PAPA A NOVO EMBAIXADOR EUA: NÃO SEPARAR DEFESA DA VIDA E PROMOÇÃO SOCIAL
Castel Gandolfo, 02 out (RV) - O multilateralismo para garantir paz e desenvolvimento
à humanidade e à defesa da vida em todas as suas fases foi o tema candente desenvolvido
por Bento XVI no discurso ao novo embaixador dos EUA junto à Santa Sé, Miguel Humberto
Díaz, recebido esta manhã, na residência apostólica de Castel Gandolfo, para a apresentação
de suas credenciais.
O pontífice deteve-se sobre o binômio liberdade e verdade
– fundamento de toda democracia sadia – e ressaltou a contribuição que a Igreja local
dá para a sociedade estadunidense, sobretudo na defesa da dignidade humana.
O
papa se disse confiante de que as relações diplomáticas entre Santa Sé e EUA continuarão
"sendo marcadas por um diálogo frutuoso e pela cooperação para a promoção da dignidade
humana", do respeito dos "direitos fundamentais" e do "serviço à justiça, à solidariedade
e à paz".
O Santo Padre apreciou o reconhecimento, por parte dos EUA, da necessidade
"de um mais forte espírito de solidariedade e de compromisso multilateral para enfrentar"
os problemas urgentes do nosso planeta.
A defesa de valores como a vida, liberdade
e busca da felicidade não pode ser vista em termos individuais ou nacionais, mas deve
ser inserida na mais ampla perspectiva do bem comum de toda a sociedade humana – observou.
O
perdurar da crise econômica – acrescentou o papa – "requer claramente uma revisão
das atuais estruturas políticas, econômicas e financeiras" à luz do imperativo moral
de assegurar "um desenvolvimento integral" de todos os povos.
Bento XVI reiterou
a necessidade de "um modelo de globalização inspirado num autêntico humanismo" no
qual os povos não sejam vistos somente como próximos, mas como irmãos e irmãs.
Por
outro lado – ponderou o pontífice – o multilateralismo não deveria se restringir às
questões políticas e econômicas, mas ser utilizado para fazer frente a todos os temas
ligados ao futuro da humanidade: do acesso ao alimento ao clima, da saúde à eliminação
das armas nucleares.
A esse respeito, o Santo Padre expressou satisfação pela
recente reunião do Conselho de Segurança da ONU, presidida pelo presidente Barack
Obama, que aprovou uma resolução sobre o desarmamento atômico em vista de um mundo
livre das armas nucleares.
Em seguida, Bento XVI ressaltou que as religiões
enriquecem o discurso ético e político, porque se ocupam do destino último de todo
homem e são chamadas a ser uma força profética de libertação.
Nesse contexto,
o papa recordou sua visita à Terra Santa, onde quis destacar a compreensão e a cooperação
entre as diversas religiões a serviço da paz. Trata-se de um objetivo que é promovido
também pelo atual governo estadunidense – observou, com satisfação, o Santo Padre.
Prosseguindo
seu discurso, o pontífice falou da contribuição que a Igreja dá ao desenvolvimento
da sociedade estadunidense. Uma contribuição para as questões éticas e sociais dada
mediante argumentos racionais radicados na lei natural.
A preservação da liberdade
está ligada de modo inseparável ao respeito pela verdade, disse o papa, acrescentando
que a crise das democracias modernas exorta a um renovado compromisso a "discernir
políticas justas e sábias, respeitosas da natureza e da dignidade humanas".
A
Igreja estadunidense dá uma contribuição positiva para a vida civil e para o debate
público através do discernimento mediante a formação das consciências.
Em particular,
o papa mencionou a necessidade "de um claro discernimento em relação aos temas que
concernem à proteção da dignidade humana e ao respeito do inalienável direito à vida
– do momento da concepção até a morte natural – bem como da proteção do direito de
objeção de consciência por parte dos agentes de saúde".
A Igreja – concluiu
o papa – insiste sobre o laço inviolável entre a ética da vida e todo e qualquer outro
aspecto da ética social. (RL)