SÍNODO: LINHAS-MESTRAS EM VISTA DOS DOCUMENTOS FINAIS DA ASSEMBLEIA
Cidade do Vaticano, 14 out (RV) - Os trabalhos sinodais prosseguiram nesta
quarta-feira com os chamados Círculos menores. O Sínodo dos Bispos para a África,
que se realiza no Vaticano de 4 a 25 deste mês, tem como tema "A Igreja na África
a serviço da reconciliação, da justiça e da paz".
O programa para as atividades
de hoje previa o debate, a portas fechadas, sobre o "Relato após a discussão". O documento
foi apresentado na tarde de ontem pelo relator-geral do Sínodo, o cardeal ganense
Peter Turkson.
No texto, o purpurado resumiu os temas principais que emergiram
até então na Sala do Sínodo e indicou as linhas-mestras sobre as quais os prelados
deverão trabalhar, em vista dos documentos finais da Assembléia.
O Cardeal
Turkson apresentou uma Igreja africana orgulhosa de suas origens apostólicas e de
seus antepassados na fé. Uma Igreja que, para tornar mais forte a sua tarefa de reconciliação,
deve repensar o seu modo de ser e de agir, atenta à verdade e fiel à sua missão.
A
Igreja-família de Deus na África deve ser transformada a partir de dentro e deve transformar
o continente – continuou o purpurado.
Assim sendo, o seu apostolado compreenderá,
então, vários aspectos e o relator-geral indicou alguns: libertar a população africana
de todo medo, inclusive o medo provocado pela magia e pelo ocultismo; assegurar a
formação em todos os campos, da catequese aos meios de comunicação social, da política
à cultura; desafiar um passado de colonialismo e exploração; resistir às ameaças da
globalização.
Em seguida, o Cardeal Turkson chamou a atenção para a questão
das migrações, evocando também a questão das legislações dos países ocidentais, e
convidou os Padres sinodais a examinarem o tema da "etnicidade", que pode desenvolver
atitudes de exclusão e destruir as comunidades, transformando-se quase numa forma
de racismo.
O relator-geral do Sínodo citou as sombras que recaem sobre a sociedade
africana no campo da família, ameaçada pela ideologia do "gênero", pela nova ética
sexual global, pela engenharia genética, e atacada pela saúde reprodutiva e por estilos
de vida "alternativos" ao matrimônio entre homem e mulher.
O purpurado observou
também que existem "sombras" que a Igreja pode ver como desafios e oportunidades para
crescer.
O relator-geral do Sínodo dedicou espaço também para as mulheres,
ainda à margem da cultura africana. Os Padres sinodais ouviram o seu grito, disse
o Cardeal Turkson.
A Igreja-família de Deus é convidada a fazer algo contra
as graves injustiças perpetradas contra elas, como a poligamia, violências domésticas,
discriminações no direito de herança, matrimônios forçados. Elas precisam ser reconhecidas,
tanto na sociedade como na Igreja, como membros ativos.
Outro apelo foi dirigido
em favor das crianças, "a parte mais sofredora da população africana – disse o relator-geral
– que sofrem abusos, são obrigadas à guerra, e se veem negar seu direito à educação.
O
mesmo cuidado foi reservado aos jovens, ressaltando a escassez de políticas governamentais
sobre a educação e o trabalho a eles dirigidas.
O purpurado destacou também
a necessidade de um exercício responsável do poder por parte dos líderes africanos,
que devem tomar distância da corrupção, respeitar os governos democráticos, sem tolerar
os golpes de Estado.
Os episcopados africanos têm também um grande interesse
em reforçar a sua presença nas organizações continentais, como a União Africana, em
harmonia com a ação da Santa Sé, para estimular e garantir iniciativas de reconciliação,
justiça e paz – recordou o Cardeal Turkson.
Ademais, o purpurado ressaltou
que não se perdeu de vista a pandemia da Aids, mas que a Igreja se empenha no esforço
de reduzir a visão social negativa das pessoas por ela atingidas. Foi feito um apelo
a fim de que na África os doentes recebam os mesmos tratamentos oferecidos na Europa.
Em
seguida, a atenção se voltou para o pedido a se colocar um freio na fabricação de
armas, a se evitar uma guerra pela água, a promover meios de comunicação locais que
não instrumentalizem a África.
Por fim, o purpurado ganense disse "não" à ganância
das multinacionais que querem apropriar-se dos recursos naturais da África, desencadeando
conflitos não oriundos, portanto, do tribalismo. O relator-geral do Sínodo defendeu
a necessidade de um quadro jurídico internacional que garanta o controle destas empresas
e das indústrias de extração.
O purpurado pediu uma formação ativa com os muçulmanos
de boa vontade, de modo a reduzir as tensões.
O Cardeal Turkson resume tudo
em vinte e cinco perguntas. Cabe agora aos Círculos menos encontrar as respostas adequadas
das quais nascerão, depois, as Proposições finais. (RL)