2009-10-10 19:09:37

Intervenção do Card. Leonardo SANDRI, Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais


S. Em. R. Card. Leonardo SANDRI, Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais (CIDADE DO VATICANO)



Dou graças ao Senhor que nos consente aproximarmo-nos da Igreja de Deus que está na África. Na sua singular variedade eclesial, a África inclui a Igreja patriarcal de Alexandria dos Coptas católicos e a Igreja Alexandrina Católica de rito ge’ez da Etiópia e da Eritreia. O Egipto, juntamente com a Igreja latina, alegra-se pela presença das comunidades arménia, caldeia, greco-melquita, maronita e síria. Dirijo a minha saudação aos irmãos orientais aqui presentes, e estendo-a a todos os pastores latinos e orientais da África, espiritualmente unidos a esta assembleia, a começar por Sua Beatitude Antonios Naguib, Patriarca de Alexandria dos Coptas Católicos: agradeço-lhes as inumeráveis obras apostólicas. É uma Igreja em expansão. A importância social da sua missão religiosa mede-se na fidelidade ao que lhe é peculiar: salvar totalmente o homem, cuja vocação é ultraterrena. O primeiro impulso por parte dos bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e fiéis é promover a reconciliação graças à conversão pessoal para que Deus continue a cumprir também na África a «divinização» de todos e de tudo mencionada pelos Padres gregos. O Sínodo pretende repropor o «serviço da reconciliação, da justiça e da paz». A proposta é urgente. A sua eficácia, contudo, medir-se-á sempre a partir da irrenunciável visão teológica e pastoral que a acompanhará. Sem algum temor as Igrejas na África, sentindo-se em comunhão com o Sucessor de Pedro e com a Igreja universal, continuem a confessar o santo nome de Cristo Deus, a obra de salvação que ele realizou uma vez por todas e cuja graça reflui sobre nós perenemente, testemunham que o verdadeiro nome da reconciliação, da justiça e da paz coincide com o nome de Jesus Cristo, o Crucificado Ressuscitado, doador de Espírito, Pedra angular e Esposo da Igreja. Só numa forte consciência cristológica e eclesiológica a reflexão sinodal poderá proceder proficuamente. Sem nunca renunciar a ela, deverão ser dados os passos possíveis para redesenhar as estratégias ecuménicas e inter-religiosas mais em conformidade com o progresso espiritual e social da África. Diversa é a situação em relação à do Sínodo de 1994, mas permanecem graves problemas do passado. É importantíssimo que os cristãos da África, pastores e fiéis, tenham consciência de que a África derramou muito sangue, suor e lágrimas, no testemunho da fé, esperança e amor, que é como dizer em resposta à santidade. Gostaria de realçar uma particularidade etíope/eritreia: entre os santos enumerados no § 36 do Instrumentum laboris não aparece Justino De Jacobis (1800-1860), o Lazarista que entendeu a importância da liturgia ge’ez para o cristianismo do Corno de África e se «inculturou» (cf. § 73) . De facto, a África não se deve cansar de trabalhar para uma adequada inculturação da mensagem cristã. A exortação apostólica Orientale lumen apresentou as Igrejas orientais como «exemplo competente» de «êxito de inculturação» (cf. N. 7). Uma sadia e equilibrada relação entre a «Religião e Tradição africana» consentirá à Igreja, juntamente com a comunidade civil, curar as chagas da África. Saúde, educação, desenvolvimento socioeconómico, tutela dos direitos humanos, cura da ferida do tribalismo, luta à emigração com programas económicos in loco que limitem a fuga dos jovens (§§ 25 e 65); exploração e neocolonialismo (§§ 12, 64,72 e 140), analfabetismo (§ 31), corrupção (§ 57), situação de sujeição das mulheres, exigem respostas de caridade operosa e formação integral (cf. §§ 54, 60, 85, 93, 97, 111, 116, 123, 126-128, 129 e 133-136). São necessárias a convivência e a colaboração sincera entre todos os católicos dos vários ritos. Sem este entendimento encerrar-se-á o diálogo ecuménico, que dá força aos cristãos na defesa da liberdade pessoal e comunitária e na profissão pública na fé, permitindo à Igreja ser livre e missionária e à África ser uma «sociedade plural». Longe de constituir um obstáculo para a unidade, inseridas como estão na situação e na mentalidade locais, as Igrejas católicas orientais podem «construir pontes» (cf. § 90) na perspectiva da reconciliação, da justiça e da paz e do encontro com o Islão já em acto em diversos países. Este é também o meu desejo, enquanto com as comunidades da Etiópia e Eritreia enalteço a importância simbólica desse «pedaço de terra africana» dentro dos muros do Vaticano: a Igreja de Santo Estêvão dos Abissínios e o Pontifício Colégio Etiópico. Vejo nelas uma imagem da Igreja que, terminado o Sínodo, se lança com força e esperança nos caminhos da reconciliação, da esperança e da paz na África, sentindo-se com alegria «sub umbra Petri».








All the contents on this site are copyrighted ©.