2009-09-16 18:29:55

A África a caminho do Sínodo: reconciliação, justiça e paz uma necessidade urgente


(14/9/2009) Ressalta das respostas que o conceito africano de justiça é sinónimo de reconciliação e de paz porque está enraizado na ideia de restaurar a harmonia entre o ofendido e o ofensor e com a sociedade no seu todo. Os obstáculos na via da justiça são tais que os fiéis esperam dos Padres sinodais propostas que os ajudem a reflectir sobre eles.
Justiça: as experiências da sociedade
A dimensão sociopolítica da justiça. Para reclamar a justiça, certas “minorias étnicas” ou regiões lesadas tomam as armas e desencadeiam a guerra. As sublevações e expulsões de povos, estrangeiros no seu proprio país, são actos de grave injustiça que passam muitas vezes impunemente. Pois, com frequência, as instituições judiciárias e todas as que lutam contra a corrupção são infiltradas pelas forças políticas. Aqueles que detêm o poder utilizam as forças de segurança para reprimir os cidadãos que exprimem opiniões contrárias às suas. Outras formas de injustiça são mencionadas: a pena de morte, os tratamentos desumanos infligidos aos prisioneiros, em prisões tantas vezes sobrelotadas; os prazos excessivamente longos dos processos; a tortura dos prisioneiros; a expulsão dos refugiados em desprezo da sua dignidade.
A dimensão socioeconómica da justiça. O Mecanismo Africano de Avaliação pelos Pares (MAEP) procura identificar as formas e as causas da corrupção que grassa sobre o continente e que fica impune. Os recursos naturais são confiscados e delapidados por grupos de interesse. A má gestão, os desvios de fundos públicos, o êxodo de capitais para bancos estrangeiros contra o qual a Igreja em África tinha já elevado a voz no último Sínodo,  são formas de injustiça que ficam impunes e contra as quais a Igreja deve emprestar a sua voz aos sem voz.
Os trabalhadores agrícolas sobre os quais repousa uma grande parte da economia africana são vítimas de injustiça na comercialização dos seus produtos, frequentemente pagos a preços muito baixos, fixados em certas regiões paradoxalmente pelos próprios clientes. A população de si já desfavorecida empobrece ainda mais. A campanha de sementes dos Organismos Geneticamente Modificados (OGM), que pretendem assegurar a segurança alimentar, não deve fazer esquecer os verdadeiros problemas dos agricultores: a falta de terra arável, de água, de energia, de acesso ao crédito, de formação agrícola, de mercados locais, de infra-estruturas rodoviárias, etc. Esta técnica pode arruinar os pequenos proprietários, de suprimir a sua sementeira tradicional tornando-os dependentes das sociedades produtoras dos OGM. A isto acresce o problema das mudanças climatéricas, cujos efeitos se fazem sentir nas zonas áridas, comprometendo os ganhos modestos das economias africanas. Podem os Padres sinodais ficar insensíveis a estas questões que pesam sobre os ombros dos camponeses?
A dimensão sociocultural da justiça. A cultura é igualmente um lugar de injustiças que devem ser analisadas e erradicadas, especialmente o nepotismo e o tribalismo que são um simulacro do dever de ajuda a seu “irmão”. A mulher continua a ser subjugada em todas as regiões sob diversas formas: as violências domésticas, expressão do domínio dos homens sobre as mulheres; a poligamia que desfigura o rosto sacro do matrimónio e da família, também pela competição entre as mulheres e crianças por elas geradas; a falta de respeito pela dignidade e os direitos das viúvas; a prostituição; a mutilação dos órgãos genitais das mulheres. Na relação entre as nações, a globalização é um fenómeno que importa considerar na sua dimensão legal, administrativa e prática. Pois, a África tornou-se vulnerável face à invasão dos modelos das potências militares e económicas.
O sistema educativo continua a ser inadequado: turmas de estudantes do ensino secundário e universitário sobrelotadas e relações professores/estudantes anómalas. Os programas educativos são orientados para a formação de procuradores de emprego e não de criadores de empregos. As taxas de desemprego, por isso mesmo, disparam porque nem todos conseguem emprego. Tendo em conta o envolvimento da Igreja no sistema educativo, as Igrejas particulares desejam que os apelos dos Padres sinodais orientem e estimulem a procura dos que são incumbidos dessa tarefa.
Justiça: as experiências na Igreja
Tal como na sociedade, as Igrejas particulares têm relatado experiências que são contrárias à justiça: na colaboração com as mulheres, estas são muitas vezes relegadas a um nível inferior. Nas estruturas da Igreja, os salários justos nem sempre são garantidos. A gestão dos bens da Igreja, por parte dos Pastores, padece, por vezes, de falta de transparência.
Para promover a justiça: que interpelações?
A Assembleia sinodal deveria fazer ouvir o grito dos pobres, das minorias, das mulheres desprezadas na sua dignidade, os marginalizados, os trabalhadores mal pagos, os refugiados e migrantes, os prisioneiros que esperam uma capelania estruturada e não apenas um capelão. «É dever de todos – e especialmente dos cristãos – trabalhar com energia para instaurar a fraternidade universal, base indispensável de uma justiça autêntica e condição de uma paz durável».
(Sínodo dos Bispos – II assembleia especial para a África: instrumentum laboris)
 







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