SÍNODO PARA A ÁFRICA: APELO EM FAVOR DA ABOLIÇÃO TOTAL DA PENA DE MORTE
Cidade do Vaticano, 12 out (RV) - Os golpes de Estado "silenciosos" e a exigência
de um "bom governo" nortearam, esta manhã, a décima primeira Congregação geral do
Sínodo dos Bispos para a África, em andamento no Vaticano sobre os temas da reconciliação,
da justiça e da paz.
Os prelados refletiram – na presença de Bento XVI – também
sobre os temas da migração e sobre as relações com as religiões africanas. Na conclusão
dos trabalhos foi reiterado, na Sala do Sínodo, o apelo em favor da abolição total
da pena de morte.
Tratou-se um premente apelo em favor da abolição total e
universal da pena de morte: os Padres sinodais reiteraram e recordaram que a voz da
Igreja é mais do que nunca necessária diante de crimes como o tratamento brutal dado
aos prisioneiros de guerra, o assassinato de civis nos conflitos, e o recrutamento
de meninos-soldados.
Segundo os Padres sinodais, o caminho da reconciliação
passa pela rejeição a tais violências porque a guerra não é uma justificação para
os crimes contra a humanidade.
Em seguida, partindo do caso da África do Sul,
os prelados refletiram sobre os golpes de Estado "silenciosos" perpetrados por partidos
até mesmo eleitos regularmente pelo povo, mas que depois não ouvem a sua voz, identificando-se
totalmente com o Estado, não querendo uma alternância democrática no poder.
Por
isso foi reiterada a urgência de reformas por um sistema de justiça equânime, porque
o "bom governo" não é somente uma prioridade, mas uma necessidade.
Nesse âmbito,
a Igreja tem o direito de fazer ouvir sua voz: não se trata de interferência no campo
político, observam os Padres sinodais, porque a Igreja fala em defesa dos direitos
dos homens, filhos de Deus.
Os pastores não querem tomar o lugar dos economistas
ou dos políticos, mas somente ajudar todos os fiéis a viverem uma vida mais autenticamente
cristã.
Em seguida, o Sínodo para a África voltou a sua atenção para a questão
das migrações internas, que envolvem ao menos 40 milhões de pessoas e fez votos de
que todas as Conferências episcopais africanas criem uma pastoral para a mobilidade
humana, envolvendo também quem emigrou para o exterior, quem encontrou um trabalho
e agora pode ajudar o próprio país de origem.
Foi também dada uma atenção central
às religiões tradicionais africanas, que constituem a matriz para forjar uma cultura
de reconciliação.
Em seguida, os Padres sinodais fizeram algumas sugestões:
instituir um fundo de solidariedade diocesano, regional e continental, administrado
pela Caritas, que ajude a África desvinculando-a das ajudas do Ocidente; criar faculdades
universitárias para a paz e a reconciliação; promover a devoção à Divina Misericórdia
que pode favorecer o diálogo com o Islã.
Ademais, os prelados pedem uma reflexão
atenta para o dramático fenômeno da feitiçaria, que mantém muitas pessoas discriminadas,
isoladas, vítimas de violências porque acusadas de poderes sobrenaturais.
Os
prelados pedem também atenção pelos jovens de modo que, através de uma maior difusão
da Doutrina Social da Igreja, aprendam a trabalhar pela paz.
Além disso, pedem
que o Sacramento da Reconciliação ocupe m lugar mais importante nos planos pastorais.
Em
seguida foi dado espaço à questão da situação das mulheres e das crianças: para as
mulheres pede-se um maior envolvimento nas Comissões Justiça e Paz; para as crianças,
sobretudo para as crianças órfãs vítimas da guerra, se faz votos de um sempre maior
acolhimento em todas as estruturas eclesiásticas, por que muitas vezes essas crianças
têm somente a Igreja para chamar de "Mãe".
Por fim, os Padres sinodais olham
para a frente e sugerem que a Assembléia especial para a África se concentre na formação
dos sacerdotes porque o futuro desse continente depende também deles.
A propósito
da realidade do continente africano e do seu futuro, do modo de ser e de viver do
seu povo, eis o que nos disse o bispo moçambicano de Chimoio, Dom Francisco João Silota,
respondendo a uma questão específica que apresentamos ao prelado africano. Ouçamos:
(RL)