2009-09-17 14:01:33

Evitar a secularização dos padres e a clericalização dos leigos: pediu o Papa, dirigindo-se a um grupo de Bispos brasileiros


(17/9/2009) “Há que evitar a secularização dos padres e a clericalização dos leigos”: advertiu Bento XVI, recebendo nesta quinta, em Castel Gandolfo, mais um grupo de Bispos do Brasil, desta vez da região nordeste 2.
O Papa começou por recordar que, “nos seus fiéis e nos seus ministros, a Igreja é sobre a Terra a comunidade sacerdotal organicamente estruturada como Corpo de Cristo, para desempenhar eficazmente, unida à sua Cabeça, a sua missão histórica de salvação”. No único Corpo de Cristo, os membros não têm todos a mesma função. É aliás nesta diversidade essencial que está a vida e a beleza do Corpo.

É na diversidade essencial entre sacerdócio ministerial e sacerdócio comum que se entende a identidade específica dos fiéis ordenados e leigos. Por essa razão é necessário evitar a secularização dos sacerdotes e a clericalização dos leigos. Nessa perspectiva, portanto, os fiéis leigos devem empenhar-se em exprimir na realidade, inclusive através do empenho político, a visão antropológica cristã e a doutrina social da Igreja.

Por sua vez os padres não se devem comprometer pessoalmente na política, e isso para poderem favorecer a unidade e a comunhão de todos os fiéis e serem uma referência para todos.

É importante fazer crescer esta consciência nos sacerdotes, religiosos e fiéis leigos, encorajando e vigiando para que cada um possa sentir-se motivado a agir segundo o seu próprio estado. / O aprofundamento harmônico, correto e claro da relação entre sacerdócio comum e ministerial constitui atualmente um dos pontos mais delicados do ser e da vida da Igreja.

“O exíguo número de padres poderia levar as comunidades a resignarem-se a esta carência, consolando-se porventura com o facto de a mesma evidenciar melhor o papel dos fiéis leigos” – advertiu Bento XVI. Ora não é a falta de presbíteros que há-de justificar uma participação mais activa e numerosa dos leigos”.

Na realidade, quanto mais os fiéis se tornam conscientes das suas responsabilidades na Igreja, tanto mais sobressaem a identidade específica e o papel insubstituível do sacerdote como pastor do conjunto da comunidade, como testemunha da autenticidade da fé e dispensador, em nome de Cristo-Cabeça, dos mistérios da salvação.

De facto, «a missão de salvação, confiada pelo Pai a seu Filho encarnado, é confiada aos Apóstolos e, por eles, aos seus sucessores, que recebem o Espírito de Jesus para agirem em seu nome e na sua pessoa. O ministro ordenado é pois o laço sacramental que une a ação litúrgica àquilo que disseram e fizeram os Apóstolos e, por eles, ao que disse e fez o próprio Cristo”,

“A função do presbítero é essencial e insubstituível para o anúncio da Palavra e a celebração dos Sacramentos, sobretudo da Eucaristia, memorial do Sacrifício supremo de Cristo, que dá o seu Corpo e o seu Sangue. Por isso urge pedir ao Senhor que envie operários à sua Messe; além disso, é preciso que os sacerdotes manifestem a alegria da fidelidade à própria identidade com o entusiasmo da missão.

Mesmo quando, na situação atual, se é por vezes obrigado a “organizar a vida eclesial com poucos presbíteros, é importante evitar que uma tal situação seja considerada normal ou típica do futuro” – considerou Bento XVI. Há que concentrar esforços para despertar novas vocações sacerdotais e encontrar os pastores indispensáveis, melhor formados e mais numerosos para sustentar a vida de fé e a missão apostólica dos fiéis. Por outro lado, os padres e diáconos hão-de viver em plenitude e com coerência todos os seus compromissos.

Aqueles que receberam as Ordens sacras são chamados a viver com coerência e em plenitude a graça e os compromissos do baptismo, isto é, a oferecerem-se a si mesmos e toda sua vida em união com a oblação de Cristo. A celebração quotidiana do Sacrifício do Altar e a oração diária da Liturgia das Horas devem ser sempre acompanhadas pelo testemunho de toda existência que se faz dom a Deus e aos outros e torna-se assim orientação para os fiéis.

Na sua saudação inicial ao Papa, em nome dos restantes bispos participantes na audiência, D. António Muniz Fernandes, arcebispo de Maceió e presidente do Regional Nordeste 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil comparara a Igreja à Samaritana que, encontrando o Mestre, se converte e parte em missão.

Como a Samaritana, a Igreja encontra o Mestre, sentado à beira dos poços da história, oferecendo a água que sacia, gera vida, provoca conversão, recupera o vigor e impulsiona para a missão. Convoca a um processo de desinstalação da rotina e do comodismo da vida; provoca revisão das estruturas, métodos e meios que não mais respondem à transmissão audaz da boa-nova do Evangelho.

Referindo “a audácia” que a todos se requer “para ir para além de uma pastoral de conservação, passando a uma atitude decididamente missionária”, acrescentou ainda D. António Fernandes:

A Igreja quer ser uma Igreja Samaritana e peregrina, uma Igreja sempre a caminho, misturada na história das pessoas, solidária com todos os que encontramos à beira do Caminho, deixados à margem, excluídos, negados na sua condição de humanidade. / Uma Igreja que não seja uma mera passante, apressada, com compromissos superficiais que roubam a sensibilidade, mas uma Igreja com tempo para parar junto das pessoas e cuidar das suas feridas, sem horas marcadas para o fim da viagem, com reservas para provocar nos outros a cadeia de solidariedade e de comunhão com a vida humana ferida.








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