2009-10-20 17:33:43

Intervenção de Dom Fortunato BALDELLI, Arcebispo titular de Bevagna, Penitenciário-Mor


S. E. R. Dom Fortunato BALDELLI, Arcebispo titular de Bevagna, Penitenciário-Mor (CIDADE DO VATICANO)
Intervenção entregue por escrito mas não lida na Aula.

Agradeço a Deus pela experiência de Igreja que estamos vivendo nestes dias no Sínodo providencialmente convocado pelo Santo Padre como resposta a um pedido do episcopado africano.
Na Assembleia sinodal são expressas as ânsias e as esperanças, os problemas e as expectativas dos povos da África e, de certo modo, os povos da Terra. É a primeira vez que tenho a honra de participar de um encontro eclesial de grande importância.
Mesmo na grande diversidade de situações e contextos sociais, políticos e económicos, a Igreja de Deus na África está se demonstrando sempre mais consciente de sua identidade peculiar e de sua vocação neste delicado momento histórico do Planeta. Como sugere o tema deste Sínodo, a Igreja africana, em suas várias articulações, esta tomando clara consciência de sua função insubstituível na promoção da reconciliação, da justiça e da paz. A difícil situação internacional, as dificuldades internas do Continente, os conflitos raciais, religiosos e políticos, as emergências sanitária e alimentar, em suas dramaticidades interpelam a Igreja em primeira pessoa e pedem aos Cristãos coragem e compromisso, testemunho e partilha.
O itinerário da reconciliação, da justiça e da paz é longo e delicado: requer paciência, sabedoria e sagacidade, mas sobretudo, requer fundamentar-se na rocha da fé, de pôr as asas da esperança e se deixar levar pela secreta energia da caridade. A paz será fruto da justiça e a justiça se realiza apoiando as razões dos últimos e dos pobres. Não existirá reconciliação verdadeira e duradoura se não forem curadas as raízes, às vezes seculares, dos conflitos e das injustiças, se não forem curadas as relações entre os grupos e entre as etnias, se não forem regenerados os corações das pessoas. A Igreja na África é chamada a manifestar a sua natureza de comunidade reconciliada e reconciliadora “a fim de aliviar as feridas das sociedades dilaceradas pelas experiências de violência, de conflitos e de guerras” (Instr. Lab. n 86).
No Instrumentum de trabalho se indicam, muito oportunamente, os meios sobrenaturais que o Senhor oferece aos seus filhos neste caminho fatigoso, mas enaltecedor: a presença vivificadora de Cristo, a Palavra de Deus e os sacramentos. Gostaria de ressaltar o que diz o número 86 sobre o sacramento da Reconciliação: “Fiel ao seu ministério de reconciliação do homem com Deus e dos homens entre si, a Igreja assegura aos seus filhos e filhas o serviço do sacramento da penitência, da reconciliação e do perdão. Pela prática habitual deste sacramento, os cristãos testemunham que aprendem a olhar em face suas vidas para confessar a experiência da misericórdia e da bondade de Deus diante da sua miséria, seu pecado, suas faltas de amor”.
É tarefa dos Pastores ajudar os fiéis a penetrar e viver a realidade profunda do sacramento da Reconciliação como momento significativo de seu caminho de conversão e como expressão pessoal da missão reconciliadora da Igreja. A obra de reconciliação passa sempre através do coração do homem, de todo homem porque a paz é um dom de Deus confiado à responsabilidade dos homens e somente a graça santificadora de Cristo - pelo ministério da Igreja - pode regenerar o coração dos fiéis e torná-los criaturas novas, artífices de paz, testemunhas da justiça. Os fiéis devem ser educados a olhar com sinceridade a sua vida na luz da verdade, a se abrirem com confiança aos sacerdotes, a celebrar frequentemente o sacramento da reconciliação, a levar frutos de conversão com sua vida reconciliada. Será importante estar atento a não criar confusão na consciência dos fiéis com ensinamentos e opiniões divergentes, na teologia, na pregação, na catequese, na direcção espiritual, em relação a questões graves e delicadas da vida cristã.
O cuidado com o aspecto celebrativo, dando adequada importância à Palavra de Deus proclamada e explicada e adaptando oportunamente o ritual à mentalidade e à cultura dos diferentes povos africanos, ajudará a vivificar a prática do sacramento e a impedir que termine num gesto formalístico e avulso da vida e do compromisso cotidiano do Cristão.
A este propósito, como sugere o Instrumento de trabalho - pode ser frutuoso do ponto de vista catequético e pastoral, em particular circunstâncias, realizar celebrações comunitárias do sacramento da Reconciliação. A celebração comunitária da Reconciliação - lê-se na exortação pós-sinodal Reconciliatio et Poenitentia - “por causa de seu caráter comunitário e pela modalidade que a distingue, ressalta alguns aspectos de grande importância: a palavra de Deus ouvida em comunhão tem um efeito singular em relação à sua leitura individual, e sublinha melhor o caráter eclesial da conversão e da reconciliação” (Reconc. et Poeniten., nº 32). A celebração comunitária do sacramento da reconciliação, segundo as normas estabelecidas pela Igreja deve, porém, encontrar o seu ápice na confissão e absolvição individual dos penitentes, e nem pode ofuscar de nenhum modo a celebração individual do sacramento como momento de encontro pessoal com a graça da conversão. A reconciliação de cada penitente é, de fato, o “único modo normal e habitual da celebração sacramental” (ibid.).
Os sacerdotes, em particular, devem ser preparados, desde os anos de sua formação, a celebrar pessoalmente e frequentemente o sacramento da reconciliação e, não obstante as múltiplas incumbências pastorais, devem estar disponíveis a acolher os fiéis desejosos de se encontrar sacramentalmente com a misericórdia de Deus. Na formação dos sacerdotes, assim como dos religiosos e das religiosas se deve, portanto, cuidar de transmitir aos jovens a doutrina católica sobre o sacramento da penitência, mostrando as raízes bíblicas e patrísticas, e cuidar para que nas casas de formação estejam à disposição confessores prudentes e fervorosos.
Acreditamos que será de grande ajuda à Igreja na África, nas responsabilidades que a esperam no futuro, repropor aos fiéis a saudável doutrina católica da reconciliação como um evento de graça que brota da reconciliação com Deus, que leva à reconciliação com si mesmos, que abre novos caminhos com os irmãos e com as irmãs, seja qual for, e que se estende para abraçar numa renovada harmonia toda a criação.







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