Cidade do México, 26 ago (RV) - O teólogo basco Jon Sobrino afirmou ontem,
na Cidade do México, que, como dizia o jesuíta espanhol Pe. Ignacio Ellacuría, o mundo
ainda continua cheio de “povos crucificados”, e convidou todos a relembrar as idéias
de seu companheiro, assassinado em El Salvador, em 1989.
Entrevistado pela
agência EFE antes de participar, na capital mexicana, do I Congresso Internacional
sobre Pe. Ignacio Ellacuría, Pe. Jon Sobrino, nascido em Bilbao em 1938, recordou
que seu amigo e reitor da Universidade Centro-americana (UCA) de São Salvador analisava,
há vinte anos, os problemas importantes da humanidade.
Esses problemas, na
opinião de Pe. Sobrino, “não mudaram”. Para Pe. Ellacuría, os “povos crucificados”
eram a maioria dos povos do planeta, aquelas pessoas que combatem cotidianamente em
condições de marginalização. O grande sonho de sua vida era “não abandonar o povo
crucificado, mas tirá-lo da cruz”.
Pe. Sobrino considera urgente hoje reavivar
os ideais de Pe. Ellacuría, intelectual que centrou seu trabalho na moral, na teologia cristã
e na defesa dos que menos possuem.
O padre foi morto em 1989, em sua residência
na Universidade Centro-Americana, UCA, juntamente com outros 5 padres jesuítas e duas
funcionárias.
Pe. Sobrino recordou como seu irmão jesuíta considerava um erro
a chamada “civilização da riqueza”, na qual se pensa que o motor da história é acumular
capital, e que o sentido da existência é gastá-lo. Em contraposição, Pe. Ellacuría
propunha a “civilização da pobreza”, aquela em que o essencial é o trabalho e o sentido
da vida está na solidariedade.
A respeito da atual crise financeira mundial,
Pe. Jon Sobrino a definiu como um fato “tragicômico”. “A tragédia da situação é que
as pessoas que menos tinham, hoje estão com menos condições de vida, resultado de
uma conjuntura que empobreceu os mais pobres. O cômico é que o sistema internacional
tenha investido tantos recursos para a recuperação da economia. Com este dinheiro,
faríamos desaparecer a fome por 10, 20 ou até 30 anos”. (CM)