <> (Mt 5, 13.14), concluiu seus trabalhos, esta manhã, com a apresentação e a votação das cinqüenta e sete Proposições finais.

Normalmente, o documento é reservado ao papa, que pode ou não basear-se nele para elaborar, eventualmente, uma Exortação pós-sinodal. Todavia, o papa autorizou a sua publicação.

Logo após a última Congregação, os Padres sinodais partilharam um momento de confraternização com o pontífice.

Amanhã, domingo, às 10h locais, o papa presidirá, na Basílica de São Pedro, à missa conclusiva do Sínodo. A Rádio Vaticano transmitirá a santa missa ao vivo, via satélite, para todo o Brasil e demais países de língua portuguesa cujas emissoras nos retransmitem, a partir das 6h50 (horário de Brasília).

Mas passemos ao conteúdo das Proposições finais do Sínodo:

A África que sai da Sala do Sínodo é uma África que tem voz, que quer reerguer-se e dizer basta com o ficar à margem do mundo. É uma África que quer assumir as rédeas do seu destino.

Á África que sai do Sínodo é um continente vivo que não conta somente suas chagas, mas sugere também os modos para recolocar-se em marcha. E eis os modos: as 57 Proposições finais que a Assembléia sinodal elaborou.

Inicia-se reiterando a importância da comunhão eclesial e do Sacramento da Reconciliação, porque abre o caminho para o desenvolvimento. Os Padres sinodais pedem, então, que todos os beligerantes cessem as hostilidades.

Depois, o diálogo, concretamente expresso na modalidade ecumênica, inter-religiosa e com a tradição africana. No primeiro caso, o Sínodo recorda que o cristianismo dividido constitui um escândalo e convida a Igreja a recordar a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.

Por sua vez, no que concerne ao diálogo inter-religioso, a religião não deve se prestar a fins políticos, as intolerâncias e as violências devem ser eliminadas.

Em particular, o Islã supere as discriminações e o fundamentalismo, e a Igreja enfatize a liberdade de culto e as propriedades confiscadas lhe sejam restituídas.

Quanto às religiões tradicionais africanas, não se rejeite aquilo que elas têm de bom e de santo; sugere-se o estudo científico delas; pede-se uma ação pastoral para libertar a África da chaga da feitiçaria.

Em seguida, abre-se a página dedicada à justiça, articulada em vários pontos: segurança da sociedade, com apelo aos governos para que deem fim aos homicídios e aos sequestros e redistribuam os bens, criando assim condições de vida melhores e freando a "fuga de intelectuais".

Outro ponto de destaque diz respeito à questão da eliminação da pobreza, mediante a criação de um fundo continental de solidariedade administrado pela Caritas, a anulação da dívida e dos juros.

Ademais, o tema da evangelização da África, que deve registrar uma maior difusão da Doutrina Social da Igreja; e da educação, porque também esse continente vive uma emergência educacional. Os Padres sinodais pedem que as escolas católicas sejam tuteladas em seus direitos e que o Estado as ajude.

Nas Proposições finais é também central o tema da defesa do ambiente, dos recursos naturais da África, dos bens essenciais como a água e a terra. Por isso, o Sínodo chama a atenção para a questão da exploração perpetrada pelas multinacionais, encoraja a produção de energias renováveis, evoca a defesa dos agricultores, condena a cultura do consumismo em favor de uma cultura da moderação.

Em seguida, abre-se a página da política, que contempla o combate à corrupção, defende o bom governo, a promoção do direito contra sistemas despóticos e militares em expansão. Defende que as eleições sejam livres, transparentes e seguras – diz o Sínodo – que os líderes religiosos sejam imparciais, os membros do Parlamento sejam assistidos pela Igreja.

Depois têm lugar os temas da inculturação e da evangelização, a serem levados adiante graças à ajuda dos teólogos, das pequenas comunidades cristãs, dos leigos e catequistas bem preparados, que saibam também vencer o desafio de movimentos religiosos exotéricos.

O Sínodo dedica atenção também aos sacerdotes, seminaristas e consagrados: pede-lhes que vivam o celibato como dom de Deus, que aceitem a própria vocação, que olhem para o exemplo do Cura d'Ars.

Ademais, os Padres sinodais se detêm sobre as categorias mais vulneráveis: famílias, mulheres, jovens, crianças, portadores de deficiência. Pede para todos eles uma maior inserção na sociedade; pedem o fim das violências das quais são vítimas, e um particular cuidado pastoral. É também central a questão do respeito pela diversidade étnica, que deve ser vista como unidade na diversidade, não como uniformidade.

Destaca-se, ainda, a questão da saúde, marcada pela presença da Aids, malária, droga e álcool: contra todas essas chagas, a África diz "não" a estilos de vida promíscuos que aumentam a sua difusão, defende um acesso igualitário a medicamentos a baixo custo, pede a produção de injeções, encoraja o trabalho da Igreja.

O documento final se detém também sobre os migrantes e os refugiados, que na África são 15 milhões, expressa preocupação pela criminalização das migrações e pelas políticas restritivas sobre o assunto. Dá-se igual atenção à questão dos detentos, cujos direitos fundamentais devem ser respeitados. Faz também um premente apelo em favor da abolição total e universal da pena de morte.

Algumas Proposições são dedicadas ao protocolo de Maputo, deplorando o artigo 14 do mesmo, que autoriza o aborto terapêutico, desvalorizando, de fato, também a maternidade; e à globalização, definida como ambígua e que, ao invés, deve basear-se na solidariedade.

Outra Proposição é reservada à Igreja, para que esteja mais presente na mídia e o jornalismo seja ético, distante de sensacionalismo e desinformação.

Por fim, o Sínodo confia a Igreja da África à Virgem Maria, verdadeiro modelo de reconciliação, justiça e paz.

Portanto, o "Sínodo do Novo Pentecostes" – como o definem os Padres sinodais – abre o caminho para uma África de esperança, cheia de vontade, que quer ser protagonista de seu próprio destino. E o mundo procure não se esquecer disso. (RL)







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