Relatório em vista do dia mundial da alimentação assinala que nenhuma nação está
livre da fome
(15/10/2009) A fome afecta hoje 1,02 mil milhões de pessoas - quase um décimo da
população mundial -, segundo o relatório da FAO, agência da ONU para a Agricultura
e a Alimentação, divulgado, em Roma. "Nenhuma nação está livre e, como sempre,
são os países mais pobres - e as populações mais desprotegidas - os que mais sofrem",
lamenta Jacques Diouf, director geral da FAO, num relatório elaborado em conjunto
com o Programa Mundial Alimentar (PMA) e apresentado dois dias antes do Dia Mundial
da Alimentação, que se assinala amanhã. A maior parte das pessoas desnutridas encontra-se
na região Ásia-Pacífico (642 milhões), seguida da África subsaariana (265 milhões),
América Latina (53 milhões) e da região que compreende o Oriente Médio e o norte de
África (42 milhões). Nos países desenvolvidos, 15 milhões de pessoas sofrem com a
fome. O documento agora divulgado sublinha que esta tendência já se verificava
mesmo antes da crise económica mundial ter levado o número de famintos a ultrapassar
a barreira dos mil milhões. Após os êxitos na luta contra a fome nos anos 1980
e início da década de 1990, o número de desnutridos começou a aumentar em 1995, atingindo
1,02 mil milhões este ano devido ao efeito combinado dos elevados preços da alimentação
e à crise financeira mundial, diz a FAO. "Na luta contra a fome o foco devia ser
posto no aumento da produção de alimentação", afirmou Jacques Diouf. "É senso comum
(que) devia ser dada prioridade à agricultura, mas o oposto aconteceu", adiantou.
Em 1980, 17% do apoio de países doadores foi para o sector agrícola, parcela que desceu
para 3,8% em 2006 e só subiu ligeiramente nos últimos três anos, afirmou Diouf. A
FAO, que recebe uma cimeira mundial sobre alimentação no próximo mês, afirma que a
produção de alimentos tem de aumentar 70% para nutrir a projectada população de 9,1
mil milhões em 2050. Para alimentarem as respectivas populações, os países pobres
vão precisar de 29,8 mil milhões de euros anuais de apoio para a agricultura. Actualmente,
esse apoio é de 7,9 mil milhões de dólares. Segundo a FAO, os pobres residentes
em zonas urbanas têm mais dificuldade para enfrentar a recessão mundial, já que a
queda nas exportações e a redução do investimento externo directo levaram ao aumento
do desemprego urbano.