2009-10-06 11:51:38

Relatório de Dom Raymundo DAMASCENO ASSIS, Arcebispo de Aparecida (BRASIL)


S. E. R. Dom Raymundo DAMASCENO ASSIS, Arcebispo de Aparecida, Presidente do "Conselho Episcopal Latinoamericano" (C.E.L.AM.) (BRASIL)

1. Em primeiro lugar, na qualidade de Presidente do Conselho Episcopal Latino americano CELAM, desejo agradecer, em particular, ao Santo Padre Bento XVI pelo convite para participar desta segunda Assembléia Especial do Sínodo dos Bispos para a África. Para mim, Bispo Latino americano, é um privilégio poder compartilhar da caminhada de nossa Igreja, una, santa, católica e apostólica, no continente africano. Quero participar deste Sínodo com muita atenção, abertura e oração.
Desejo expressar, neste momento, a solidariedade do Episcopado e da Igreja Latino americanos aos queridos irmãos Bispos e à toda Igreja que peregrina no Continente Africano.
Aqui estamos não só para manifestar nossa fraternidade com a Igreja na África, mas também para aprender, pois temos a certeza de que as conclusões desta segunda Assembléia Especial ajudarão também a Igreja na América Latina na missão de reconciliação e na busca de justiça e paz.
2. África e América Latina são continentes muito diferentes entre si, porém é importante saber que temos na América Latina uma população de origem africana mais numerosa do que a população de nossos próprios povos originários, os indígenas. Também nos une na cruz o fato de que em ambos os continentes temos um alto índice de nossa população vivendo em situação de pobreza, e necessitada de bens e serviços para a sobrevivência básica: alimentação, habitação, educação e saúde.

No âmbito político e institucional, em muitos de nossos países não há uma democracia, suficientemente enraizada na cultura do povo e, por isso, ela ainda não esta fortemente consolidada. As necessidades básicas e urgentes de grande parte de nossos povos, não solucionadas, provocam o surgimento de aventuras políticas, com promessas populistas, que iludem, mas não resolvem os problemas estruturais da população.
Ainda no campo político, a situação se agrava pela corrupção frequentemente noticiada e denunciada por diversos órgãos da grande mídia, fenômeno este, que leva a população, em especial, a juventude, ao conformismo e à descrença em relação à política como arte de promover o bem comum.
3. A nova consciência mundial do pluralismo cultural despertou uma nova atenção e representação na América Latina de nossos povos originários e afro descendentes. Isto marca um esforço especial de evangelização e inculturação importante. No Documento da V Conferência Geral, realizada em Aparecida, no ano de 2007, podemos ler:
"Os indígenas e afro americanos emergem agora na sociedade e na Igreja. Este é um "kairós" para aprofundar o encontro da Igreja com esses setores humanos que reivindicam o reconhecimento pleno de seus direitos individuais e coletivos, serem levados em consideração na catolicidade com sua cosmovisão, seus valores e suas identidades particulares, para viverem um novo Pentecostes eclesial." (DA 91)
A Igreja na América Latina não passou por rupturas tão grandes e dramáticas como a Igreja da África negra. Por isso, na América Latina houve uma experiência mais contínua da Igreja, ainda que, não sem ausência de sofrimentos e falhas e, por isso mesmo, ela possui uma múltipla e rica experiência. Hoje, temos uma experiência pastoral mais estável, cuja riqueza se expressou nos últimos 50 anos em nossas cinco Conferências Gerais de natureza diferente dos Sínodos e hoje, na grande Missão Continental que tem como objetivo colocar a Igreja na América Latina em estado permanente de missão. Os Documentos dessas cinco Conferências Gerais sempre deram uma atenção especial aos camponeses, indígenas e afro americanos, entre as diversas prioridades pastorais.
4. Desejo sugerir nesta intervenção alguns pontos que poderiam ser tema de diálogo sobre um possível intercâmbio fraterno entre a Igreja dos dois continentes. Em âmbito episcopal, podemos compartilhar com a África a grande riqueza que significou os 54 anos de vida do organismo episcopal que represento, o Conselho Episcopal Latino Americano CELAM, como instrumento de comunhão episcopal e de serviços mútuos dentro do nosso Episcopado. Poder se ia, com o incentivo da Santa Sé, ser convidados bispos da Igreja católica presentes em ambos os continentes, para a troca de experiência colegial, pastoral e organizacional, que possam enriquecer a missão da Igreja. Poderia ser ampliada também a experiência já existente de dioceses e congregações religiosas que enviam missionários à Igreja na África
Em âmbito dos seminaristas e sacerdotes, também penso que seria possível e mutuamente enriquecedor, oferecer seminários para a primeira formação sacerdotal em algumas das Igrejas particulares na América Latina, com maiores recursos. Seria uma ocasião para, entre outras vantagens, aprender um outro idioma que serviria para fomentar o intercâmbio e a comunhão entre dois continentes de grande presença católica.
Da parte do CELAM, também, poderíamos acolher com a aprovação da Santa Sé, nos Institutos Pastoral e Bíblico, existentes no CELAM, em Bogotá, sacerdotes, consagrados, ou leigos agentes de pastoral, para cursos de formação.
5. Renovo minha gratidão ao Santo Padre e aos queridos irmãos Bispos da Africa por ter sido convidado para participar deste kairós, tempo de graça e de conversão que é a II Assembléia Especial dos Bispos para a África. Que Nossa Senhora de Guadalupe, Rainha e Padroeira da América, nos acompanhe durante esta Assembléia Especial e ajude, com sua proteção materna, a Igreja na África encontrar com a participação da sociedade, caminhos próprios de reconciliação, justiça e paz.







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