2009-09-23 12:52:11

Magistério de Bento XVI – Alguns trechos sobre a África
 


(23/9/2009) O magistério de Bento XVI sobre a África encontra-se antes de mais nos discursos aos bispos por ocasião das suas visitas ad Limina; nos discursos aos novos Embaixadores africanos por ocasião da apresentação das Cartas Credenciais, e naqueles proferidos durante a recente viagem apostólica a Angola e Camarões ( 17-23 de Março de 2009) Várias referencias á África estão contidas nos discursos aos membros do Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé para a troca de bons votos do inicio do ano. Este ano as cimeiras do G-20 em Londres ( Abril de 2009) e do G-8 em Aquila ( Julho de 2009) proporcionaram ao Papa outra ocasião para chamar a atenção da comunidade internacional sobre a África.
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A Viagem apostólica aos Camarões e Angola ( 17-23 de Março de 2009)
Palavras de Bento XVI aos jornalistas durante a viagem de Roma para Yaoundé

As seitas, a SIDA, as religiões tradicionais em África …
(…)Em primeiro lugar, todos nós reconhecemos que, na África, o problema do ateísmo quase não se coloca, porque a realidade de Deus é tão presente, tão real no coração dos africanos que não crer em Deus, viver sem Deus não lhes aparece como tentação. É verdade que existem também os problemas das seitas: nós não anunciamos, como fazem alguns deles, um Evangelho de prosperidade, mas um realismo cristão; não anunciamos milagres, como fazem alguns, mas a sobriedade da vida cristã. Estamos convencidos de que toda esta sobriedade, este realismo que anuncia um Deus que se fez homem – e, por conseguinte, um Deus profundamente humano, um Deus que sofre também connosco, que dá um sentido ao nosso sofrimento – é um anúncio com um horizonte mais vasto, que tem mais futuro. E sabemos que estas seitas não são muito estáveis na sua consistência: de momento pode fazer bem o anúncio da prosperidade, de curas miraculosas, etc., mas, passado algum tempo, vê-se que a vida é difícil, que um Deus humano, um Deus que sofre connosco é mais convincente, mais verdadeiro, e presta uma maior ajuda à vida. É importante também a estrutura da Igreja católica que temos. Anunciamos não um pequeno grupo que depois de um certo tempo se isola e perde, mas entramos nesta grande rede universal da catolicidade, não só trans-temporal, mas presente sobretudo como uma grande rede de amizade que nos une e ajuda também a superar o individualismo para chegar a esta unidade na diversidade, que é a verdadeira promessa.

 
(…) penso que a realidade mais eficiente, mais presente em primeira linha na luta contra a SIDA é precisamente a Igreja católica, com os seus movimentos, com as suas diversas realidades. Penso na Comunidade de Santo Egídio que faz tanto, de modo visível e invisível também, na luta contra a SIDA, nos Camilianos, em muitas outras realidades, em todas as Irmãs que estão à disposição dos doentes... Diria que não se pode superar este problema da SIDA só com dinheiro, mesmo se necessário; mas, se não há a alma, se os africanos não ajudam (assumindo a responsabilidade pessoal), não se pode superá-lo com a distribuição de preservativos: ao contrário, aumentam o problema. A solução pode vir apenas da conjugação de dois factores: o primeiro, uma humanização da sexualidade, isto é, uma renovação espiritual e humana que inclua um novo modo de comportar-se um com o outro; o segundo, uma verdadeira amizade também e sobretudo pelas pessoas que sofrem, a disponibilidade à custa até de sacrifícios, de renúncias pessoais, para estar ao lado dos doentes. E estes são os factores que ajudam e proporcionam progressos visíveis. Diria, pois, que esta nossa dupla força de renovar o homem interiormente, de dar força espiritual e humana para um comportamento justo em relação ao próprio corpo e ao do outro, e esta capacidade de sofrer com os doentes, de permanecer presente nas situações de prova. Parece-me que esta é a resposta justa, e a Igreja faz isto e deste modo presta uma grandíssima e importante contribuição. Agradecemos a todos aqueles que o fazem.

