2009-08-24 10:15:59

SOCORRER CLANDESTINOS NO MAR É QUESTÃO HUMANITÁRIA


Cidade do Vaticano, 24 ago (RV) - Depois da enésima tragédia ocorrida nas costas italianas, onde neste fim de semana, 73 eritreus morreram em uma travessia rumo à península, o Presidente do Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes e Itinerantes, Dom Antonio Maria Veglió reiterou que “todos os migrantes têm direitos fundamentais que devem ser respeitados, em qualquer situação”.

Depois de passar 23 dias no mar sem combustível, comida, água ou socorro, somente cinco pessoas conseguiram sobreviver e contaram a sua odisséia. Segundo eles, mais de dez barcos passaram por perto e não os socorreram. As autoridades italianas e maltesas afirmaram duvidar deste relato, mas a repercussão do episódio gerou críticas em todos os setores sociais e políticos, e a condenação unânime da ONU e da Igreja Católica.

“O ACNUR ficaria muito preocupado se o endurecimento das políticas governamentais em relação aos imigrantes tivesse o efeito de desencorajar os capitães de barcos a honrar suas obrigações internacionais marítimas” - afirmou o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, em relação à linha dura adotada pelo governo de Silvio Berlusconi para a imigração.

“Como se o medo pudesse prevalecer sobre o dever de dar assistência no mar” - disse Laura Boldrini, porta-voz do ACNUR, definindo o episódio como “alarmante” e “chocante”.

A Igreja italiana, indignada, falou de “ofensa à humanidade”, denunciando que o Ocidente mantém os “os olhos fechados” como o fez diante dos trens que levavam os judeus a morrer em campos de concentração.

“Hoje, quando lemos sobre as deportações de judeus na época do nazismo, nos perguntamos: Ninguém via nem ouvia os gritos que provinham dos vagões, parados nas estações? Naqueles anos, o totalitarismo e o terror faziam fechar os olhos. Hoje não. A indiferença é tranquila, resignada” - escreve o jornal do Episcopado italiano, Avvenire, em editorial na primeira página.

O cotidiano recorda que “há uma lei do mar, bem mais antiga do que a codificada em tratados, que ordena: no mar, socorre-se. Violar essa antiga lei ameaça as nossas raízes fundamentais, a idéia do que é um homem e de como ele é precioso” - continua.

Depois de resgatados, finalmente, por um pescador, os cinco migrantes (dois homens, uma mulher e dois menores) foram socorridos em solo italiano. Não estão em perigo de vida, mas suas condições físicas são precárias. “Seus corpos estão reduzidos a um esqueleto. A mulher parecia um fantasma. Os olhos perdidos no vazio” – descreveu um funcionário da Organização não-Governamental Save the Children, que os ajudou em Lampedusa.

Falando à RV, o arcebispo responsável pela Pastoral dos Migrantes, Dom Veglió, se referiu também à imigração em outras áreas geográficas, como o deserto de fronteira entre México e Estados Unidos; ou no Oriente; na África sub-Sahariana: “A realidade é a mesma; são seres humanos em direção de países ou regiões economicamente mais ricas, para fugir da pobreza e da fome. Por isso, estão dispostos a deixar tudo, até a própria vida”.

“Como diz o papa, este problema requer uma forte e iluminada política de cooperação internacional, para ser adequadamente enfrentado” – declarou Dom Veglió, acrescentando que “é um direito humano ser acolhido e socorrido, e isto se acentua em situações de extrema necessidade, como por exemplo, quando se está à deriva em meio ao mar. Por séculos, os capitães de barcos defendem o princípio fundamental do direito marítimo, que prevê o socorro a naufrágios, sempre”.

“É uma lastima que a sociedade seja tão egoísta e rechace o estrangeiro” – prosseguiu. Dom Veglió disse que o Pontifício Conselho está entristecido pelo repetir-se de tragédias como a ocorrida nas costas italianas, e reafirma a citação do Santo Padre, na Caritas in veritate: “Todo migrante é uma pessoa humana, e enquanto tal, possui direitos fundamentais inalienáveis, que devem ser respeitados em toda situação”.







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