Alto comissário da ONU para os Refugiados exclui a Líbia como país de acolhimento
para as pessoas que requerem uma protecção internacional
(22/9/2009)O alto comissário da ONU para os Refugiados, António Guterres,
excluiu a Líbia como país de acolhimento para as pessoas que requerem uma protecção
internacional, porque este país "não oferece as condições de protecção" necessárias. "A
Líbia não tem capacidade de estabelecer um espaço de protecção para os requerentes
de asilo de boa fé", disse o alto comissário da ONU para os Refugiados (ACNUR), o
ex-primeiro-ministro português António Guterres, durante uma reunião com ministros
do Interior da UE. "A situação neste país é terrível ", acusou. "Há o risco de
as pessoas que precisam de uma protecção internacional serem devolvidas para o seu
país de origem e é por essa razão que manifestamos as nossas reservas", explicou. "O
ACNUR trabalha na Líbia sem reconhecimento oficial e dizemos que não podemos oferecer
na Líbia uma protecção adequada aos refugiados que pedem asilo", acrescentou. A
tomada de posição do ACNUR embaraça a União Europeia, porque milhares de pessoas que
pedem asilo, originárias dos países do Corno de África, chegaram à Líbia levadas por
traficantes de seres humanos, que lhes acenam com a esperança de chegar à União Europeia
através da Itália. Cerca de 75 por cento das 35 mil pessoas que desembarcaram nas
costas italianas em 2008 pediram uma protecção internacional que só foi concedida
a 50 por cento delas, sublinhou o ACNUR. A Itália insiste que estes pedidos sejam
tratados num país africano da bacia do Mediterrâneo e é o advogado da Líbia, à procura
de reconhecimento internacional. "Devemos ter um mecanismo de protecção para as
margens do Sul do Mediterrâneo, porque senão os requerentes de asilo são obrigados
a entregar-se aos passadores", sublinhou o comissário europeu para a Justiça, Liberdade
e Segurança, Jacques Barrot. O asilo continua a ser um dos pontos negros da política
de imigração da UE, pouco generosa face aos refugiados. Convidados a pronunciarem-se
sobre um programa europeu de reinstalação de refugiados, a maioria dos ministros insistiu
no carácter "voluntário" da iniciativa e quando a França, a Bélgica e o Luxemburgo
defenderam uma maior solidariedade entre os membros da UE convidados a acolher uma
parte dos que procuram asilo desembarcados em Itália, Grécia, Malta e Chipre, não
obtiveram resposta. Por ora, os países do Norte mostram-se surdos e a França é
o único país que participa no programa piloto de reinstalação que está em marcha para
aliviar Malta. Segundo dados de Bruxelas, a nível mundial a grande maioria dos
refugiados encontra-se fora da UE, nos países em desenvolvimento da Ásia e de África. O
regresso aos seus países de origem é a opção preferida pela maioria deles mas, para
alguns, em especial os mais vulneráveis, a reinstalação é a única solução. O ACNUR
calcula que só em 2010, do número aproximado de 10 milhões de refugiados existentes
no mundo, 203 mil necessitam de ser reinstalados. Em 2008, Estados em todo o mundo
ofereceram-se para reinstalar cerca de 65 mil. Deste número, 4.378 refugiados, isto
é 6,7 por cento, foram reinstalados na UE.