 
(…) Parece-me, não obstante todos os problemas que conhecemos bem, que há grandes sinais de esperança. Novos governos, nova disponibilidade de colaboração, luta contra a corrupção – um grande mal que deve ser superado! – e também a abertura das religiões tradicionais à fé cristã, porque nas religiões tradicionais todos conhecem Deus, o único Deus, mas aparece um pouco distante. Esperam que se aproxime. É no anúncio de Deus feito Homem que elas se reconhecem: Deus aproximou-se realmente. Depois, a Igreja católica tem muito em comum: digamos, o culto dos antepassados encontra a sua resposta na comunhão dos santos, no purgatório. Santos não são só os canonizados, mas todos os nossos mortos. E assim, no Corpo de Cristo, realiza-se precisamente também aquilo que o culto dos antepassados intuía. E assim por diante. Há portanto um encontro profundo que dá realmente esperança. E cresce também o diálogo inter-religioso: falei pessoalmente com mais de metade dos bispos africanos, e as relações com os muçulmanos, apesar dos problemas que se podem verificar, são muito promissoras – disseram-me eles; o diálogo cresce no respeito recíproco e a colaboração nas responsabilidades éticas comuns. Aliás cresce também este sentido de catolicidade que ajuda a superar o tribalismo – um dos grandes problemas – e daí brota a alegria de ser cristão. Um problema das religiões tradicionais é o medo dos espíritos. Um dos bispos africanos disse-me: uma pessoa converte-se realmente ao cristianismo, torna-se plenamente cristão quando sabe que Cristo é realmente mais forte. Deixa de ter medo. E também este é um fenómeno em crescimento. Portanto, diria que, com tantos elementos e problemas que não podem faltar, crescem as forças espirituais, económicas, humanas que nos dão esperança, e gostaria de realçar precisamente os elementos de esperança.
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Do Discurso de Bento XVI no encontro com os Bispos dos Camarões na Igreja de Cristo Rei em Tsinga em Yaoundé – 18 de Março de 2009.

É dever dos cristãos deixar-se guiar pela doutrina social da Igreja, para contribuir para a construção de um mundo mais justo

 
(…) No contexto da globalização que bem conhecemos, a Igreja nutre um interesse particular pelas pessoas mais necessitadas. A missão do Bispo impele-o a ser o principal defensor dos direitos dos pobres, a suscitar e favorecer o exercício da caridade, manifestação do amor do Senhor pelos humildes. Assim os fiéis são levados a descobrir concretamente que a Igreja é uma verdadeira família de Deus, congregada pelo amor fraterno, que exclui todo o etnocentrismo e particularismo excessivos e contribui para a reconciliação e a colaboração entre as etnias para o bem de todos. Por outro lado, a Igreja quer, através da sua doutrina social, despertar a esperança nos corações dos marginalizados. Dever dos cristãos, sobretudo dos leigos que têm responsabilidades sociais, económicas, políticas, é também deixar-se guiar pela doutrina social da Igreja, a fim de contribuírem para a edificação dum mundo mais justo onde cada um possa viver com dignidade.
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Do discurso de Bento XVI durante o encontro com os membros do conselho especial para a África do sínodo dos bispos na nunciatura apostólica de Yaoundé -19 de marco de 2009
 
