Bispo de Leiria-Fátima lamenta imagens distorcidas da Igreja edeixa desafios
à diocese para o novo ano pastoral
(31/8/2009) O Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, considera que existem “imagens
desfocadas ou mesmo deturpadas da Igreja”, defendendo que a mesma “não é uma ‘internacional’
à qual se possa pertencer à distância, por inscrição e pagamento de cotas, nem uma
sociedade de telespectadores, teleouvintes ou cibernautas”. Na Carta para o
ano pastoral 2009/2010, o prelado, que é também vice-presidente da Conferência
Episcopal Portuguesa, assinala que “um dos factores que mais mina a consciência de
Igreja e que está na base da falta de afecto à Igreja é uma visão demasiado humana,
meramente sociológica sobre ela, que é muito redutora”. “A opinião pública fixa-se,
normalmente, no seu aspecto institucional. Ora, a relação com uma instituição é sempre
mais fria, mais distante e formal”, explica. D. António Marto diz que "a imagem
da Igreja, muitas vezes transmitida pelos meios de comunicação, é a de uma grande
e poderosa organização internacional da religião cristã: à semelhança de outras grandes
organizações, é representada por especialistas (os altos cargos oficiais) e é competente
para satisfazer as necessidades religiosas. Assemelhar-se-ia a uma multinacional cuja
central seria Roma e cujas filiais ou sucursais seriam as dioceses e as paróquias". P"or
vezes, também se veicula a ideia da Igreja como uma Organização Não Governamental
(ONG) de beneficência ou solidariedade social, uma espécie de “Cruz Vermelha”para
os males sociais; ou ainda como uma agência de moralidade, qual polícia que vela pelos
bons costumes", acrescenta. Segundo este responsável, “nota-se ainda, a nível europeu,
o enfraquecimento e até a perda da consciência eclesial, isto é, da consciência do
verdadeiro sentido da Igreja e da pertença afectiva e efectiva a ela”. “Diversos
factores de ordem cultural e social contribuem para isso, sobretudo o crescente individualismo
da cultura contemporânea que enfraquece os laços interpessoais e o sentido de pertença”,
precisa. Neste contexto, o novo ano pastoral em Leiria-Fátima “será dedicado à
edificação da comunidade cristã, à revitalização do seu tecido interior e das suas
estruturas e à (re)organização pastoral que isso exige”. O documento fala numa
“diminuição acentuada do número de padres no serviço pastoral, por motivos de idade
ou doença”, e da “escassez de vocações ao sacerdócio”. Para D. António Marto “todos
somos chamados a um maior empenho na edificação de comunidades cristãs vivas, na base
do duplo princípio da comunhão e da corresponsabilidade”. A carta pastoral tem
como título “Ir ao coração da Igreja”, sublinhando que muitos “só conhecem a Igreja
por fora e, por isso, não conhecem o seu coração, a sua beleza interior, não lhe têm
afecto, nem têm motivação interior para lhe dedicar a sua colaboração”. O Bispo
admite que “a Igreja não precisa de inventar a sua visão, porque esta já se encontra
no Evangelho, mas tem necessidade de a redescobrir e aprofundar em cada tempo perante
novas situações e novos desafios”. 45 anos após a conclusão do Concílio Vaticano II,
diz ainda, “verificamos que ainda há muito caminho para andar”. Falando, mais à
frente, de “cinco elementos fundamentais da vida comunitária”, D. António Marto apela
à “perseverança na fracção do pão”, isto é, na Eucaristia. “A comunhão dos fiéis
em Cristo exige, por natureza, a assembleia à volta de Cristo ressuscitado e a comunhão
com Ele. Esta é absolutamente necessária para a Igreja como tal e para cada cristão”,
escreve. Este responsável refere ainda que “há que promover, em cada paróquia,
a constituição ou revitalização de grupos ou movimentos que colaborem nos vários sectores
da pastoral da comunidade”. A carta apresenta um “Modelo de pastoral integrada
e integral”, em que se fala no fim do “tempo da paróquia e do pároco auto-suficientes
e isolados, que respondiam sozinhos a todos os problemas, exigências e situações”. D.
António Marto quer uma rejeição clara, por parte dos fiéis, “à divisão, à desresponsabilidade
(indiferença) e à estagnação ou ao imobilismo”. “Estamos conscientes de que são
necessárias uma mudança de mentalidade, criatividade e conversão pastoral que mexe
com hábitos adquiridos. Mas uma simples «pastoral de conservação», além de ser estéril,
mostra-se irresponsável e, ouso dizer, objectivamente pecaminosa, porque surda, se
não mesmo hostil à voz de Deus e ao seu chamamento na hora actual”, conclui. O
presente ano pastoral culminará com um Grande Encontro Diocesano, na cidade de Leiria,
nos dias 21, 22 e 23 de Maio de 2010, com o título “Festa da Fé: Rosto(s) da Igreja
diocesana”. ( Em Ecclesia)