Cidade do Vaticano, 22 out (RV) - O terceiro dia após a Paixão, o primeiro
dia da semana, quando Jesus Cristo ressurgiu dentre os mortos, é o Domingo, o dia
do Senhor! “No primeiro dia, bem de madrugada, as mulheres foram ao túmulo levando
perfumes que tinham preparado. Encontraram a pedra removida, mas, ao entrarem não
encontraram o corpo de Jesus e ficaram sem saber o que estava acontecendo. Nisso,
dois homens com vestes resplandecentes pararam perto delas. Tomadas de medo, elas
olhavam para o chão. Eles, porém, disseram-lhes: “Por que estais procurando entre
os mortos aquele que está vivo? Não está aqui. Ressuscitou!”(Lc, 24, 1 a 6).
É
o primeiro dia da semana, que na narração do Gênesis corresponde ao dia em que foi
criada a LUZ (Gn, 1, 3).
O Domingo, primeiro dia da semana, em razão de ser
o dia em que o Senhor ressurgiu dentre os mortos, tomou, tanto no Oriente como no
Ocidente, o lugar do sábado, que na narrativa bíblica da criação do mundo foi o dia
que o Criador repousou e santificou esse dia.
É uma linguagem simbólica, pois
o Deus Criador está sempre operante, e a criação do mundo se renova a cada dia. Os
primeiros cristãos, como os narram as Escrituras, se reuniam no primeiro dia da semana
– quando se encontraram com Jesus Cristo Ressuscitado! Daí para frente, para os cristãos,
a partir do sábado à noite passou o dia de descanso, o dia do Senhor, o dia da Celebração
da Eucaristia, o dia de encontro com a sua comunidade! A Ressurreição de Cristo é
o acontecimento central da fé e da história – daí vem a nossa celebração semanal desse
encontro.
A vida toda do homem é para ser vivida como tempo de louvor e agradecimento
ao Criador e, por isso, necessita o homem de momentos explícitos de oração, nos quais
todo o seu ser é envolvido pela pessoa terna de seu Deus e Pai.
O Domingo é,
pois, o dia por excelência para que essa relação – Deus e homem – seja intensificada,
mas, também, o Domingo é o dia do repouso, no qual se interrompe toda a atividade
de trabalho para que haja recuperação dessas horas, que muitas vezes oprime o homem.
Sabemos
como em outras culturas o dia de descanso é respeitado por todos e não há nenhuma
dificuldade em sair de suas casas para louvar a Deus nesses dias consagrados!
Todavia,
na sociedade ocidental hodierna, as evoluções sócio-econômicas, a mudança cultural,
a dificuldade em viver os valores da vida cristã acabaram por modificar sensivelmente
o sentido sacro do repouso para transformá-lo, unicamente, em dia de lazer, sem qualquer
conotação com o sentido original do Domingo.
Sem deixar de reconhecer o sentido
positivo que o descanso tem para o ser humano, não podemos deixar de ver que quando
o lazer se torna o único objetivo do descanso dominical, o homem acaba por isolar-se
em seu mundo e esquece a dimensão mais sublime que é esse dia santificado pelo Senhor
– esquece o transcendente. Não se faz mais a memória dos acontecimentos que Deus nos
proporciona em nossa caminhada.
Por isso, vemos multidões de pessoas que lotam
os lugares de lazer e compras, que são os novos templos de adoração do homem, que
vagam engalanados por estímulos de compras de coisas, muitas vezes supérfluas, que
lhe deixam um vazio imenso, uma vez que seu vazio existencial não será preenchido
com coisas materiais, mas quando ele, humildemente, se volta para seu Deus e Criador.
Esquecemos que só Deus basta! É o grito que ecoa do Carmelo, cuja reformadora comemoramos
dias atrás.
Um superior geral de uma ordem dizia que gostava de passear nos
locais de compras e de consumo para ver de quanta coisa ele não precisava para ser
feliz!
Neste tempo de relativismos e negligências de nossa caminhada cristã,
é muito importante que o Domingo volte a ser o dia do Senhor, dia de descanso, é verdade,
mas dia em que o homem se volta para seu Deus e lhe agradece a vida, os bens que tem,
a saúde, a família, a alegria de viver, e isso, como comunidade orante!
O Domingo
é, pois, o dia do louvor ao Senhor, mas também de ação de graças pela vida, pelo céu,
pelo ar, pela nossa pátria, pela nossa fé.
Mesmo em países em que o Domingo
é um dia de trabalho normal, os cristãos de ontem e de hoje procuram celebrar até
de madrugada ou altas horas da noite e, ao celebrá-lo, sempre têm em mente e coração
que era o dia do Senhor que vem vindo e elevavam seu grito de esperança: “maranatha”
Vem, Senhor Jesus, vem Senhor Jesus!
O saudoso Pontífice João Paulo II, a 31
de maio de 1998 publicou a Carta Apostólica “Dies Domini”. Com grande propriedade
adverte o Servo de Deus: “Ao domingo, portanto, aplica-se, com muito acerto, a exclamação
do Salmista: “Este é o dia que Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria (118 [117],
24). Este convite à alegria, que a liturgia de Páscoa assume como próprio, traz em
si o sinal daquele alvoroço que se apoderou das mulheres – elas que tinham assistido
à crucifixão de Cristo – quando, dirigindo-se ao sepulcro “muito cedo, no primeiro
dia depois do sábado” (Mc 16,2), o encontraram vazio. É um convite a reviver, de algum
modo, a experiência dos dois discípulos de Emaús, que sentiram “o coração a arder
no peito”, quando o Ressuscitado caminhava com eles, explicando as Escrituras e revelando-Se
ao “partir do pão” (cf. Lc 24,32.35). É o eco da alegria, ao princípio hesitante e
depois incontida, que os Apóstolos experimentaram na tarde daquele mesmo dia, quando
foram visitados por Jesus ressuscitado e receberam o dom da sua paz e do seu Espírito
(cf. Jo 20,1923).
Retomemos o pensamento de João Paulo II revalorizando o domingo
como o dia do senhor. Por isso, da mesma forma, o Cristão de hoje, a cada Domingo,
sucedido por outro, caminha para o Domingo sem fim, a Pátria Celeste, a mística cidade
de Deus que, “não necessita de Sol, nem de Lua para iluminá-la, porque é iluminada
pela glória de Deus, e sua Luz é o Cordeiro” (Ap. 21,23).
Eis um programa
importante e essencial para cada domingo que nos ajuda no crescimento de nossa fé
e entusiasmo no Senhor. Que possamos testemunhar esses sinais pelas nossas vidas e
participação consciente e valorizada que o Senhor nos precede e nos ilumina pelo Seu
Espírito.
Graças a Deus, hoje, a participação entusiasta e alegre aumentou
muito em relação à participação no passado. Hoje, além do número maior de participantes,
eles exercem muitos ministérios na Igreja. Louvado seja o Senhor Jesus Cristo pelos
passos dados, e que Ele nos ajude com a sua intercessão e unidade!
Que a paz
reine em nossas fronteiras e que o Domingo nos ensine a acreditar na vida e no mundo
novo!