O laço profundo entre a África e o cristianismo
Alguns momentos significativos da história cristã deste continente podem recordar-nos a ligação profunda que existe entre a África e o cristianismo a partir das suas origens. Segundo a venerável tradição patrística, o evangelista São Marcos, que «transmitiu por escrito o que fora pregado por Pedro» (Ireneu, Adversus haereses III, I, 1), veio a Alexandria reanimar a semente espalhada pelo Senhor. Este Evangelista deu testemunho na África da morte na cruz do Filho de Deus – último momento da kenose – e da sua elevação soberana, para que «toda a língua proclame: Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai» (Fil 2, 11). A Boa Nova da vinda do Reino de Deus espalhou-se rapidamente no norte do vosso continente, onde teve ilustres mártires e santos e gerou insignes teólogos.
Depois de ter sido posto à prova por vicissitudes históricas, o cristianismo subsistiu, durante quase um milênio, apenas na parte nordeste do continente. Com a chegada dos europeus, que procuravam a rota para a Índia, nos séculos XV e XVI, as populações subsaarianas encontraram Cristo. Foram as populações costeiras que receberam, em primeiro lugar, o baptismo. Nos séculos XIX e XX, a África subsaariana viu chegar missionários, homens e mulheres, que provinham de todo o Ocidente, da América Latina e mesmo da Ásia. Desejo prestar homenagem à generosidade da sua resposta incondicional ao apelo do Senhor e ao seu ardente zelo apostólico. Aqui queria ir mais além e falar dos catequistas africanos, companheiros inseparáveis dos missionários na evangelização. Deus tinha preparado o coração de um certo número de leigos africanos, homens e mulheres, jovens e de mais idade, para receberem os seus dons e levarem a luz da sua Palavra aos seus irmãos e irmãs. Leigos com os leigos, souberam encontrar na língua de seus pais as palavras de Deus que tocaram o coração dos seus irmãos e irmãs. Souberam partilhar o sabor do sal da Palavra e fazer resplandecer a luz dos Sacramentos que anunciavam. Acompanharam as famílias no seu crescimento espiritual, encorajaram as vocações sacerdotais e religiosas, e serviram de ligação entre as suas comunidades e os presbíteros e os bispos. Com naturalidade, realizaram uma eficaz inculturação que deu maravilhosos frutos (cf. Mc4, 20). Foram os catequistas que permitiram que a «luz brilhasse diante dos homens» (Mt 5, 16), porque, vendo o bem que faziam, populações inteiras puderam dar glória ao nosso Pai que está nos céus. São africanos que evangelizaram africanos. Evocando a sua memória gloriosa, saúdo e encorajo os seus dignos sucessores que trabalham hoje com a mesma abnegação, a mesma coragem apostólica e a mesma fé dos seus antecessores. Que Deus os abençoe generosamente! Durante este segundo período, a terra africana foi abençoada com numerosos santos. Limito-me a nomear os gloriosos mártires do Uganda, os grandes missionários Ana-Maria Javouhey e Daniel Comboni, bem como a Irmã Anuarite Nengapeta e o catequista Isídoro Bakanja, sem esquecer a humilde Josefina Bakhita.
 
