2009-10-22 13:35:36

DISCURSO DO PAPA BENTO XVI AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DOS CAMARÕES EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sábado, 18 de Março de 2006

Senhor Cardeal
Queridos Irmãos no Episcopado!

Sinto-me feliz por vos dar as cordiais boas-vindas, por ocasião da vossa peregrinação aos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, saudando de modo especial quantos realizam este ano a sua primeira visita ad Limina. Viestes para vos encontrardes com o Sucessor de Pedro a fim de reconfirmar os vínculos de comunhão que vos unem a ele. Durante os nossos encontros, prestei atenção às vossas alegrias e às vossas preocupações de Pastores da Igreja nos Camarões.

Garanto-vos a minha oração pelo vosso ministério episcopal e pelas vossas comunidades diocesanas. Que a vossa estadia fortaleça o vosso dinamismo missionário e faça crescer entre vós a unidade na caridade, para guiar com justiça e segurança os fiéis confiados à vossa solicitude pastoral!

Agradeço ao Presidente da vossa Conferência Episcopal, D. Simon-Víctor Tonyé Bakot, Arcebispo de Iaundé, as palavras cordiais e a apresentação que fez dos desafios que hoje a Igreja nos Camarões enfrenta. Quando regressardes às vossas comunidades, transmiti aos vossos diocesanos a saudação afectuosa do Papa, que os convida a deixar-se renovar interiormente por Cristo, para darem um testemunho de fraternidade e de comunhão que interpele cada vez mais a sociedade actual.

A vida da Igreja nos Camarões foi marcada no ano passado pelo 10º aniversário da Exortação apostólica pós-sinodal Ecclesia in Africa, assinada em Iaundé em Setembro de 1995 pelo Papa João Paulo II. Este momento de graça, vivido na fé e na esperança, revelou uma real solidariedade pastoral orgânica em todo o continente africano, manifestada sobretudo pelos trabalhos fecundos e estimulantes da Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos. Faço votos por que as intuições eclesiológicas e espirituais contidas nesse texto, verdadeiros antídotos ao desencorajamento e à resignação, suscitem nas vossas comunidades, assim como na Conferência Episcopal, um impulso novo, para realizar a missão salvífica que a Igreja recebeu de Cristo. Trata-se de fazer penetrar o Evangelho em profundidade nas culturas e nas tradições do vosso povo, caracterizadas pela riqueza dos seus valores humanos, espirituais e morais, sem deixar de purificar essas culturas, através de uma necessária conversão de tudo o que, nelas, se opõe à plenitude da verdade e da vida que se manifesta em Jesus Cristo. Isto exige também que seja anunciada e vivida a Boa Nova iniciando sem receio um diálogo crítico com as culturas novas relacionadas com o emergir da mundialização, para que a Igreja lhes transmita uma mensagem cada vez mais adequada e credível, permanecendo fiel ao mandamento que recebeu do seu Senhor (cf. Mt 28, 19).

Os vossos relatórios quinquenais realçam o contexto económico e social desfavorável, que faz crescer o número das pessoas em grande precariedade, enfraquecendo o vínculo social e originando a perda de um certo número de valores tradicionais, tais como a família, a partilha, a atenção às crianças e aos jovens, o sentido da gratuidade, o respeito dos idosos. A ofensiva das seitas, que se aproveitam da ingenuidade dos fiéis para os afastar de Cristo e da Igreja, as diferentes práticas de religiosidade popular que florescem nas comunidades e que seria oportuno purificar incessantemente, assim como as devastações da Sida, são os desafios actuais aos quais estais convidados a dar respostas teológicas e pastorais claras, a fim de evangelizar em profundidade o coração dos homens e para despertar a sua consciência. Nesta perspectiva, seria bom ajudar todos os membros da Igreja sem excepções a desenvolver uma familiaridade cada vez maior com Cristo, alimentada pela Palavra de Deus, mediante uma vida de oração intensa, e uma vida sacramental regular. Faço votos por que possais guiá-los pelos caminhos de uma fé mais adulta e sólida, capaz de transformar profundamente os corações e as consciências, a fim de fazer nascer relacionamentos sempre mais fraternos e solidários entre todos.

Compete-vos, mediante a palavra e o testemunho de vida, convidar os homens à descoberta de Cristo na força do Espírito e confirmá-los na fé viva. Faço fervorosos votos por que a riqueza das vossas pregações, a preocupação por promover uma catequese estruturada e garantir uma formação inicial e permanente exigente para os catequistas, o vosso apoio à pesquisa teológica, assim como a solicitude que dedicais ao vosso ministério de santificação, possam promover um renovado impulso de santidade nas comunidades. Os cristãos poderão assumir as suas tarefas e agir com competência nos campos da vida social, da política e da economia,propondo aos seus compatriotas uma visão do homem e da sociedade conforme com os valores humanos fundamentais e com os ensinamentos da doutrina social da Igreja.

