SÍNODO PARA A ÁFRICA: CONCLUÍDA PRIMEIRA SEMANA DE TRABALHOS
Cidade do Vaticano, 10 out (RV) - Concluiu-se esta manhã, com a décima Congregação
geral, a primeira semana de trabalhos do II sínodo dos Bispos para a África, em andamento
no Vaticano sobre os temas da reconciliação, da justiça e da paz.
No início
desta noite, às 18h locais, os Padres sinodais se deslocaram para a Sala Paulo VI,
no Vaticano, onde participam da Oração do Terço "com a África e para a África", conduzida
pelo Santo Padre, junto a alunos das universidades romanas.
Jovens de nove
países africanos participaram da oração mariana com o papa em conexão via satélite.
Os nove países cujos jovens participaram em conexão foram os seguintes: Egito, Quênia,
Sudão, Madagascar, África do Sul, Nigéria, República Democrática do Congo, Moçambique
e Burquina Faso.
Mas voltemos ao Sínodo propriamente dito. Durante os trabalhos
sinodais desta manhã, refletiu-se sobre o papel primário da família como instrumento
de paz, sobre a defesa das mulheres e sobre a tutela dos emigrados.
Se educamos
um homem, educamos um indivíduo, mas se educamos uma mulher, educamos uma família
e, através dela, uma nação inteira. Essa reflexão sintetizou bem a importância que
o Sínodo dos Bispos reservou, durante os trabalhos deste sábado, para a defesa da
família e das mulheres. Porque é delas que o processo de paz tem início.
De
fato, no núcleo familiar, entendido como "Igreja doméstica", se nutrem e se partilham
os valores espirituais necessários para a reconciliação. Portanto, não à violência
contra as mulheres, não à poligamia, não ao terrível costume de sacrificar o filho
primogênito.
Ao invés, sim a uma maior difusão da "Carta dos direitos da família"
a fim de que se torne cerne dos debates democráticos; e sim também a uma catequese
familiar contínua e a órgãos diocesanos especiais que estejam em constante diálogo
com as autoridades civis, a fim de assegurar que as necessidades da família sejam
respeitadas.
Em seguida, a Sala do Sínodo voltou sua atenção para a situação
dos imigrados africanos presentes em muitos países do Ocidente e fez um apelo a fim
de que jamais lhes sejam negados os seus direitos e a assistência, como, ao invés,
se verifica constantemente.
Ao mesmo tempo, os Padres sinodais reiteraram:
as barreiras políticas não impedirão as migrações clandestinas, mas a efetiva redução
da pobreza mediante o desenvolvimento econômico e social da África.
Entre os
temas candentes abordados destaca-se o da necessidade de uma reflexão sobre os matrimônios
mistos, o convite feito aos fiéis leigos a serem ativos na vida política, sem esquecer
os valores cristãos, e o apelo em favor da abolição da pena de morte em toda a África.
Ademais,
os Padres sinodais fizeram algumas sugestões: pensar num novo rito de exorcismo, baseado
no antigo, para combater a bruxaria muito difundida na África; investir no microcrédito
para ajudar os pobres e proteger o ecossistema para conseguir a paz.
Ontem
à tarde, por sua vez, os Padres sinodais refletiram sobre o papel dos representantes
pontifícios que – ressaltaram – dão voz ao papa na defesa da dignidade da pessoa e
de seus direitos fundamentais.
Foram também reiterados com veemência os votos
de que seja perdoada a dívida externa da África e de que se consiga a criação de um
observatório permanente para a prevenção de conflitos. Ademais, foi sugerido que se
pense na criação de uma pastoral nômade para todos os africanos sem habitação fixa.
Mas
o ponto alto dos trabalhos da tarde de ontem foi o pronunciamento de Rudolf Adada,
ex-chefe da Unamid, a missão de paz na região sudanesa do Darfur, instituída em 2007
constituída pela ONU e pela União Africana.
Na qualidade de enviado especial
ao Sínodo e na presença do papa, Adada recordou que com 200 mil militares, 6 mil policiais
e igual número de civis, a Unamid é a maior missão de paz do mundo. Mas não basta,
porque o conflito na região sudanesa ocidental do Darfur, que se arrasta há seis anos,
não vê, no horizonte, um acordo de paz, e essa missão de peacekeeping, na realidade,
não dispõe de nenhuma paz a ser mantida.
É certo que, após o período crítico
de 2004 – ponderou ele – hoje se pode dizer que o conflito do Darfur é de baixa intensidade,
mas somente em termos numéricos, porque ele não acabou. Adda reiterou que é necessário
um acordo de paz que seja inclusivo e compreenda toda a sociedade civil. (RL)