Padres não são gestores de empresas, salientou em Fátima oPatriarca de Lisboa
no VI Simpósio do Clero
(2/9/2009) O Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, alertou que “é preciso
redescobrir o Concílio e o seu desafio de estar atento aos sinais que, apesar de tudo,
nos vêm do seio desse mundo que mudou, a sugerirem o verdadeiro rosto da Igreja nesta
nova etapa da missão”. E acrescenta: “Não se evangeliza esse mundo identificando-nos
com ele e cedendo aos seus critérios, nem propondo-lhe formas de ser que já não o
interpelam”. No VI Simpósio do Clero de Portugal, a decorrer em Fátima até à próxima
Sexta-Feira (4 de Setembro) e subordinado ao tema «Reaviva o dom que há em ti», D.
José Policarpo realça também que a comunhão eclesial é fundamental na Igreja. “Enquanto
houver alguns, bispos e padres, que se consideram com o direito de decidir pela sua
cabeça, os caminhos de pastoral, o sentido da existência moral, a maneira de celebrar,
estamos a fragilizar a proposta cristã, num mundo que saberá aproveitar, com os seus
critérios, as nossas divisões. A Igreja é hoje um todo global, perante um mundo globalizado”. Depois
de tanta mudança nos últimos anos, no mundo actual, o futuro da Igreja “ultrapassa
as capacidades de visão e de decisão de cada um de nós” – sublinha D. José Policarpo.
Na sua conferência sobre «Crescer como pessoas para servir como pastores», o Patriarca
de Lisboa sublinha que o padre “é chamado a pôr-se totalmente ao serviço da edificação
da Igreja, com tudo o que é e tudo o que tem”. Esta radicalidade do serviço “é a mais
bela realização da liberdade; é a dimensão em que o sacerdote se humaniza, exercendo
o seu ministério, porque viver a vida como um dom, a Deus e aos irmãos, é a mais perfeita
realização do ideal humano, num mundo retalhado de egoísmos e busca dos próprios interesses”. Ao
olhar para os padres de hoje, D. José Policarpo realça que muitos deles são “generosos
no trabalho, desmultiplicam-se em actividades, como diz o povo, «trabalham que nem
mouros», mas permanecem egocêntricos quando reivindicam autonomia de critérios, na
gestão dos afectos, no estabelecer de prioridades, na atitude perante os bens materiais”.
E acrescenta: “Para se pôr tudo ao serviço, não basta trabalhar muito”. O adjectivo
«pastoral» transformou-se numa “categoria omnipresente no discurso eclesial”. Com
a elevação à categoria de disciplina teológica, a Teologia Pastoral nem sempre evitou,
“talvez por influência das ciências humanas e mimetismo em relação à «teoria das organizações»,
uma certa burocracia pastoral”. Na sua prelecção, o Patriarca de Lisboa sublinha que
“muitas vezes o «pastor» assemelha-se mais a um “gestor de empresas”, do que ao pastor
que conhece as pessoas, com os seus problemas próprios e o seu ritmo de caminhada.
E finaliza: “Um pároco escondido atrás de uma grande máquina pastoral, a fazê-la funcionar
eficazmente, pode não traduzir o calor amoroso do Bom Pastor”. Em relação ao celibato,
D. José Policarpo defendeu que "é uma expressão profunda e libertadora do amor total
ao rebanho que nos foi confiado, e é um dos aspectos em que o ministério sacerdotal
é caminho de plenitude humana". "A vivência deste dom pode ser o fruto de convergência
e reencontro de todos os que, sinceramente, buscam um novo rosto de Igreja, quer os
que, movidos pelo entusiasmo conciliar, tenham partido ao encontro do mundo, quer
desiludidos com o mundo, tenham partido à procura da Igreja", concluiu.