A Igreja está chamada a tornar-se cada vez mais uma casa e uma escola de comunhão. Nesta perspectiva o trabalho realizado em comum, em espírito de caridade, na vossa Conferência Episcopal, composta por Bispos de língua francesa e inglesa, é em si um eloquente sinal desta unidade que vós viveis, e ajuda a prosseguir a evangelização do vosso povo marcado por diferenças étnicas. Encorajo-vos a continuar nesta direcção, mostrando com as vossas palavras e com os vossos escritos que a Igreja católica se preocupa pela promoção do bem-estar e da dignidade de todos os habitantes dos Camarões, sem excepções, e pela realização das suas profundas aspirações à unidade, paz, justiça e fraternidade.

Alegro-me pelo número crescente de sacerdotes e de seminaristas no vosso país, e dou graças também pelo trabalho paciente dos missionários que os precederam, dedicando-se com generosidade e espírito apostólico para edificar comunidades capazes de suscitar nelas vocações sacerdotais. A busca da unidade ao serviço da missão convida-vos a estar atentos aos vínculos de comunhão fraterna com os sacerdotes. Encorajo também os vossos sacerdotes a deixarem-se renovar pela caridade pastoral que os deve guiar, a eles que, mediante a Ordenação, estão configurados com Cristo Cabeça e Pastor. Cada um medite sobre o dom total que fez de si mesmo a Deus e à Igreja, à imagem do dom de Cristo, e sobre as exigências que a caridade pastoral requer, principalmente sobre a necessidade de uma vida casta vivida no celibato, em conformidade com a lei da Igreja, sobre uma prática justa da autoridade e sobre um relacionamento sadio com os bens materiais. Compete-vos apoiá-los na sua vida sacerdotal, mediante a proximidade e o exemplo, recordando que "se o múnus episcopal não assenta sobre o testemunho da santidade manifestada na caridade pastoral, na humildade e na simplicidade de vida, acaba por se reduzir a um papel quase só funcional e perde inevitavelmente credibilidade junto do clero e dos fiéis" (Pastores gregis, 11). Não são as nossas acções pastorais, mas sim a doação de nós mesmos e o testemunho de vida que revelam o amor de Cristo pelo rebanho.

Nos vossos relatórios quinquenais realçais os maiores desafios que se apresentam à família. Ela sofre plenamente os efeitos devastadores de uma sociedade que propõe modelos de comportamentos que com frequência a debilitam. Por isso, seria bom promover uma pastoral familiar que ofereça aos jovens uma educação afectiva e moral exigente, preparando-os para se comprometerem a viver o amor conjugal de modo responsável, condição tão importante para a estabilidade das famílias e de toda a sociedade. Mediante uma formação inicial e permanente, espero que possais fazer com que as famílias cristãs compreendam a grandeza e a importância da sua vocação, convidando-as incessantemente a viver a sua comunhão através da fidelidade quotidiana à promessa do dom recíproco total, único e exclusivo que o matrimónio exige.

A Igreja nos Camarões tem a solicitude constante de manifestar de modo específico e eficaz a caridade de Cristo para com todos nos diferentes âmbitos do desenvolvimento, da promoção humana, da justiça, da paz e da saúde, realçando o vínculo estreito entre a evangelização e a acção social. Aprecio as iniciativas promovidas nesta perspectiva, congratulando-me com os cristãos que nela estão comprometidos, sobretudo no campo da pastoral da saúde, realçada de modo particular por ocasião da Jornada Mundial do Doente, realizada no ano passado em Iaundé. Este acontecimento contribuirá certamente para tornar cada vez mais visíveis à opinião pública o empenho pastoral e a missão da Igreja junto dos doentes e na educação para a saúde de base, para suscitar colaborações fecundas com os parceiros que trabalham no campo da saúde.

Amados Irmãos no Episcopado, no final do nosso encontro, desejo encorajar-vos a prosseguir a obra de evangelização no vosso país. Convido-vos também a prosseguir, num espírito de diálogo sincero e paciente, vivido na verdade e na caridade, a consolidação de ralacionamentos fraternos com as outras confissões cristãs e com os crentes de outras religiões, para manifestar o amor de Cristo Salvador que faz surgir entre os homens o desejo de viver em paz e de formar um povo de irmãos! A Igreja nos Camarões, nesta região da África Central tão martirizada pelas guerras, permanece um sinal cada vez mais evidente desta paz a ser edificada, uma paz que ultrapassa os fechamentos de identidade ou étnicos, que proscreve a tentação da vingança ou do ressentimento, e que estabelece entre os homens relacionamentos novos, fundados na justiça e na caridade!

Confio todos vós à intercessão da Virgem Maria, Estrela da evangelização, e concedo-vos de bom grado, assim como aos sacerdotes, diáconos, religiosos, religiosas e a todos os fiéis leigos das vossas Dioceses, uma particular Bênção Apostólica.







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