Africa, um imenso pulmão espiritual para toda a humanidade: Bento XVI na homilia da
Missa para a abertura da II assembleia especial do Sínodo dos Bispos para a África
4710/2009) O Papa Bento XVI presidiu na manhã deste domingo , na Basílica de São
Pedro a Missa para a abertura da II assembleia especial do Sínodo dos Bispos para
a África, que a partir de amanhã e até ao próximo dia 25, debaterá o tema "A Igreja
na África ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz. Vós sois o sal da terra.
Vós sois a luz do mundo". “A África é depositária de um tesouro inestimável para
o mundo inteiro” – assegurou Bento XVI na homilia da celebração eucarística. “A África
representa para toda a humanidade um imenso pulmão espiritual”. Mas “este pulmão
– advertiu o Papa - encontra-se ameaçado por duas patologias”: o materialismo prático
e o fundamentalismo religioso.
Evocando a primeira assembleia especial para
a África do Sínodo dos Bispos, há 15 anos, o Pontífice observou que assim como aquele
outro acontecimento tinha constituído o ponto de chegada de um caminho, que prosseguiu
depois, assim esta nova Assembleia sinodal constitui uma significativa etapa de avaliação
e de relançamento”. Nas saudações iniciais, Bento XVI dirigiu especiais palavras
de acolhimento a Sua Santidade Abuna Paulos, Patriarca da Igreja Ortodoxa Tewahedo
da Etiópia, assim como os diversos “Delegados fraternos” das outras Igrejas e das
Comunidades eclesiais. Não esqueceu também o Coro congolês que, juntamente com a Capela
Sistina, animou a celebração. A homilia partiu, como sempre das leituras da Missa
deste domingo, do qual – observou o Papa – emergem com vigor três aspectos, interpeladores:
o primado de Deus, Criador e Senhor; o matrimónio; e as crianças.
“O reconhecimento
do domínio absoluto de Deus é sem dúvida um dos traços salientes e unificadores da
cultura africana. Naturalmente, na África existem múltiplas e diferentes culturas,
mas parecem concordar todas neste ponto: Deus é Criador e fonte da vida”.
Neste
aspecto – sublinhou o Papa – “a África é depositária de um inestimável tesouro para
o mundo inteiro: o seu profundo sentido de Deus”. Uma realidade que Bento XVI afirmou
ter tido ocasião de advertir pessoalmente nos encontros com os Bispos africanos em
visita “ad limina” e mais ainda por ocasião da sua recente viagem apostólica aos Camarões
e a Angola, viagem (disse) “da qual conservo uma grata e comovida recordação”.
“Quando
se fala de tesouros da África, pensa-se logo nos recursos de que é rico este território
e que infelizmente se tornaram e continuam a ser motivo de exploração, de conflitos
e de corrupção. Ora, a Palavra de Deus faz-nos encarar um outro património: o património
espiritual e cultural, de que a humanidade tem necessidade, ainda mais do que das
matérias primas”.
“De facto – diria Jesus – que vantagem há em ganhar o mundo
inteiro e perder depois a própria vida?”
“A África representa um imenso pulmão
espiritual para uma humanidade que aparece em crise de fé e de esperança. Mas também
este pulmão pode adoecer. E neste momento há pelo menos duas patologias que
o estão a afectar: antes de mais, uma doença já difusa no mundo ocidental, isto é,
o materialismo prático, combinado com o pensamento relativista e niilista”.
Bento
XVI considerou “indiscutível o facto de o chamado “primeiro” mundo ter exportado,
e continuar a exportar resíduos tóxicos espirituais, que contagiam as populações de
outros continentes, em especial as populações africanas”.
“Neste sentido,
o colonialismo, terminado no plano político, nunca se concluiu completamente. Mas,
precisamente nesta perspectiva, há que assinalar um outro vírus que poderia
atingir também a África, ou seja, o fundamentalismo religioso, misturado com interesses
políticos e económicos”.
De facto, sublinhou o Papa, “estão-se a difundir
no continente africano grupos ligados a diferentes pertenças religiosas”. E “fazem-no
em nome de Deus, mas segundo uma lógica oposta à lógica divina, ensinando e praticando
não o amor e o respeito da liberdade, mas sim a intolerância e a violência”.
“Possa
a Igreja na África ser sempre uma família de autênticos discípulos de Cristo, onde
a diferença entre etnias se torne motivo e estímulo para um recíproco enriquecimento
humano e espiritual”.
“Com a sua obra de evangelização e promoção humana,
a Igreja pode sem dúvida dar na África um grande contributo a toda a sociedade, que
infelizmente conhece em vários países pobreza, injustiças, violências e guerras”.
“A
vocação da Igreja, comunidade de pessoas reconciliadas com Deus e entre si, é ser
profecia e fermento de reconciliação entre os vários grupos étnicos, linguísticos
e também religiosos, no interior de cada nação e em todo o continente. A reconciliação,
dom de Deus que os homens devem implorar e acolher, é fundamento estável sobre o qual
construir a paz, condição indispensável para o autêntico progresso dos homens e da
sociedade, segundo o projecto de justiça querido por Deus”.