A África a caminho do Sínodo: reconciliação, justiça e paz uma necessidade urgente
(14/9/2009) Ressalta das respostas que o conceito africano de justiça é sinónimo
de reconciliação e de paz porque está enraizado na ideia de restaurara harmonia
entre o ofendido e o ofensor e com a sociedade no seu todo. Os obstáculos na via da
justiça são tais que os fiéis esperam dos Padres sinodais propostas que os ajudem
a reflectir sobre eles. Justiça: as experiências da sociedade A dimensão sociopolítica da justiça. Para reclamar a justiça, certas “minorias
étnicas” ou regiões lesadas tomam as armas e desencadeiam a guerra. As sublevações
e expulsões de povos, estrangeiros no seu proprio país, são actos de grave injustiça
que passam muitas vezes impunemente. Pois, com frequência, as instituições judiciárias
e todas as que lutam contra a corrupção são infiltradas pelas forças políticas. Aqueles
que detêm o poder utilizam as forças de segurança para reprimir os cidadãos que exprimem
opiniões contrárias às suas. Outras formas de injustiça são mencionadas: a pena de
morte, os tratamentos desumanos infligidos aos prisioneiros, em prisões tantas vezes
sobrelotadas; os prazos excessivamente longos dos processos; a tortura dos prisioneiros;
a expulsão dos refugiados em desprezo da sua dignidade. A dimensão socioeconómica
da justiça. O Mecanismo Africano de Avaliação pelos Pares (MAEP) procura identificar
as formas e as causas da corrupção que grassa sobre o continente e que fica impune.
Os recursos naturais são confiscados e delapidados por grupos de interesse. A má gestão,
os desvios de fundos públicos, o êxodo de capitais para bancos estrangeiros contra
o qual a Igreja em África tinha já elevado a voz no último Sínodo, são formas de
injustiça que ficam impunes e contra as quais a Igreja deve emprestar a sua voz aos
sem voz. Os trabalhadores agrícolas sobre os quais repousa uma grande parte da
economia africana são vítimas de injustiça na comercialização dos seus produtos, frequentemente
pagos a preços muito baixos, fixados em certas regiões paradoxalmente pelos próprios
clientes. A população de si já desfavorecida empobrece ainda mais. A campanha de sementes
dos Organismos Geneticamente Modificados (OGM), que pretendem assegurar a segurança
alimentar, não deve fazer esquecer os verdadeiros problemas dos agricultores: a falta
de terra arável, de água, de energia, de acesso ao crédito, de formação agrícola,
de mercados locais, de infra-estruturas rodoviárias, etc. Esta técnica pode arruinar
os pequenos proprietários, de suprimir a sua sementeira tradicional tornando-os dependentes
das sociedades produtoras dos OGM. A isto acresce o problema das mudanças climatéricas,
cujos efeitos se fazem sentir nas zonas áridas, comprometendo os ganhos modestos das
economias africanas. Podem os Padres sinodais ficar insensíveis a estas questões que
pesam sobre os ombros dos camponeses? A dimensão sociocultural da justiça.
A cultura é igualmente um lugar de injustiças que devem ser analisadas e erradicadas,
especialmente o nepotismo e o tribalismo que são um simulacro do dever de ajuda a
seu “irmão”. A mulher continua a ser subjugada em todas as regiões sob diversas formas:
as violências domésticas, expressão do domínio dos homens sobre as mulheres; a poligamia
que desfigura o rosto sacro do matrimónio e da família, também pela competição entre
as mulheres e crianças por elas geradas; a falta de respeito pela dignidade e os direitos
das viúvas; a prostituição; a mutilação dos órgãos genitais das mulheres. Na relação
entre as nações, a globalização é um fenómeno que importa considerar na sua dimensão
legal, administrativa e prática. Pois, a África tornou-se vulnerável face à invasão
dos modelos das potências militares e económicas. O sistema educativo continua
a ser inadequado: turmas de estudantes do ensino secundário e universitário sobrelotadas
e relações professores/estudantes anómalas. Os programas educativos são orientados
para a formação de procuradores de emprego e não de criadores de empregos. As taxas
de desemprego, por isso mesmo, disparam porque nem todos conseguem emprego. Tendo
em conta o envolvimento da Igreja no sistema educativo, as Igrejas particulares desejam
que os apelos dos Padres sinodais orientem e estimulem a procura dos que são incumbidos
dessa tarefa. Justiça: as experiências na Igreja Tal como na
sociedade, as Igrejas particulares têm relatado experiências que são contrárias à
justiça: na colaboração com as mulheres, estas são muitas vezes relegadas a um nível
inferior. Nas estruturas da Igreja, os salários justos nem sempre são garantidos.
A gestão dos bens da Igreja, por parte dos Pastores, padece, por vezes, de falta de
transparência. Para promover a justiça: que interpelações? A
Assembleia sinodal deveria fazer ouvir o grito dos pobres, das minorias, das mulheres
desprezadas na sua dignidade, os marginalizados, os trabalhadores mal pagos, os refugiados
e migrantes, os prisioneiros que esperam uma capelania estruturada e não apenas
um capelão. «É dever de todos – e especialmente dos cristãos – trabalhar com energia
para instaurar a fraternidade universal, base indispensável de uma justiça autêntica
e condição de uma paz durável». (Sínodo dos Bispos – II assembleia especial
para a África: instrumentum laboris)