SÍNODO: NAS PROPOSIÇÕES FINAIS, ÁFRICA QUER SER PROTAGONISTA DE SEU DESTINO
Cidade do Vaticano, 24 out (RV) - A II Assembléia Especial para a África do
Sínodo dos Bispos, que tem como tema "A Igreja na África a serviço da reconciliação,
da justiça e da paz. <> (Mt
5, 13.14), concluiu seus trabalhos, esta manhã, com a apresentação e a votação das
cinqüenta e sete Proposições finais.
Normalmente, o documento é reservado ao
papa, que pode ou não basear-se nele para elaborar, eventualmente, uma Exortação pós-sinodal.
Todavia, o papa autorizou a sua publicação.
Logo após a última Congregação,
os Padres sinodais partilharam um momento de confraternização com o pontífice.
Amanhã,
domingo, às 10h locais, o papa presidirá, na Basílica de São Pedro, à missa conclusiva
do Sínodo. A Rádio Vaticano transmitirá a santa missa ao vivo, via satélite, para
todo o Brasil e demais países de língua portuguesa cujas emissoras nos retransmitem,
a partir das 6h50 (horário de Brasília).
Mas passemos ao conteúdo das Proposições
finais do Sínodo:
A África que sai da Sala do Sínodo é uma África que tem voz,
que quer reerguer-se e dizer basta com o ficar à margem do mundo. É uma África que
quer assumir as rédeas do seu destino.
Á África que sai do Sínodo é um continente
vivo que não conta somente suas chagas, mas sugere também os modos para recolocar-se
em marcha. E eis os modos: as 57 Proposições finais que a Assembléia sinodal elaborou.
Inicia-se
reiterando a importância da comunhão eclesial e do Sacramento da Reconciliação, porque
abre o caminho para o desenvolvimento. Os Padres sinodais pedem, então, que todos
os beligerantes cessem as hostilidades.
Depois, o diálogo, concretamente expresso
na modalidade ecumênica, inter-religiosa e com a tradição africana. No primeiro caso,
o Sínodo recorda que o cristianismo dividido constitui um escândalo e convida a Igreja
a recordar a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.
Por sua vez, no que
concerne ao diálogo inter-religioso, a religião não deve se prestar a fins políticos,
as intolerâncias e as violências devem ser eliminadas.
Em particular, o Islã
supere as discriminações e o fundamentalismo, e a Igreja enfatize a liberdade de culto
e as propriedades confiscadas lhe sejam restituídas.
Quanto às religiões tradicionais
africanas, não se rejeite aquilo que elas têm de bom e de santo; sugere-se o estudo
científico delas; pede-se uma ação pastoral para libertar a África da chaga da feitiçaria.
Em
seguida, abre-se a página dedicada à justiça, articulada em vários pontos: segurança
da sociedade, com apelo aos governos para que deem fim aos homicídios e aos sequestros
e redistribuam os bens, criando assim condições de vida melhores e freando a "fuga
de intelectuais".
Outro ponto de destaque diz respeito à questão da eliminação
da pobreza, mediante a criação de um fundo continental de solidariedade administrado
pela Caritas, a anulação da dívida e dos juros.
Ademais, o tema da evangelização
da África, que deve registrar uma maior difusão da Doutrina Social da Igreja; e da
educação, porque também esse continente vive uma emergência educacional. Os Padres
sinodais pedem que as escolas católicas sejam tuteladas em seus direitos e que o Estado
as ajude.
Nas Proposições finais é também central o tema da defesa do ambiente,
dos recursos naturais da África, dos bens essenciais como a água e a terra. Por isso,
o Sínodo chama a atenção para a questão da exploração perpetrada pelas multinacionais,
encoraja a produção de energias renováveis, evoca a defesa dos agricultores, condena
a cultura do consumismo em favor de uma cultura da moderação.
Em seguida, abre-se
a página da política, que contempla o combate à corrupção, defende o bom governo,
a promoção do direito contra sistemas despóticos e militares em expansão. Defende
que as eleições sejam livres, transparentes e seguras – diz o Sínodo – que os líderes
religiosos sejam imparciais, os membros do Parlamento sejam assistidos pela Igreja.
Depois
têm lugar os temas da inculturação e da evangelização, a serem levados adiante graças
à ajuda dos teólogos, das pequenas comunidades cristãs, dos leigos e catequistas bem
preparados, que saibam também vencer o desafio de movimentos religiosos exotéricos.
O
Sínodo dedica atenção também aos sacerdotes, seminaristas e consagrados: pede-lhes
que vivam o celibato como dom de Deus, que aceitem a própria vocação, que olhem para
o exemplo do Cura d'Ars.
Ademais, os Padres sinodais se detêm sobre as categorias
mais vulneráveis: famílias, mulheres, jovens, crianças, portadores de deficiência.
Pede para todos eles uma maior inserção na sociedade; pedem o fim das violências das
quais são vítimas, e um particular cuidado pastoral. É também central a questão do
respeito pela diversidade étnica, que deve ser vista como unidade na diversidade,
não como uniformidade.
Destaca-se, ainda, a questão da saúde, marcada pela
presença da Aids, malária, droga e álcool: contra todas essas chagas, a África diz
"não" a estilos de vida promíscuos que aumentam a sua difusão, defende um acesso igualitário
a medicamentos a baixo custo, pede a produção de injeções, encoraja o trabalho da
Igreja.
O documento final se detém também sobre os migrantes e os refugiados,
que na África são 15 milhões, expressa preocupação pela criminalização das migrações
e pelas políticas restritivas sobre o assunto. Dá-se igual atenção à questão dos detentos,
cujos direitos fundamentais devem ser respeitados. Faz também um premente apelo em
favor da abolição total e universal da pena de morte.
Algumas Proposições são
dedicadas ao protocolo de Maputo, deplorando o artigo 14 do mesmo, que autoriza o
aborto terapêutico, desvalorizando, de fato, também a maternidade; e à globalização,
definida como ambígua e que, ao invés, deve basear-se na solidariedade.
Outra
Proposição é reservada à Igreja, para que esteja mais presente na mídia e o jornalismo
seja ético, distante de sensacionalismo e desinformação.
Por fim, o Sínodo
confia a Igreja da África à Virgem Maria, verdadeiro modelo de reconciliação, justiça
e paz.
Portanto, o "Sínodo do Novo Pentecostes" – como o definem os Padres
sinodais – abre o caminho para uma África de esperança, cheia de vontade, que quer
ser protagonista de seu próprio destino. E o mundo procure não se esquecer disso.
(RL)