2009-10-04 10:57:18

Africa, um imenso pulmão espiritual para toda a humanidade: Bento XVI na homilia da Missa para a abertura da II assembleia especial do Sínodo dos Bispos para a África


4710/2009) O Papa Bento XVI presidiu na manhã deste domingo , na Basílica de São Pedro a Missa para a abertura da II assembleia especial do Sínodo dos Bispos para a África, que a partir de amanhã e até ao próximo dia 25, debaterá o tema "A Igreja na África ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz. Vós sois o sal da terra. Vós sois a luz do mundo".
“A África é depositária de um tesouro inestimável para o mundo inteiro” – assegurou Bento XVI na homilia da celebração eucarística. “A África representa para toda a humanidade um imenso pulmão espiritual”. Mas “este pulmão – advertiu o Papa - encontra-se ameaçado por duas patologias”: o materialismo prático e o fundamentalismo religioso.

Evocando a primeira assembleia especial para a África do Sínodo dos Bispos, há 15 anos, o Pontífice observou que assim como aquele outro acontecimento tinha constituído o ponto de chegada de um caminho, que prosseguiu depois, assim esta nova Assembleia sinodal constitui uma significativa etapa de avaliação e de relançamento”.
Nas saudações iniciais, Bento XVI dirigiu especiais palavras de acolhimento a Sua Santidade Abuna Paulos, Patriarca da Igreja Ortodoxa Tewahedo da Etiópia, assim como os diversos “Delegados fraternos” das outras Igrejas e das Comunidades eclesiais. Não esqueceu também o Coro congolês que, juntamente com a Capela Sistina, animou a celebração.
A homilia partiu, como sempre das leituras da Missa deste domingo, do qual – observou o Papa – emergem com vigor três aspectos, interpeladores: o primado de Deus, Criador e Senhor; o matrimónio; e as crianças.

“O reconhecimento do domínio absoluto de Deus é sem dúvida um dos traços salientes e unificadores da cultura africana. Naturalmente, na África existem múltiplas e diferentes culturas, mas parecem concordar todas neste ponto: Deus é Criador e fonte da vida”.

Neste aspecto – sublinhou o Papa – “a África é depositária de um inestimável tesouro para o mundo inteiro: o seu profundo sentido de Deus”. Uma realidade que Bento XVI afirmou ter tido ocasião de advertir pessoalmente nos encontros com os Bispos africanos em visita “ad limina” e mais ainda por ocasião da sua recente viagem apostólica aos Camarões e a Angola, viagem (disse) “da qual conservo uma grata e comovida recordação”.

“Quando se fala de tesouros da África, pensa-se logo nos recursos de que é rico este território e que infelizmente se tornaram e continuam a ser motivo de exploração, de conflitos e de corrupção. Ora, a Palavra de Deus faz-nos encarar um outro património: o património espiritual e cultural, de que a humanidade tem necessidade, ainda mais do que das matérias primas”.

“De facto – diria Jesus – que vantagem há em ganhar o mundo inteiro e perder depois a própria vida?”

“A África representa um imenso pulmão espiritual para uma humanidade que aparece em crise de fé e de esperança. Mas também este pulmão pode adoecer. E neste momento há pelo menos duas patologias que o estão a afectar: antes de mais, uma doença já difusa no mundo ocidental, isto é, o materialismo prático, combinado com o pensamento relativista e niilista”.

Bento XVI considerou “indiscutível o facto de o chamado “primeiro” mundo ter exportado, e continuar a exportar resíduos tóxicos espirituais, que contagiam as populações de outros continentes, em especial as populações africanas”.

“Neste sentido, o colonialismo, terminado no plano político, nunca se concluiu completamente. Mas, precisamente nesta perspectiva, há que assinalar um outro vírus que poderia atingir também a África, ou seja, o fundamentalismo religioso, misturado com interesses políticos e económicos”.

De facto, sublinhou o Papa, “estão-se a difundir no continente africano grupos ligados a diferentes pertenças religiosas”. E “fazem-no em nome de Deus, mas segundo uma lógica oposta à lógica divina, ensinando e praticando não o amor e o respeito da liberdade, mas sim a intolerância e a violência”.

“Possa a Igreja na África ser sempre uma família de autênticos discípulos de Cristo, onde a diferença entre etnias se torne motivo e estímulo para um recíproco enriquecimento humano e espiritual”.

“Com a sua obra de evangelização e promoção humana, a Igreja pode sem dúvida dar na África um grande contributo a toda a sociedade, que infelizmente conhece em vários países pobreza, injustiças, violências e guerras”.

“A vocação da Igreja, comunidade de pessoas reconciliadas com Deus e entre si, é ser profecia e fermento de reconciliação entre os vários grupos étnicos, linguísticos e também religiosos, no interior de cada nação e em todo o continente. A reconciliação, dom de Deus que os homens devem implorar e acolher, é fundamento estável sobre o qual construir a paz, condição indispensável para o autêntico progresso dos homens e da sociedade, segundo o projecto de justiça querido por Deus”.








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