A reflexão dominical do Pe. Cesar Augusto dos Santos para a liturgia de domingo, 18
de outubro: Reflexão para o 29º Domingo do Tempo Comum – Ano B
A liturgia
nos convida, especialmente hoje, a um exame de consciência em relação ao nosso modo
de nos relacionarmos com nossos irmãos. Deus é o único Pai, o único Mestre, o único
Senhor e, para nos ensinar como queria que fôssemos, como deverá ser a nova sociedade,
se fez servo, servo de todos. Assim, seremos mais cristãos, mais semelhantes a Jesus
Cristo, à medida em que tomarmos posição de servos e nossa vida for um serviço, através
de nossas ações e de nosso modo de ser, isto é, do modo de tratar as pessoas, de nos
vestir, de nos postar. No Evangelho Jesus diz aos seus discípulos que eles não
devem seguir os exemplos dos líderes que gostam de serem tratados como senhores, ao
contrário, os discípulos, quanto mais alta a função, deverão vivê-la na atitude de
servo, não apenas nas ações, mas em todos os sentidos. Desejar ocupar os primeiros
lugares, receber cumprimentos cerimoniosos, usar roupas luxuosas, ser chamado por
títulos honoríficos, tudo isso deverá estar longe do coração e da vida do autêntico
discípulo. Jesus propõe: “... entre vós não deve ser assim: quem quiser ser grande,
seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos.” O servo
está sempre disponível, acessível ao seu senhor, de prontidão. Jesus condena a atitude
dos mestres que permitem ou até exigem que seus discípulos lhes lavem os pés, ao contrário
será ele a lavar os pés dos discípulos. Inclusive irá vivenciar isso de modo excepcional
na cruz, quando nos lavará a todos do pecado. Como poderei ser servo? Se sou casado,
não me considerar superior ao meu cônjuge; se desempenho uma profissão de prestígio,
não por isso considerar-me superior aos outros; se sou comerciante, não visar só meu
lucro, mas apresentar boa mercadoria e com preço justo; se sou um religioso, ser acessível,
disponível, simples e misericordioso no trato com os fiéis; enfim, o cristão segue
em tudo a pessoa do Mestre. Devo aprender com o episódio dos filhos de Zebedeu.
O batismo me introduziu em uma nova sociedade. É necessário permitir ao Espírito Santo
que construa em minha vida um novo homem, uma nova mulher. Minha alegria deverá estar
não em posicionamentos de honra segundo este mundo caduco, mas com o mundo dos ressuscitados
no batismo. Aceitar beber o cálice de Jesus, receber o seu batismo significa aceitar
sofrer por causa da justiça, da verdade, pela construção de uma nova humanidade. Conforta-nos
as palavras do autor da Carta aos Hebreus, em um trecho anterior ao proposto hoje
à nossa reflexão, quando escreve: “...embora fosse Filho de Deus, aprendeu, com o
seu sofrimento, como é difícil para o homem obedecer e aceitar a vontade de Deus”.
Isso nos conforta ao reconhecermos como nos é difícil sermos servos e também faz sermos
compreensivos com tantas pessoas, especialmente com aquelas que são religiosas. Por
outro lado, sirva-nos de exemplo e elevação a Deus, para glorificá-lo, o que foi relatado
por uma agente da saúde, de Campala, Uganda, na sala do Sínodo: um grupo de doentes
de AIDS, gente muito pobre, que sobrevive vendendo pedras para construtores, quando
soube das devastações causadas pelo furacão Kathrina, nos EUA, e do recente terremoto
na região do Abruzzo, fez uma coleta de dinheiro e enviou às cidades italianas e americanas
atingidas. Por quê? “Porque o coração do homem é internacional, não tem raça e nem
cor”, disse Rose. “Vi um povo nascer e mudar na fé” – disse. “Estas pessoas quebram
pedras e comem uma vez por dia. Quando pedimos para rezarem pelas vítimas destas tragédias,
responderam que sabiam muito bem o que significa viver sem casa e sem comida. “Se
pertencem a Deus, pertencem a nós também”... Assim, organizaram-se em grupos, quebraram
mais pedras, e no final, haviam recolhido dois mil dólares, que enviaram à embaixada
americana”. “Este ano – continuou Rosa – depois do terremoto em Aquila, eles disseram:
“É na Itália, o país do papa: são nossos amigos, são a nossa tribo”. Concluamos
nossa reflexão com a palavra de Jesus: “ Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra,
porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos.”
Mt 11, 25. Ouça aqui