Bispos da Guiné Bissau escrevem ao Primeiro Ministro condenando a violência e alertando
para a necessidade de restaurar a confiança do povo guineense
(21/8/2009) Os bispos da Guiné-Bissau pedem que o governo nacional faça cumprir a
lei no país. Numa carta endereçada ao Primeiro Ministro, Carlos Gomes Júnior, os bispos
D. Pedro Carlos Zilli, Bispo de Bafatá, e D. José Câmnate na Bissign, Bispo de Bissau
afirmam que o governo tem “o dever moral e institucional de fazer prevalecer a lei
e exigir que cada instituição cumpra escrupulosamente a sua missão, sempre numa relação
de interdependência com as outras instituições”. A missiva decorre de um incidente,
no passado dia 15 de Agosto, na Sede da Custódia dos frades franciscanos em Bissau.
A instituição foi “abusivamente violada por homens fardados e armados que perseguiam
o deputado Conduto de Pina”, escrevem os bispos, num acto presenciado por “alguns
deputados da nação”. Os bispos apontam o “padrão” que estas situações estão a estabelecer,
relembrando “os acontecimentos recentes que abalaram a vida pública nacional” e sem
esquecer que a “incursão por lares privados sem um mandato formal para o efeito” significa
um “completo desrespeito pela vida e dignidade humanas”. Na carta a que a Agência
ECCLESIA teve acesso, os bispos sublinham que a sua missão é trabalhar para a promoção
integral do homem, defendendo “a dignidade humana, sem olhar para a pertença partidária,
religiosa, étnica ou outras razões subjectivas”. Os bispos rejeitam a impunidade
e os comportamentos repreensíveis e não aceitam que “os problemas políticos ou diferendos
sociais sejam resolvidos de maneira violenta”. Por isso, os bispos apelam ao governo
que exerça “toda a sua competência e responsabilidade no sentido de reorientar a actuação
dos representantes das instituições da Republica”. “A vontade de manter a ordem
pública deve ter como principal objectivo defender o homem e a sua dignidade. Por
mais grave que seja a culpabilidade, a vida deve ser sempre protegida”, afirma a missiva.
Uma “sã civilização” é construída, escrevem os bispos, pela “assimilação dos imperativos
legais, morais e espirituais”. A carta lembra ainda que após “tantas convulsões”,
a conjectura social e política “pede que se pense, seriamente, o modo de ser guineense
e de gerir o poder”. Os bispos sublinham a necessidade de “ganhar a confiança do
povo e liderar o processo de mudança do nosso comportamento”, e também o “respeito
pelo Estado de Direito para não continuarmos a manchar as instituições, desvirtuando
a sua essência e manipulando os seus mecanismos”.