O primeiro sínodo para a África pôs em realce a necessidade de incarnar o mistério de uma Igreja-Familia
Encontramo-nos actualmente num período histórico que coincide, do ponto de vista civil, com a reavida independência e, do ponto de vista eclesial, com o acontecimento do Concílio Vaticano II. A Igreja na África preparou e acompanhou, durante este período, a construção das novas identidades nacionais e, paralelamente, procurou traduzir a identidade de Cristo segundo caminhos próprios. Enquanto a hierarquia se tinha pouco a pouco africanizado, a partir da ordenação dos Bispos do vosso continente pelo Papa Pio XII, a reflexão teológica começou a desenvolver-se. Seria bom que os vossos teólogos continuassem hoje a sondar a profundidade do mistério trinitário e o seu significado para a vida diária africana. Talvez este século permita, com a graça de Deus, o renascimento no vosso continente da prestigiosa Escola de Alexandria, certamente porém sob uma forma diversa e nova. Porque não esperar dela que possa fornecer aos africanos de hoje e à Igreja universal grandes teólogos e mestres espirituais que contribuiriam para a santificação dos habitantes deste continente e da Igreja inteira? A Primeira Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos permitiu indicar as direcções a tomar e pôs em evidência, para além do mais, a necessidade de aprofundar e encarnar na vida o mistério de uma Igreja-Família.
Quero sugerir qualquer reflexão sobre o tema específico da Segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, relativo à reconciliação, à justiça e à paz.
Segundo o Concílio Ecuménico Vaticano II, «a Igreja, em Cristo, é como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano» (Lumen gentium, 1). Para bem cumprir a sua missão, a Igreja deve ser uma comunidade de pessoas reconciliadas com Deus e entre si mesmas. Deste modo, pode anunciar a Boa Nova da reconciliação à sociedade actual, que infelizmente conhece, em numerosos lugares, conflitos, violências, guerras e ódio. O vosso continente não tem sido poupado; foi e é ainda triste cenário de graves tragédias que reclamam por uma verdadeira reconciliação entre os povos, as etnias, os homens. Para nós, cristãos, esta reconciliação enraíza-se no amor misericordioso de Deus Pai e realiza-se através da pessoa de Jesus Cristo, que, no Espírito Santo, ofereceu a todos a graça da reconciliação. As consequências que daí se hão-de manifestar serão a justiça e a paz, indispensáveis para construir um mundo melhor.
Se pertencemos todos á Família de Deus, já não deveria haver ódio, injustiças, guerras entre irmãos
“Na realidade, que pode haver de mais dramático, no actual contexto sócio-político e económico do continente africano, do que a luta frequentemente sangrenta entre grupos étnicos ou povos irmãos? E, se o Sínodo de 1994 insistiu sobre a Igreja-Família de Deus, qual poderá ser o contributo do deste ano para a construção da África, sedenta de reconciliação e à procura da justiça e da paz? Os conflitos locais ou regionais, os massacres e os genocídios que sucedem no continente devem-nos interpelar de maneira muito particular: se é verdade que, em Jesus Cristo, pertencemos à mesma família e partilhamos a mesma vida, dado que, nas nossas veias, circula o mesmo Sangue de Cristo, que fez de nós filhos de Deus, membros da Família de Deus, então não deveria haver mais ódios, injustiças e guerras ente irmãos.
Ao constatar o avanço da violência e a aparição do egoísmo em África, o Cardeal Bernardin Gantin, de venerada memória, fazia apelo, desde 1988, a uma Teologia da Fraternidade, como resposta aos prementes apelos dos pobres e dos humildes (cf. L’Osservatore Romano, ed. Francesa de 12 de Abril de 1988, pp. 4-5). Na memória, tinha talvez aquilo que escrevia o africano Lactâncio ao alvorecer do século IV: «O primeiro dever da justiça é reconhecer o homem como um irmão. De facto, se o mesmo Deus nos fez e nos gerou a todos na mesma condição, que aponta para a justiça e a vida eterna, estamos seguramente unidos por laços de fraternidade: quem não os reconhece, é injusto» (Epitomé des Institutions Divines, 54, 4-5: SC 335, p. 210). A Igreja-família de Deus que está em África fez uma opção preferencial pelos pobres, já desde a Primeira Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos. Ela torna assim patente que a situação de desumanização e opressão que aflige os povos africanos não é irreversível; pelo contrário, coloca cada qual diante de um desafio: o da conversão, da santidade e da integridade”(…)
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Do discurso de Bento XVI na cerimonia de boas-vindas no aeroporto internacional “4 de Fevereiro” de Luanda
O diálogo meio para superar todas as formas de conflito para fazer de cada Nação uma casa de paz e de fraternidade
