A exigência de novos modelos de vida pública e de solidariedade entre nações e povos
salientada pelo Papa esta tarde em Praga
(26/9/2009) Esta tarde em Praga Bento XVI efectuou uma visita de cortesia ao presidente
da República e encontrando -se em seguida com autoridades políticas e civis, e com
o corpo diplomático. A Europa é mais do que um continente, é uma casa, é uma pátria!
– sublinhou Bento XVI neste encontro na “Sala Espanhola” do Castelo de Praga. O
Papa começou por recordar a coincidência desta sua visita com o vigésimo aniversário
da queda dos regimes totalitários na Europa Central e Oriental e com a “Revolução
de Veludo” que restabeleceu a democracia. Um processo de reconstrução que – observou
– continua agora dentro do contexto mais amplo da unificação europeia e de um mundo
cada vez mais globalizado. Bento XVI observou que “as aspirações dos cidadãos
e as expectativas em relação aos respectivos governos exigem novos modelos de vida
pública e de solidariedade entre nações e povos, sem os quais ficaria sem se realizar
aquele futuro de justiça, de paz e de prosperidade por tanto tempo aguardado e esperado”.
O Papa deteve-se depois a considerar as aspirações à liberdade, questão que
vai bem para além daquilo que qualquer autoridade política ou económica poderá oferecer.
“A verdade – sublinhou – é a norma-guia para a liberdade, e a sua perfeição é a bondade”.
A grande responsabilidade de manter viva a sensibilidade a favor da verdade e do bem
recai – advertiu – sobre todos os que exercem um papel de condução, no campo religioso,
político ou cultural. Bento XVI recordou que também que a luta pela liberdade e a
busca da verdade vão pari passu. Ou avançam conjuntamente, passo a passo, ou
juntas perecem – advertiu.
“Ao longo dos séculos esta terra foi um ponto
de encontro entre diferentes povos, tradições e culturas. Como bem sabemos, houve
capítulos dolorosos e subsistem cicatrizes de trágicos acontecimentos causados pela
incompreensão, pela guerra e pela perseguição. E, contudo, também é verdade que
as suas raízes cristãs favoreceram o crescimento de um considerável espírito de perdão,
de reconciliação e de colaboração, que tornaram as populações destas terras capazes
de reencontrarem a liberdade e de inaugurar uma nova era, uma nova síntese, uma renovada
esperança.”
Não será precisamente deste espírito que a Europa de hoje mais
carece? – interrogou-se Bento XVI.
“A Europa é mais do que um continente.
É uma casa, um lar! E a liberdade encontra o seu significado mais profundo precisamente
no facto de ser uma pátria espiritual. No pleno respeito da distinção entre a esfera
política e a esfera religiosa – distinção que garante a liberdade dos cidadãos de
exprimirem o próprio credo religioso, vivendo em sintonia com o mesmo – desejo destacar
o insubstituível papel do cristianismo para a formação da consciência de cada geração
e para a promoção de um consenso ético de fundo, ao serviço de cada pessoa que chama
este continente casa, lar!”
“A Europa, fiel às suas raízes cristãs
– prosseguiu ainda o Papa – tem uma vocação particular a desempenhar, para manter
uma visão transcendente nas suas iniciativas ao serviço do bem comum de indivíduos,
comunidades e nações. Bento XVI referiu expressamente a necessidade de corresponder
às aspirações dos jovens, promovendo “valores capazes de integrar a dimensão intelectual,
humana e espiritual numa formação sólida”. “A sede de verdade, bondade, beleza, impressa
pelo Criador em todos os homens e mulheres, visa conduzir conjuntamente as pessoas
na busca da justiça, da liberdade e da paz”.
“A história demonstrou amplamente
que se pode trair e manipular a verdade ao serviço de falsas ideologias, da opressão
e da injustiça. Todavia, os desafios que deve enfrentar a família humana não nos chamam
porventura a olhar para além daqueles perigos? Em última análise, que há de mais
desumano e destrutivo do que o cinismo que quereria negar a grandeza da nossa busca
da verdade? Ou de que o relativismo que corrói os próprios valores que sustentam a
construção de um mundo mais unido e fraterno? Nós, pelo contrário, devemos reconquistar
confiança na nobreza e grandeza do espírito humano pela sua capacidade de alcançar
a verdade, e deixar que essa confiança nos guie na paciente actividade política e
diplomática”.