2009-09-28 12:55:17

HOMILIA DE BENTO XVI NA FESTA DE S. VENCESLAU


Stará Boleslav, 28 set (RV) – Leia abaixo a íntegra da homilia de Bento XVI, na missa celebrada esta manhã na esplanada de Melnik.

Senhores Cardeais,
Veneráveis irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Caros irmãos e irmãs,
Caros jovens,


Com grande alegria vos encontro nesta manhã, enquanto vai concluindo minha viagem apostólica na amada Republica Checa. A todos dirijo minha cordial saudação, especialmente ao Cardeal Arcebispo, a quem sou grato pelas palavras que me dirigiu em vosso nome, no início da celebração eucarística. Minha saudação se estende aos outros cardeais, aos bispos, aos sacerdotes e às pessoas consagradas, aos representantes dos movimentos e das associações leigas e especialmente aos jovens. Saúdo com deferência o Senhor Presidente da República, a quem felicito por ocasião de sua festa onomástica; cumprimento que me agrada endereçar a todos aqueles que se chamam Venceslau, e a todo o povo checo pelo dia de sua festa nacional.

Nesta manhã, nos reúne em torno do altar a recordação gloriosa do mártir São Venceslau, do qual pude venerar a relíquia, antes da Santa Missa, na Basílica a ele dedicada. Ele derramou o sangue sobre vossa terra, e sua águia, por vós escolhida como marca desta visita – como recordou há pouco vosso Cardeal Arcebispo – constitui o emblema histórico da nobre Nação checa. Este grande santo, que vós gostais de chamar de o “eterno “Príncipe dos Checos, nos convida a sempre seguir Cristo com fidelidade, nos convida sermos santos. Ele mesmo é modelo de santidade para todos, especialmente para os que dirigem o futuro das comunidades e dos povos. Mas nos perguntamos: em nossos dias, a santidade é ainda atual? Ou talvez não seja um tema pouco atraente e importante? Não se busca hoje mais o sucesso e a glória humana? Quanto dura, porem, e quanto vale o sucesso terreno?

No século passado – e esta terra o testemunhou – caíram muitos poderosos, que pareciam terem alçado as alturas mais inacessíveis. De repente se viram privados de seu poder. Aqueles que negaram e continuam a negar Deus e, consequentemente não respeitam o homem, parecem ter vida fácil e conseguir um sucesso material. Mas basta ir pouco além da superfície para constatar que, nestas pessoas, existem tristeza e insatisfações. Apenas quem conserva no coração o santo “temor de Deus” confia no homem e dedica sua existência a constituir um mundo mais justo e fraterno.
Precisa-se hoje de pessoas que sejam “crentes” e “críveis”, prontas para difundir em cada âmbito da sociedade os princípios e ideais cristãos nos quais se inspira sua ação. Esta é a santidade, vocação universal de todos os batizados, que impele cumprir o próprio dever com fidelidade e coragem, não olhando o próprio interesse egoísta, mas o bem comum, e procurando em cada momento a vontade divina.

Na página evangélica escutamos, a esse respeito, palavras muito claras: ‘ Que vantagem - afirma Jesus - terá um homem se ganhar o mundo inteiro, mas perder a própria vida?”. Incita-nos, assim, a considerar que o valor autêntico da existência humana não é medido apenas com os bens terrenos e interesses passageiros, porque não serão as realidades materiais a saciar a sede profunda de sentido e de felicidade que existe no coração de cada pessoa. Por isso Jesus não duvida em propor aos seus discípulos a vida “estreita” da santidade: “Quem perder a própria vida por minha causa, a encontrará”. E decidido, nos repete nesta manhã:” Se alguém quer vir atrás de mim, renegue a si mesmo, tome sua cruz e me siga”. Certamente é uma linguagem dura, difícil de aceitar e colocar em prática, mas o testemunho dos Santos e das Santas assegura que é possível a todos, se confiarmos e nos entregarmos a Cristo. Seu exemplo encoraja quem se diz cristão a ser crível, isso é, coerente com os princípios da fé que professa. Não é suficiente parecermos bons e honestos; é necessário sê-lo de fato. Bom e honesto é aquele que não oculta com o seu eu a luz de Deus, não se antepõe, mas deixa Deus transparecer.

Esta é a lição de vida de São Venceslau, que teve a coragem de antepor o Reino dos Céus ao fascínio do poder terreno. Jamais se cansou de olhar para Jesus Cristo, que padecendo por nós, deixou-nos o exemplo, para que o sigamos em sua caminhada, como escreveu São Pedro na segunda leitura há pouco proclamada. Como discípulo dócil do Senhor, o jovem soberano Venceslau se manteve fiel aos ensinamentos evangélicos que lhe havia passado sua santa avó, a mártir Ludmila.

Seguindo-lhes, ainda antes de se empenhar na construção de uma convivência pacífica dentro da Pátria e com os países vizinhos, Venceslau trabalhou pela fé cristã, chamando sacerdotes e construindo igrejas. Na primeira “narração” paleoslava se lê que “servia os ministros de Deus e embelezava muitas igrejas” e que “fazia bem aos pobres, vestia os nus, dava de comer aos famintos, acolhia os peregrinos, tudo de acordo com a Palavra do Evangelho. Não tolerava que se fizesse injustiça às viúvas, amava todos os homens, fossem pobres ou ricos”. Aprendeu do Senhor a ser “misericordioso e piedoso”, e animado pelo espírito evangélico, chegou a perdoar seu irmão, que havia atentado contra sua vida. Justamente, portanto, vós o invocais como “Herdeiro” de vossa Nação, e, em um canto bem conhecido, lhes pedis que não permita que ela pereça.

Venceslau morreu mártir por Cristo. É interessante notar que o irmão Boleslau conseguiu, matando-o, apoderar-se do trono de Praga, mas a coroa que sucessivamente seus seguidores colocavam sobre a cabeça, trazia seu nome. Ela porta o nome de Venceslau, testemunhando de que “o trono do rei que julga os pobres na verdade está solidificado eternamente”. Este fato é considerado como uma maravilhosa intervenção de Deus, que não abandona seus fiéis: “o inocente vencido venceu o cruel vencedor, à semelhança de Cristo na Cruz”, e o sangue do mártir não trouxe ódio e vingança, mas perdão e paz.

Caros irmãos e irmãs, agradeçamos juntos, nesta Eucaristia, o Senhor por haver dado à vossa Pátria e à Igreja este soberano santo. Peçamos, ao mesmo tempo, para que, como ele, nós também caminhemos com passos firmes para a santidade. Certamente é difícil, pois a fé está sempre exposta a vários desafios, mas quando se deixa atrair por Deus, que é a Verdade, o caminho se faz decidido, porque experimenta a força de seu amor. Que a intercessão de São Venceslau e dos outros santos protetores da Terra Checa nos obtenha essa graça. Que Maria, Rainha da Paz e Mãe do Amor, nos proteja e nos assista sempre. Amém!







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