“Quanto a mim, venho de um país onde a paz e a fraternidade são caras aos corações de todos os habitantes, em particular de quantos – como eu – conheceram a guerra e a separação entre irmãos pertencentes à mesma nação, por causa de ideologias devastadoras e desumanas que, sob a falsa aparência de sonhos e ilusões, faziam pesar sobre os homens o jugo da opressão. Compreendeis por isso como sou sensível ao diálogo entre os homens para superar qualquer forma de conflito e de tensão e fazer de cada nação – e, por conseguinte, também da vossa Pátria – uma casa de paz e fraternidade. Com tal finalidade, deveis tirar do vosso património espiritual e cultural os valores melhores de que Angola é portadora, para irdes ao encontro uns dos outros sem medo, aceitando partilhar as próprias riquezas espirituais e materiais em benefício de todos.
Queridos amigos angolanos, o vosso território é rico; a vossa nação é forte. Usai, porém, estes vossos créditos para favorecer a paz e o entendimento entre os povos, numa base de lealdade e igualdade que promova na África aquele futuro pacífico e solidário a que todos aspiram e têm direito. Para isso, vos peço: Não vos rendais à lei do mais forte! Porque Deus concedeu aos seres humanos voar, sobre as suas tendências naturais, com as asas da razão e da fé. Se vos deixardes levar por elas, não será difícil reconhecer no outro um irmão que nasceu com os mesmos direitos humanos fundamentais. Infelizmente, dentro das vossas fronteiras angolanas, há ainda tantos pobres que reclamam o respeito dos seus direitos. Não se pode esquecer a multidão de angolanos que vive abaixo da linha de pobreza absoluta. Não desiludam as suas expectativas!
Trata-se de uma obra imensa, que requer uma maior participação cívica de todos. É necessário envolver nela a sociedade civil angolana inteira, mas esta precisa de apresentar-se mais forte e articulada tanto entre as forças que a compõem como também no diálogo com o Governo. Para dar vida a uma sociedade verdadeiramente atenta ao bem comum, são necessários valores compartilhados por todos.
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Do discurso de Bento XVI por ocasião do encontro com as autoridades politicas e civis e com o Corpo Diplomático no salão de honra do Palácio Presidencial de Luanda a 20 de Março de 2009
Os próprios africanos, trabalhando juntos pelo bem das suas comunidades devem ser os agentes primários do seu desenvolvimento
“Angola sabe que chegou para a África o tempo da esperança. Cada comportamento humano recto é esperança em acção. As nossas acções nunca são indiferentes aos olhos de Deus; e também não o são para o progresso da história. Meus amigos, armados de um coração íntegro, magnânimo e compassivo, podereis transformar este continente, libertando o vosso povo do flagelo da avidez, da violência e da desordem e guiando-o pela senda daqueles princípios que são indispensáveis em qualquer democracia civil moderna: o respeito e promoção dos direitos humanos, um governo transparente, uma magistratura independente, uma comunicação social livre, uma administração pública honesta, uma rede de escolas e de hospitais que funcionem de modo adequado, e a firme determinação, radicada na conversão dos corações, de acabar de uma vez por todas com a corrupção. Na Mensagem deste ano para o Dia Mundial da Paz, quis assinalar à atenção de todos a necessidade duma perspectiva ética do desenvolvimento. De facto, mais do que simples programas e protocolos, as pessoas deste continente estão justamente pedindo uma conversão profundamente convicta e duradoura dos corações à fraternidade (cf. n. 13). A sua solicitação a quantos servem na política, na administração pública, nas agências internacionais e nas companhias multinacionais é sobretudo esta: permanecei ao nosso lado de modo verdadeiramente humano, acompanhai-nos as nós, às nossas famílias e comunidades.
O desenvolvimento económico e social da África requer a coordenação do Governo nacional com as iniciativas regionais e com as decisões internacionais. Uma tal coordenação supõe que as nações africanas não sejam vistas apenas como destinatárias dos planos e soluções elaborados por outros. Os próprios africanos, trabalhando juntos para o bem das suas comunidades, devem ser os agentes primários do seu desenvolvimento. A tal propósito, existe um número crescente de eficazes iniciativas que merecem ser sustentadas. Contam-se entre elas a New Partnership for Africa’s Development (NEPAD) e o Pacto para a segurança, a estabilidade e o desenvolvimento na Região dos Grandes Lagos, juntamente com o Kimberley Process, a Publish What You Pay Coalition e a Extractive Industries Transparency Iniziative, que promovem a transparência, o exercício comercial honesto e o bom governo. Quanto à comunidade internacional no seu todo, é de urgente importância a coordenação dos esforços para enfrentar a questão das alterações climáticas, a realização plena e honesta dos compromissos em prol do desenvolvimento indicados pelo Doha round e, de igual forma, a realização desta promessa muitas vezes repetida pelos países desenvolvidos: destinarem 0,7% do seu PIB (produto interno bruto) para ajudas oficiais ao desenvolvimento. Esta assistência é ainda mais necessária hoje com a tempestade financeira mundial em curso; que ela não seja mais uma das suas vítimas”.
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Palavras de Bento XVI aos jornalistas durante o voo de regresso a Roma -23 de Março de 2009
Os africanos viram no Papa a personificação do facto que somos todos filhos e família de Deus
 
