A exploração das multinacionais em África : entrevista com SERGIO MARELLI, Director
Geral Voluntários no mundo – FOCSIV
(25/9/2009) . Qual é a responsabilidade especifica das empresas estrangeiras que
exploram os recursos africanos? R. – É uma enorme responsabilidade. Não
é por acaso que também na Encíclica “Caritas in Veritate” Bento XVI citou explicitamente
os impactos negativos que as multinacionais têm sobre o desenvolvimento das populações
locais, por causa do seu agir violando continuamente os direitos humanos e tendo como
único objectivo a maximização do próprio lucro. Além disso, muitas empresas estrangeiras
exploram sem critério os grandes recursos naturais africanos, usando metodologias
ecologicamente não compatíveis. P.- Na última encíclica o Papa faz referencia
precisamente á necessidade de procurar novos paradigmas de desenvolvimento através
do envolvimento das instituições politicas locais e da sociedade civil dos países
em questão. A cooperação internacional caminha na mesma direcção? R. –Sublinho
o meu completo acordo com as palavras de Bento XVI. Fundar um novo modelo de desenvolvimento
é certamente o primeiro passo que se deve dar para combater a actual recessão e para
evitar que surja uma nova crise. O mundo das Ong tomou consciência desde há muito
tempo, da necessidade de investir recursos também nas iniciativas de advocacy, que
se deve efectuar em colaboração com a sociedade civil mundial e finalizadas a modificar
as politicas das instituições internacionais e dos governos doadores. Portanto é necessário
envolver os sujeitos locais na procura de soluções especificas, que tenham como objectivo
o desenvolvimento integral da pessoa, abandonando definitivamente a ambição de maximizar
o lucro individual. P. – Que influencia tem a dimensão ética sobre
os dramas que afligem o continente africano? R. – Acredito firmemente na
responsabilidade individual e na moralidade de cada pessoa. São estes dois pressupostos
indispensáveis á criação de qualquer modelo de desenvolvimento que se deseja caracterizado
pela ética, a justiça e a paz. A imoralidade das pessoas transmite-se no mau funcionamento
das instituições e das organizações. Por exemplo, se o fenómeno da corrupção se encontra
muito difuso, a vários níveis em África, significa que são muitos os indivíduos que
fazem recurso a esta pratica para a gestão de assuntos económicos e políticos. Recordo
que também João Paulo II individuara na luta contra as estruturas de pecado, uma das
grandes finalidades da justiça procurada pelo cristão. As estruturas de pecado exploram
a pessoa, e espezinham a sua dignidade, pendo como objectivo unicamente maximizar
os próprios lucros. Penso que hoje exista ainda uma grande necessidade de combater
os fenómenos de ilegalidade financeira, precisamente para se ajudar, no crescimento
as nações com mais desvantagem. P. - Falava da corrupção. Pode explicar-nos
de que maneira esta pratica ilegal de gestão dos fundos se insere nas actividades
de cooperação e quais são as outras dificuldades que as Ong encontram no território?
R. – Existe um dado significativo que pode ajudar a compreender o mecanismo
da corrupção: perante o montante de 107 biliões de dólares que o conjunto de países
doadores transfere para os países do sul do mundo, o fluxo de recursos económicos
que anualmente é transferido das economias com desvantagem, á nações ricas, atinge
hoje os 800 biliões de dólares, quer dizer oito vezes mais. Como é que isto é possível?
Através dos chamados paraísos fiscais, a evasão dos impostos e as contas nos bancos
que garantem o segredo bancário Estes institutos financeiros podem acolher, entre
outras, as ingentes riquezas daqueles poucos africanos que se enriqueceram precisamente
explorando este modelo perverso de desenvolvimento. Portanto também as elites locais
têm a possibilidade de explorar estes mecanismos ilícitos, difusos a nível internacional,
mas evidentemente sustentados por elementos fortes das economias desenvolvidas. A
este propósito admira-se que a Itália não tenha ainda assinado a Convenção das Nações
Unidas para a luta contra a corrupção. Voltando ás dificuldades que as Ong
encontram no terreno, os sujeitos intermediários que têm a gestão das ajudas representam
certamente uma agravante . Quanto mais são as passagens intermédias, maior é o risco
de dispersão dos capitais, que sejam reciclados ou contudo geridos de maneira não
adequada a garantir o máximo beneficio para os sujeitos destinatários. Depois o estado
de miséria que aflige a população representa um outro elemento que atrasa as actividades
de desenvolvimento. Esta pobreza, com dimensões dramáticas, não depende na minha opinião
do comportamento das comunidades atingidas; é sobretudo o efeito de politicas de cooperação
erradas, de mecanismos comerciais distorcidos e sobretudo, precisamente da procura
de objectivos diferentes do respeito pelo desenvolvimento integral dos homens. As
grandes questões do continente africano são ainda enfrentadas com estratégias que
respondem aquela lógica colonial, de considerar a África como uma bacia da qual
se servir para enriquecer o resto do mundo.. Uma bacia que dispõe de recursos naturais,
de produções agrícolas e de mercados globais. A politica internacional pelo contrário
deveria ser finalizada precisamente ao bem comum que – como foi recordado na Encíclica
“Caritas in Veritate” – não pode ser delimitado a uma parte da população mundial,
mas necessariamente deve ser alargado a todos os homens e mulheres do planeta. (Sílvia
Koch) Escuta o original desta entrevista em
italiano: