Foi a confiança na capacidade humana de procurar e encontrar a verdade que levou à
criação das Universidades: Bento XVI, no Castelo de Praga, no encontro com o mundo
academico
(27/9/2009) Começando por agradecer a “óptima interpretação” do coro universitário
e a saudação do Reitor da Universidade, Bento XVI congratulou-se com esta oportunidade
de manifestar a sua “estima pelo indispensável papel que as Universidades e os Institutos
Superiores desempenham na sociedade.
“Mantendo os valores culturais e espirituais
da sociedade e oferecendo-lhes ao mesmo tempo o próprio contributo, o mundo académico
desenvolve o precioso serviço de enriquecer o património intelectual da nação e de
consolidar os fundamentos do seu desenvolvimento futuro. As grandes mudanças que
há vinte anos transformaram a sociedade checa foram causados, em parte significativa,
pelos movimentos de reforma surgidos na universidades e nos círculos estudantis. Essa
busca da liberdade continuou a guiar o trabalho dos estudiosos: a sua diakonia
à verdade è indispensável ao bem-estar de qualquer nação”.
“A liberdade que
está na base do exercício da razão – tanto numa Universidade como também na Igreja
(observou o Papa) – tem um fim preciso: visa a busca da verdade e como tal exprime
uma dimensão própria do cristianismo”. Foi precisamente esta convicção que levou o
Papa Clemente VI a instituir em 1347 esta famosa Universidade de Praga. Um aspecto
essencial da missão da Universidade é “a responsabilidade de iluminar as mentes e
os corações dos jovens” de cada geração.
“Quando se desperta nos jovens a
compreensão da plenitude e a unidade da verdade, estes sentem prazer em descobrir
que a demanda do que podem conhecer lhes abre o horizonte da grande aventura daquilo
que devem ser e do que devem fazer. Há que reencontrar a ideia de uma formação integral,
baseada na unidade do conhecimento radicado na verdade”.
“Com o crescimento
massivo da informação e da tecnologia nasce a tentação de separar a razão da busca
da verdade”. O que leva a um relativismo sob o qual se podem camuflar novas ameaças
à autonomia das instituições académicas – advertiu o Papa.
“Que sucederia
se a nossa cultura houvesse de construir-se unicamente sobre temas em voga, sem grande
referência a uma genuína histórica tradição intelectual, ou então sobre convicções
promovidas com grande clamor e largamente financiadas? O que virá a suceder se, na
ânsia de preservar um secularismo radical (da cultura), esta acabasse por destacar-se
das raízes que a alimentam? Não será assim que as nossas sociedades se hão-de tornar
mais racionais, tolerantes ou capazes de adaptação. Pelo, contrário, serão mais frágeis
e menos inclusivas, e terão ainda mais dificuldade em reconhecer o que é verdadeiro,
nobre e bom”.
Evocando João Paulo II e a sua Encíclica “Fides et ratio”, Bento
XVI sublinhou que uma das preocupações centrais do seu predecessor era a necessidade
de se superar a fractura entre ciência e religião, para o que se esforçou em “promover
uma maior compreensão da relação fé – razão, entendidas como as duas asas com as quais
o espírito humano se eleva à contemplação da verdade”. Em última análise, a fidelidade
ao homem exige a fidelidade à verdade, a única a poder garantir a liberdade.
“Foi
esta confiança na capacidade humana de procurar e encontrar a verdade, e de viver
em conformidade com ela, que levou à fundação das grandes Universidades europeias.
É claro que devemos hoje reafirmá-lo, em ordem a encorajar as forças intelectuais
necessárias ao desenvolvimento de um futuro de autêntico florescimento humano, um
futuro verdadeiramente digno do homem”.