Ficaram-me gravadas na memória sobretudo duas sensações: por um lado, a sensação desta cordialidade quase exuberante, desta alegria, duma África em festa, e parece-me que viram no Papa, por assim dizer, a personificação do facto de sermos todos filhos e família de Deus. Existe esta família e nós, com todos os nossos limites, estamos nesta família e Deus está connosco. Digamos que a presença do Papa ajudou a sentir isto e a viver realmente na alegria.
Por outro lado, impressionou-me muito o espírito de recolhimento nas liturgias, o sentido intenso do sagrado: nas liturgias, não há auto-apresentação dos grupos, auto-animação, mas há a presença do sagrado, do próprio Deus. Até os movimentos eram sempre marcados pelo respeito e consciência da presença divina. Isto suscitou em mim uma grande impressão. ( …)
Não nos limitámos a distribuir o Instrumentum laboris para o Sínodo, mas trabalhámos também para o Sínodo. Ao entardecer do dia de S. José, reuni-me com todos os componentes do Conselho do Sínodo – 12 Bispos – e cada um falou sobre a situação da sua Igreja local. Referiram-me as suas propostas, as suas expectativas, e assim nasceu uma ideia muito rica da realidade da Igreja na África: como se move, como sofre, o que faz, quais são as esperanças, os problemas. Poderia contar muitas coisas, como, por exemplo, da Igreja na África do Sul, que teve uma experiência de reconciliação difícil, mas substancialmente bem sucedida: agora ela ajuda com as suas experiências a tentativa de reconciliação no Burúndi e procura fazer algo parecido, embora com enormes dificuldades, no Zimbabwe.
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Do discurso de Bento XVI aos membros do Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé para a troca de bons votos de ano novo 8 de Janeiro de 2007
As ameaças á vida e á família em África
“Como não se preocupar com os contínuos atentados contra a vida, desde a concepção até à morte natural? Não evitam estes atentados nem sequer regiões nas quais a cultura do respeito da vida é tradicional, como em África, onde se tenta banalizar sub-repticiamente o aborto, através do Protocolo de Maputo, assim como através do Plano de acção adoptado pelos Ministros da saúde da União Africana, que em breve será submetida à Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo.
De igual modo desenvolvem-se as ameaças contra a estrutura natural da família, fundada sobre o matrimónio de um homem e de uma mulher, e as tentativas de a relativizar conferindo-lhe o mesmo estatuto de outras formas de união radicalmente diferentes. Tudo isto ofende a família e contribui para a desestabilizar, violando a sua especificidade e o seu papel social único. Outras formas de agressão à vida são por vezes cometidas sob forma de pesquisa científica. Difunde-se a convicção de que a pesquisa se submete apenas às leis que ela se deseja dar e que não tem outros limites a não ser as próprias possibilidades. Isto verifica-se, por exemplo, nas tentativas de legitimar a clonagem humana para hipotéticas finalidades terapêuticas.
Não esquecemos a África e as suas numerosas situações de guerra e de tensão: o drama do Darfur, o agravar-se da situação no Corno de África
Considerando a situação política nos diferentes continentes, ainda encontramos motivos de preocupação e de esperança. Verificamos, em primeiro lugar, que a paz é com muita frequência frágil e até injuriada. Não podemos esquecer o Continente africano. O drama do Darfour continua e expande-se às regiões fronteiras do Chade e da República Centro-Africana. A comunidade internacional parece ser impotente há quatro anos, não obstante as iniciativas destinadas a aliviar as populações provadas e a dar uma solução política. Só mediante uma colaboração activa entre as Nações Unidas, a União Africana, os governos envolvidos e outros protagonistas é que estes meios poderão tornar-se eficazes. Convido-os a todos a agir com determinação: não podemos aceitar que tantos inocentes continuem a sofrer e a morrer deste modo.
A situação no Corno de África agravou-se recentemente, com a retomada das hostilidades e com a internacionalização do conflito. Ao fazer apelo a todas as partes para que abandonem as armas e adoptem a negociação, seja-me consentido recordar a memória da Irmã Leonella Sgorbati que deu a sua vida ao serviço dos mais desfavorecidos, invocando o perdão para os seus algozes. O seu exemplo e o seu testemunho inspirem todos os que procuram realmente o bem da Somália.
Alguns sinais positivos
