A África a caminho do Sínodo: reconciliação, justiça e paz uma necessidade urgente
(14/9/2009) Caminhos de paz foram abertos por Pastores, por pessoas consagradas,
Comunidades Eclesiais Vivas, leigos, individualmente ou por meio de associações. Ainda
subsistem obstáculos que devem ser ultrapassados. Paz: as experiências da
sociedade A dimensão sociopolítica da paz. A instabilidade política
que tanto compromete a paz no continente africano enraíza-se na história: a escravatura,
a colonização e a neo-colonização. Embora a migração interna e externa das populações
seja um fenómeno social normal, acabou por se tornar uma fonte de problemas e conflitos.
A paz é certamente mais que o silêncio das armas, mas os conflitos são o sintoma da
sua ausência (na R.D. do Congo, no Zimbabwe, na Somália, no Sudão [Darfur], etc.).
As transições políticas para uma gestão democrática do poder mostraramao mundo
cenas fratricidas orquestradas por facções rivais. A dimensão socioeconómica
da paz. As respostas salientam que o desemprego, a emigração massiva e clandestina
e, sobretudo, os investimentos exagerados no armamento se decidem pelo recurso àviolência, enquanto existem milhares de pobres, para além de serem vítimas de
desigualdades económicas e de injustiças sociais,. A este propósito, o Santo Padre
Bento XVI observava que «há os países do mundo industrialmente desenvolvido que
arrecadam avultados lucros da venda de armas e queoligarquias reinantes em
muitos países pobres pretendem reforçar a sua posição com a aquisição de armas cada
vez mais sofisticadas». As guerras que atingem as regiões africanas são, em grande
parte, ligadas à economia em geral. A dimensão sociocultural da paz. As
vítimas mais afectadas pelos atentados contra a paz são as famílias. A desestruturação
do tecido familiar e a influência dos media provocaram progressivamente a delinquência
juvenil, a depravação dos costumes, o abandono à droga, etc. Mas alguns consideram
que a razão profunda da instabilidade das sociedades do continente está associada
à alienação cultural e à discriminação racial que engendraram ao longo da história
um complexo de inferioridade, o fatalismo e o medo. O desprezo pelas línguas africanas
e pela literatura oral africana arrastou a rejeição dos valores propriamente africanos,
de modo que os jovens, privados de referências, se tornaram instáveis.
Paz: as experiências na Igreja A Igreja participou, a vários níveis, na
restauração nacional da paz, num determinado número de países, graças ao ensino e
à acção dos Pastores. Nos Grandes Lagos, por exemplo, as Conferências episcopais trabalharam
para construir a paz favorecendo a reaproximação dos jovens dos países em conflito.
Para cultivar a paz: que interpelações? As Igrejas particulares esperam
da Assembleia que reflicta sobre a maneira de construir uma sociedade de paz pela
ajuda mútua, pela disponibilidade em acolher o outro, pelo serviço fraterno aos mais
fracos (crianças, doentes, idosos), pela justiça e amor entre irmãos e irmãs, pelo
restabelecimento da autoridade parental nas famílias. «A família - diz o Santo
Padre Bento XVI na sua mensagem da paz - é a primeira e insubstituível educadora
para a paz (…) porque (ela) permite fazer experiências decisivas de paz». Sobressai
das respostas a convicção de que «Deus pode criar aberturas para a paz lá onde parece
que não há senão obstáculos e fechamento sobre si mesmo», como lembrava o Papa
João Paulo II. Mas, sublinhava ainda, «não há paz sem justiça, não há justiça
sem perdão».Porque «na realidade, a verdadeira paz é “obra da justiça” (Is 32,
17)», esta justiça do Reino que incorpora e transcende os limites da legalidade e
da qual Igreja Família de Deus quer ser Serva. Assim se manifesta a originalidade
da mensagem evangélica da reconciliação, da justiça e da paz. (Sínodo dos Bispos
– II assembleia especial para a África: instrumentum laboris)