2009-10-22 13:08:40

DISCURSO DO PAPA BENTO XVI AOS PRELADOS DA CONFERÊNCIA DOS BISPOS LATINOS DAS REGIÕES ÁRABES (C.E.L.R.A.) POR OCASIÃO DA VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sexta-feira, 18 de Janeiro de 2008

Queridos Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio!

Sinto-me feliz por vos receber por ocasião da vossa visita "ad Limina", fortalecendo assim a vossa comunhão com o Sucessor de Pedro assim como a das Igrejas locais das quais sois Pastores. Agradeço sentidamente a Sua Beatitude Michel Sabbah, Patriarca latino de Jerusalém e Presidente da vossa Conferência Episcopal, a sua apresentação das grandes características da vida da Igreja nos vossos Países. Que a vossa peregrinação aos túmulos dos Apóstolos seja a ocasião de uma renovação espiritual das vossas comunidades, fundada sobre a pessoa de Cristo. A Conferência dos Bispos latinos das Regiões árabes encerra uma grande diversidade de situações. Com muita frequência, os fiéis, originários de numerosos países, são reunidos em pequenas comunidades, em sociedades compostas na maioria por crentes de outras religiões. Dizei-lhes quanto o Papa está espiritualmente próximo deles e que partilha as suas preocupações e esperanças. Dirijo a todos os meus votos mais afectuosos, para que vivam em serenidade e em paz.

Gostaria antes de tudo de vos reafirmar a importância que atribuo ao testemunho das vossas Igrejas locais, recordando-vos a mensagem que dirigi aos católicos do Médio Oriente, a 21 de Dezembro de 2006, para manifestar a solidariedade da Igreja universal. Na vossa região, o desencadear-se sem fim da violência, da insegurança, do ódio, tornam muito difícil a co-habitação entre todos, fazendo por vezes temer pela existência das vossas comunidades. É um desafio sério que se apresenta ao vosso serviço pastoral, que vos estimula a fortalecer a fé dos fiéis e o seu sentido fraterno, para que todos possam viver na esperança fundada na certeza de que o Senhor nunca abandona todos os que a Ele se dirigem, porque só Ele é a nossa esperança verdadeira, em virtude da qual podemos enfrentar o nosso presente (cf. Spe salvi, n. 1). Convido-vos vivamente a permanecer próximos das pessoas confiadas ao vosso ministério, apoiando-as nas provas e indicando-lhes sempre o caminho de uma autêntica fidelidade ao Evangelho no cumprimento dos seus deveres de discípulos de Cristo. Que todos, nas situações difíceis que conhecem, possam ter a força e a coragem de viver como testemunhas fervorosas da caridade de Cristo.

É compreensível que as circunstâncias obriguem por vezes os cristãos a deixar os seus países para encontrar uma terra acolhedora que lhes permita viver dignamente. Contudo, é preciso encorajar e apoiar firmemente quantos fazem a opção de permanecer fiéis à sua terra, para que não se torne um lugar arqueológico privado da vida eclesial. Desenvolvendo uma vida fraterna sólida, encontrarão uma ajuda nas suas provações. Portanto, ofereço todo o meu apoio às iniciativas que empreendeis a fim de contribuir para a criação de condições socioeconómicas apropriadas para ajudar os cristãos que permaneceram no seu país e exorto a Igreja inteira a contribuir para um apoio vigoroso para tais esforços.

A vocação dos cristãos nos vossos países assume uma importância fundamental. Como artífices de paz e de justiça, são uma presença viva de Cristo que veio para reconciliar o mundo com o Pai e para reunir todos os seus filhos que estavam dispersos. Portanto, uma comunhão autêntica e uma colaboração serena e respeitadora entre os católicos dos diversos ritos devem ser cada vez mais consolidadas e desenvolvidas. Trata-se de facto de sinais eloquentes para os outros cristãos e para a sociedade. Além disso, a oração de Cristo no Cenáculo, "Para que todos sejam um", é um convite urgente a procurar incessantemente a unidade entre os discípulos de Cristo. Portanto, estou contente ao saber que dedicais um lugar importante ao aprofundamento de relações fraternas com as outras Igrejas e comunidades eclesiais. Estas são um elemento fundamental no caminho da unidade e um testemunho prestado a Cristo, "para que o mundo creia" (Jo 17, 21). Os obstáculos ao longo do caminho da unidade nunca devem fazer diminuir o entusiasmo para tecer as condições de um diálogo quotidiano que é prelúdio da unidade.

O encontro com os membros das outras religiões, judeus e muçulmanos, é para vós uma realidade quotidiana. Nos vossos países, a qualidade das relações entre os crentes assume um significado totalmente particular, sendo ao mesmo tempo testemunho prestado ao Deus único e contribuindo para a instauração de relações mais fraternas entre as pessoas e entre as diversas componentes das vossas sociedades. Portanto, é necessário um melhor conhecimento recíproco e favorecer um respeito cada vez maior da dignidade humana, da igualdade dos direitos e dos deveres das pessoas e uma atenção renovada às necessidades de cada um, sobretudo dos mais pobres. Além disso, faço ardentes votos por que uma autêntica liberdade religiosa seja efectiva em toda a parte e por que o direito de cada um de praticar livremente a própria religião, ou de a mudar, não seja impedido. Trata-se de um direito primordial de cada ser humano.

Queridos irmãos, o apoio às famílias cristãs, que devem enfrentar numerosos desafios, como o relativismo, o materialismo e todas as ameaças contra os valores morais familiares e sociais, deve permanecer uma das vossas prioridades. Convido-vos em particular a prosseguir os vossos esforços para oferecer uma sólida formação aos jovens e aos adultos, a fim de os ajudar a fortalecer a sua identidade cristã e a enfrentar corajosa e serenamente as situações que se lhes apresentam, no respeito das pessoas que não partilham as suas convicções.

Conheço o compromisso das vossas comunidades no âmbito da educação e da saúde e no serviço social, compromisso apreciado pelas autoridades e pela população dos vossos países. Nas vossas condições, desenvolvendo os valores de solidariedade, de fraternidade e de amor recíproco, anunciai às vossas sociedades o amor universal de Deus, em particular pelos mais pobres e necessitados. De facto, "o amor na sua pureza e na sua gratuidade é o melhor testemunho do Deus no qual cremos e pelo qual somos estimulados a amar" (Deus caritas est, 31). Presto homenagem também ao compromisso corajoso dos sacerdotes, dos religiosos e das religiosas, para assistir as vossas comunidades na sua vida quotidiana e no seu testemunho. O apoio humano e espiritual deve ser uma preocupação fundamental vossa, que sois os Pastores.

Por fim, desejo expressar de novo a minha proximidade a todas as pessoas que, na vossa região, sofrem numerosas formas de violência. Podeis contar com a solidariedade da Igreja universal. Faço também apelo à sabedoria de todos os homens de boa vontade, em particular de quantos ocupam responsabilidades na vida colectiva, para que, privilegiando o diálogo entre todas as partes, cesse a violência, se instaure em toda a parte uma paz verdadeira e estável, e se estabeleçam relações de solidariedade e de colaboração. Ao confiar cada um dos vossos países e todas as vossas comunidades à intercessão materna de Maria, imploro a Deus para que a todos proporcione o dom da paz. Concedo-vos de coração uma afectuosa Bênção Apostólica, que faço extensiva aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas e a todos os fiéis das vossas dioceses.







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