No Uganda, é necessário desejar os progressos das negociações entre as partes, em vista do fim de um conflito cruel que vê inclusivamente o recrutamento de numerosas crianças obrigadas a tornarem-se soldados. Isto permitirá aos numerosos prófugos de regressar às suas casas e de reencontrar uma vida digna. A contribuição dos chefes religiosos e a recente designação de um Representante do Secretariado Geral das Nações Unidas são bons auspícios. Repito: não esqueçamos a África e as suas numerosas situações de guerra e de tensão. É preciso recordar que unicamente as negociações entre os diferentes protagonistas podem abrir o caminho a um regulamento justo dos conflitos e fazer entrever progressos rumo à consolidação da paz.
A Região dos Grandes Lagos está ensanguentada desde há anos por guerras sem piedade. É necessário acolher os recentes desenvolvimentos positivos com interesse e esperança, sobretudo a conclusão da fase de transição política no Burundi e mais recentemente na República Democrática do Congo. Contudo é urgente que os países se dediquem a um regresso ao funcionamento das instituições do estado de direito, para corrigir todos os arbítrios e para permitir o desenvolvimento social. Em Ruanda, faço votos por que o longo processo de reconciliação nacional depois do genocídio encontre a sua saída na justiça, mas também na verdade e no perdão. A Conferência internacional sobre a Região dos Grandes Lagos, com a participação de uma delegação da Santa Sé e dos representantes de numerosas conferências episcopais nacionais e regionais da África central e oriental, deixe entrever novas esperanças. Por fim, gostaria de mencionar a Costa do Marfim, exortando as partes em causa a criar um clima de confiança recíproca que possa levar ao desarmamento e à pacificação, e por outro lado, a África Austral: nestes países, milhões de pessoas encontram-se numa situação de vulnerabilidade, que exige a atenção e o apoio da comunidade internacional.
Sinais positivos para a África vêm também da vontade expressa pela Comunidade Internacional de manter este continente no centro da sua atenção, e também do fortalecimento das instituições continentais e regionais, que dão testemunho da intenção dos países envolvidos a responsabilizarem-se cada vez mais pelo seu destino. É necessário também elogiar a atitude digna das pessoas que, todos os dias, se empenham com determinação para promover projectos que contribuem para o desenvolvimento e para a organização da vida económica e social.
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Do discurso de Bento XVI aos membros do Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé para a troca de bons votos de ano novo – 7 de Janeiro de 2008
Ainda sinais preocupantes da África
(…) Voltando-me agora para a África, gostaria em primeiro lugar de reafirmar o meu profundo sofrimento, ao verificar como a esperança parece quase vencida pelo sinistro cortejo de fome e de morte que continua no Darfur. Desejo de coração que a acção conjunta das Nações Unidas e da União Africana, cuja missão acaba de iniciar, leve ajuda e conforto às populações provadas. O processo de paz na República Democrática do Congo confronta-se com fortes resistências junto dos Grandes Lagos, sobretudo nas regiões orientais, e a Somália, em particular Mogadíscio, continua a ser afligida por violências e pela pobreza. Faço apelo às partes em conflito para que cessem as acções militares, para que seja facilitada a passagem das ajudas humanitárias e para que os civis sejam respeitados. O Quénia conheceu nestes últimos dias uma brusca erupção de violência. Associando-me ao apelo lançado pelos Bispos a 2 de Janeiro, convido todos os habitantes, em particular os responsáveis políticos, a procurar mediante o diálogo uma solução pacífica, fundada na justiça e na fraternidade. A Igreja católica não permanece indiferente aos gemidos de dor que se elevam nestas regiões. Ela faz seus os pedidos de ajuda dos refugiados e dos deslocados e compromete-se para favorecer a reconciliação, a justiça e a paz. Este ano, a Etiópia festeja a entrada no terceiro milénio cristão, e tenho a certeza de que as celebrações organizadas para esta ocasião hão-de contribuir também para recordar a obra imensa, social e apostólica, realizada pelos cristãos na África.
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Do discurso de Bento XVI aos membros do Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé para a troca de bons votos de ano novo – 8 de Janeiro de 2009
Os responsáveis políticos tomem as medidas necessárias para resolver os conflitos em curso na África
