2009-10-06 13:19:22

Relatório de Dom Orlando B. QUEVEDO, Arcebispo de Cotabato (FILIPINAS)


S. E. R. Dom Orlando B. QUEVEDO, O.M.I., Arcebispo de Cotabato, Secretário-Geral da "Federation of Asian Bishops' Conferences" (F.A.B.C.) (FILIPINAS)

“Ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz” - o tema da segunda Assembleia Especial para a África reflecte profundamente as aspirações da Igreja na África.
Não obstante as grandes diferenças, a Igreja na Ásia e a Igreja na África possuem admiráveis semelhanças. Enquanto na época dos apóstolos, o Cristianismo abriu caminho no Egipto e no Norte da África graças à obra de São Marcos Evangelista, muitos cristãos na Índia remontam as suas origens ao apóstolo São Mateus. Mas no seu conjunto, a Igreja na África é tão jovem quanto a Igreja na Ásia. Em muitos países dos dois continentes, o Cristianismo foi introduzido por missionários estrangeiros durante o período das colonizações. Nos séculos XIX e XX, verificou-se um sucessivo impulso missionário.
A riqueza de culturas, os muitos valores familiares tradicionais autenticamente humanos, as milhares de línguas, os intercâmbios entre cristãos, muçulmanos e religiões tradicionais africanas - são todas realidades importantes, muito parecidas, quer na África quer na Ásia. Ambos são continentes de pobres e de jovens.
As duas exortações pós-sinodais do saudoso Papa João Paulo II, Ecclesia in África (1995) e Ecclesia in Ásia (1998) possuem admiráveis semelhanças. Em relação aos desafios pastorais de hoje, notamos, por exemplo: os imperativos da inculturação e do diálogo inter-religioso, a promoção de uma emergente globalização relativista e da cultura materialista pelos meios de comunicação social, o impacto negativo da globalização económica na pobreza, o declínio dos valores morais na vida social, económica e política, e as constantes ameaças contra a verdadeira natureza do matrimónio e da família, as várias faces de injustiça e violentos conflitos que perturbam a harmonia das sociedades africana e asiática.
A Igreja na África e a Igreja na Ásia estão a formular semelhantes questões de profunda importância: O que somos como uma comunidade de discípulos, como Igreja? Como podemos ser testemunhas críveis do Senhor Jesus e do Seu Evangelho? Como poderíamos responder aos mais complexos desafios pastorais que nos confrontam na nossa missão de proclamar Jesus como Senhor e Salvador?
Na minha opinião, a Igreja na África está explorando as implicações teológicas e pastorais da Igreja como Família de Deus. Nós, na Ásia, guiados pela Sagrada Escritura e pelo Magistério vivo da Igreja, acreditamos que fomos conduzidos pelo Espírito Santo a estudar, no contexto asiático, a teologia da Igreja enquanto Comunhão e humilde Servidores do Evangelho e dos povos asiáticos. Esta óptica teológica abriu a opção pastoral da renovação radical em andamento na Igreja na Ásia, uma opção mais do ser que do fazer. De facto, compreendemos que as acções devem vir do coração de uma Igreja que é renovada no Mistério Pascal de Jesus nosso Senhor.

Portanto, nos 35 anos de fecunda existência a Federação das Conferências dos Bispos da Ásia promoveu uma renovação da Igreja no continente: na direcção de uma profunda interioridade espiritual; na direcção do diálogo com as culturas asiáticas, com as antigas tradições religiosas e filosóficas da Ásia, e com os povos asiáticos, especialmente com os pobres; na direcção do autêntico discipulado; na direcção de uma renovação do laicado para uma liderança na transformação social; na direcção de um renovado sentido de missão ad gentes; na direcção da renovação da família asiática como o ponto focal da evangelização; e na direcção de um viver crível da Eucaristia nas realidades da Ásia.
Esta renovação fundamentalmente é um chamado de Deus que é Amor (Deus caritas est), e que oferece esperança e salvação (Spe salvi), impulsionando-nos a amar a verdade (Caritas in Veritate).
No que se refere ao amar na verdade, a Igreja na África e a Igreja na Ásia conhecem experiências semelhantes de dor e alegria. A dor - devido a muitas forças de uma cultura de morte - quer a Ecclesia in Africa quer a Ecclesia in Asia tratam com profunda preocupação, o aumento da pobreza e a marginalização dos nossos povos, os ataques contínuos contra o matrimónio e a família tradicional, as injustiças em relação às mulheres e crianças, a nossa propensão a favorecer as armas de destruição em detrimento ao desenvolvimento integral, a nossa incapacidade de competir com os poderosos em uma ordem económica global que não é guiada por normas jurídicas e morais, a intolerância religiosa em vez de um diálogo da razão e da fé, o governo da avidez e não do governo da lei na vida pública, as divisões e o conflito no lugar da paz, e o aviltamento da ecologia humana e natural. Além disso, a frequência de furacões destruidores, de inundações, secas, terremotos e tsunames no continente asiático exige agora a nossa solicitude pastoral colectiva no que diz respeito ao aquecimento global e as mudanças climáticas.
Por outro lado, sentimos uma grande alegria e esperança nos movimentos de justiça e paz, demonstrada pela crescente consciência e participação de jovens e mulheres para a responsabiliza¬ção e a transformação social, no movimento de numerosos grupos da sociedade civil rumo à integridade na vida pública, ao cuidado e à integridade da criação, na solidariedade das pessoas de boa vontade provenientes de classes sociais e tradições religiosas diversas, a fim de empenhar-se por uma ordem social mais justa, pacífica e fraterna.
O motivo da nossa alegria e esperança é o facto que observamos muitos movimentos positivos dentro da Igreja, nas pequenas comunidades cristãs, entre muitos homens e mulheres na vida religiosa e entre o clero, que possuem todos os valores do Reino de Deus em novos areópagos da evangelização.
Com estes sentimentos de alegria e de esperança no Senhor, exprimo a solidariedade dos membros da Federação das Conferências dos Bispos da Ásia para com todos os participantes da segunda Assembleia Especial para a África. Agradecemos-vos ter acolhido tantos missionários asiáticos, assim como tantos trabalhadores migrantes no vosso amado continente.
Na perspectiva da nossa IX Assembleia plenária da FABC em Manila, permiti-me exprimir a nossa gratidão a Sua Eminência o Cardeal Francis Arinze, Enviado Especial do Santo Padre, e a Sua Eminência o Cardeal Ivan Dias, que enviou Sua Excelência o Arcebispo Robert Sarah como o seu representante pessoal.
De modo especial, em nome da FABC, desejo expressar a nossa mais profunda e afectuosa fidelidade ao nosso amado Santo Padre, Papa Bento XVI. Convidamos-lhe, Vossa Santidade, a visitar a nossa região num futuro próximo. Obrigado.







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