PAPA: QUEM NEGA DEUS TEM SUCESSOS APARENTES MAS VIVE TRISTE
Praga, 28 set (RV) - Terceiro e último dia de visita de Bento XVI à República
Tcheca. Esta manhã, por volta das 8h locais, o papa deixou a sede da Nunciatura Apostólica
e se dirigiu à igreja de São Venceslau, na pequena cidade de Stará Boleslau.
Esta
igreja, a 35 km da capital, foi construída no local do martírio do santo e é meta
de peregrinação todos os anos, no dia 28 de setembro. Venceslau, símbolo do governante
bom e generoso, é o padroeiro da República Tcheca, e hoje, portanto, é feriado nacional
no país.
Chegando, Bento XVI foi recebido por alguns padres, autoridades locais
e um grupo de crianças integrantes de um coral. Dentro da igreja, apenas 20 sacerdotes
anciãos, com seus acompanhantes, aguardavam o papa. Depois de adorar o Santíssimo,
desceu à cripta, no Mausoléu da Nação, onde está exposta uma relíquia do santo, e
antes de sair, conversou brevemente com os padres.
O papa seguiu então para
a esplanada de Melnik, um extenso gramado, hoje parcialmente ocupado por barracas,
erguidas pelos jovens peregrinos que dormiram no local esta noite. Um grande palco
foi montado no centro do parque, com espaço também para a orquestra e o coral; tudo
decorado em vermelho e branco, cores tradicionalmente associadas a São Venceslau,
a quem também é dedicada a águia colocada no centro da estrutura.
Passando
em meio à multidão, Bento XVI saudou os fiéis tchecos do papamóvel antes de dar início
à cerimônia, aberta com uma saudação do Cardeal-arcebispo de Praga, Miroslav Vlk.
Mas vamos à homilia do papa:
Bento XVI começou agradecendo a toda a Igreja,
incluindo leigos e movimentos, e ao Presidente da República, Václav Klaus, e felicitando
o povo tcheco pela festividade de hoje. “O grande São Venceslau, eterno “Príncipe
dos Tchecos”, derramou seu sangue sobre aquela terra; e sua águia, escolhida como
marca desta visita, é o emblema histórico da nação checa” – disse Bento XVI.
“Modelo
de santidade, ele nos convida a seguir sempre Cristo com fidelidade, nos convida sermos
santos; mas a santidade é ainda atual, ou é talvez um tema pouco atraente e importante?”
– perguntou-se o pontífice, questionando se hoje não se busca mais o sucesso e a glória
humana, e quanto dura o sucesso terreno.
Bento XVI recordou que no século passado,
caíram muitos poderosos, e hoje, aqueles que negaram e continuam a negar Deus têm
aparentemente uma vida fácil, repleta de sucessos materiais. Mas basta ir pouco além
da superfície para constatar que estas pessoas são tristes e insatisfeitas; que somente
quem conserva no coração o santo ‘temor de Deus’ confia no homem e dedica sua existência
a constituir um mundo mais justo e fraterno.
“Quem perder a própria vida por
minha causa, a encontrará”, recordou o pontífice, afirmando que certamente esta é
uma linguagem dura, difícil de aceitar e colocar em prática, mas o testemunho dos
Santos e das Santas assegura que é possível, se confiarmos e nos entregarmos a Cristo.
Esta é a lição de vida de São Venceslau, que teve a coragem de antepor o Reino
dos Céus ao fascínio do poder terreno, jamais se cansando de olhar para Jesus Cristo,
que padecendo por nós, deixou o exemplo, para que o sigamos em sua caminhada.
Venceslau
morreu mártir por Cristo. Seu irmão Boleslau, que o matou, se apoderou do trono de
Praga, mas a coroa que sucessivamente seus seguidores colocavam sobre a cabeça trazia
seu nome, o nome de Venceslau. Este fato é considerado como uma maravilhosa intervenção
de Deus, que não abandona seus fiéis: “o inocente vencido venceu o cruel vencedor,
à semelhança de Cristo na Cruz”, e o sangue do mártir não trouxe ódio e vingança,
mas perdão e paz.
Terminando sua homilia, Bento XVI reiterou que a fé está
sempre exposta a vários desafios, mas quando se deixa atrair por Deus, que é a Verdade,
o caminho se faz decidido, porque experimenta a força de seu amor.
Antes de
encerrar a cerimônia, o papa proferiu palavras de saudação aos jovens tchecos e seus
coetâneos provenientes dos países vizinhos especialmente para a celebração de hoje.
Bento XVI falou em tcheco, eslovaco, polonês e alemão.
Um rapaz tcheco fez
um breve discurso de testemunho, assegurando ao papa que suas palavras foram ouvidas
com o coração aberto, e que os jovens estão prontos para uma relação mais sólida com
Jesus.
Em nome da juventude tcheca, o jovem prometeu seguir os ensinamentos
do papa, e o presenteou com um livro de fotografias que retratam a vida dos jovens
nas dioceses do país, a atividade das ordens religiosas, dos movimentos e comunidades.
Recordando a Bento XVI seu encontro com os jovens em sua visita à África,
em março passado, o rapaz expressou a solidariedade deste país, pertencente à ‘porção
rica do mundo’, entregando ao pontífice um cheque, fruto de uma coleta organizada
pela juventude tcheca em solidariedade com os mais necessitados da África. Enfim,
os jovens tchecos marcaram encontro com o pontífice para Madrid, em 2011, no Dia Mundial
da Juventude.
Bento XVI foi almoçar na Nunciatura, de onde parte para o aeroporto
no final da tarde, chegando a Castel Gandolfo hoje à noite. O papa permanece ainda
na residência de verão por alguns dias, antes de retornar ao Vaticano. (CM)