(…) Daqui a poucos meses, terei a alegria de me encontrar com muitos irmãos e irmãs na fé e em humanidade que vivem em África. Na expectativa desta visita que tanto desejei, rezo ao Senhor para que os seus corações sejam dispostos ao acolhimento do Evangelho e a vivê-lo com coerência, construindo a paz pela luta contra a pobreza moral e material. Deve ser prestada uma atenção especial à infância:  vinte anos após a adopção da Convenção sobre os Direitos da Criança, elas continuam a ser muito vulneráveis. Numerosas crianças vivem o drama de refugiados e deslocados na Somália, no Darfur e na República Democrática do Congo. Trata-se de fluxos migratórios relativos a milhões de pessoas que têm necessidade de ajuda humanitária e que sobretudo são privadas dos seus direitos elementares e feridas na sua dignidade. Peço a quantos exercem responsabilidades políticas, a nível nacional e internacional, que tomem todas as medidas necessárias para resolver os conflitos em acto e para pôr fim às injustiças que os provocaram. Faço votos por que na Somália, o restabelecimento do Estado possa finalmente progredir, para que cessem os intermináveis sofrimentos dos habitantes desse País. De igual modo no Zimbábue, a situação permanece crítica e são necessárias consideráveis ajudas humanitárias. Os Acordos de paz no Burundi lançaram uma luz de esperança para a região. Formulo votos a fim de que sejam plenamente aplicados e se tornem fonte de inspiração para outros países, que ainda não encontraram o caminho da reconciliação. A Santa Sé, como sabeis, segue com atenção especial o continente africano e está feliz por ter estabelecido no ano passado relações diplomáticas com Botsuana. (…)
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Do documento do Conselho Pontifício Justiça e Paz publicado na véspera da Conferencia de Doha sobre o financiamento ao desenvolvimento – 18 de Dezembro de 2008
África e financiamento do desenvolvimento
É necessário prestar uma atenção particular ao Continente africano, onde o mapa do desenvolvimento registra fortes desigualdades. Na África, a situação é diferente de país a país; aliás, observa-se uma tendência à polarização entre situações de bom êxito na obtenção de recursos e da sua frutificação, e situações de total marginalização. Por exemplo, só poucos países africanos atraem investimentos estrangeiros directos não exclusivamente interessados na exploração dos recursos minerários ou energéticos. Depende muito da situação interna de cada um dos países; segundo os termos do "Monterrey Consensus", da capacidade de mobilizar recursos internos e de lutar contra fugas de capital, evasão fiscal e corrupção.
Além disso, é evidente que em situações de conflito armado infelizmente numerosas na África a dimensão económica do desenvolvimento torna-se simplesmente improponível.
Quanto ao perdão da dívida externa, progressos foram alcançados; todavia, os recursos para a eliminação da dívida raramente foram adicionais em relação aos fluxos de ajuda, e isto comportou efeitos de recomposição dos balanços públicos sem um real incremento dos recursos disponíveis para as acções de luta contra a pobreza.
Dois pontos devem ser oportunamente salientados. Um diz respeito às opções de política internacional dos governos africanos: deve-se apoiar a crescente vontade de cooperação internacional Sul-Sul, num continente onde adquirir uma certa familiaridade com a cooperação internacional poderia contribuir para orientar preventivamente os conflitos num espaço de negociação incruento. O segundo refere-se às opções de política interna, em matéria de luta contra a pobreza e de desenvolvimento: é necessário que sejamos promotores convictos da solução solidária, que valorize e reforce as formas de resposta às necessidades que nascem "a partir de dentro" da sociedade africana, que possui um grande património de cultura solidária que sabe manifestar-se com uma extraordinária força de testemunho.
A experiência de cooperação internacional para o desenvolvimento já é suficientemente ampla para permitir concluir que políticas e recursos "vindos do alto" podem produzir efeitos benéficos imediatos, mas sozinhos não oferecem respostas adequadas para sair, de modo sustentável, da pobreza. Os princípios de subsidiariedade e de solidariedade, tão queridos à doutrina social da Igreja, podem inspirar um desenvolvimento autêntico, no sinal de um humanismo integral e solidário.
 
 

 
 
 
 

 
 
 
 
 







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