PUBLICADA MENSAGEM PARA DIA MUNDIAL DO TURISMO. LEIA A ÍNTEGRA
Cidade do Vaticano, 19 ago (RV) - O Pontifício Conselho da Pastoral para os
Migrantes e os Itinerantes publicou uma mensagem pastoral por ocasião do Dia Mundial
do Turismo, no dia 27 de setembro.
Na mensagem, assinada pelo presidente e
pelo secretário do Pontifício Conselho, respectivamente, Dom Antonio Maria Vegliò
e Dom Agostino Marchetto, os bispos afirmam que a experiência da diversidade cultural
é própria da existência humana. “O descobrimento da diversidade cultural ocorre progressivamente,
na medida em que nos confrontamos com quem e com quantos nos circundam, o que nos
permite descobrir o que nos distingue dos que são diferentes de nós”, afirma a mensagem. Leia
a íntegra da mensagem:
PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A PASTORAL DOS MIGRANTES E
ITINERANTES
Mensagem pastoral por ocasião do Dia Mundial do Turismo, 2009 Tema:
O turismo, consagração da diversidade
O tema da Jornada Mundial do
Turismo, proposto pela competente Organização Mundial – O turismo, consagração da
diversidade –, nos abre caminhos para o encontro com o ser humano em sua diversidade,
em sua riqueza antropológica.
A diversidade é um fato, uma realidade e, como
nos lembra o Papa Bento XVI, é também um fato positivo, um bem e não uma ameaça ou
um perigo, a ponto de ele desejar que “as pessoas não só aceitem a existência da cultura
do outro, mas que também desejem enriquecer graças a ela”.(1)
A experiência
da diversidade cultural é própria da existência humana, também porque o desenvolvimento
pessoal avança em etapas que favorecem o crescimento e o amadurecimento das pessoas.
O descobrimento da diversidade cultural ocorre progressivamente, na medida em que
nos confrontamos com quem e com quantos nos circundam, o que nos permite descobrir
o que nos distingue dos que são diferentes de nós.
Pela avaliação positiva
do diferente, constatamos a existência de um paradoxo: se por um lado se constata,
neste tempo de globalização, que as culturas e as religiões se aproximam cada vez
mais, e que no coração de todas as culturas brota um autêntico desejo de paz, por
outro lado se observa a existência de incompreensões, prejulgamentos e mal entendidos
profundamente enraizados, que levantam barreiras e alimentam divisões. É o medo do
diferente, do desconhecido.
Devemos trabalhar para substituir a discriminação,
a xenofobia e a intolerância pela compreensão e aceitação recíproca, percorrendo os
caminhos do respeito, da educação e do diálogo aberto, construtivo e comprometido.
Nesse
esforço a Igreja tem uma função importante, partindo da profunda convicção manifestada
por Paulo VI, na Encíclica Ecclesiam suam, de que “A Igreja deve entrar em diálogo
com o mundo em que lhe toca viver. A Igreja se faz palavra, a Igreja se faz mensagem,
a Igreja se faz colóquio”.(2) É um diálogo construtivo e sincero que, para ser autêntico,
“não deve ceder ao relativismo e ao sincretismo, e deve ser animado pelo respeito
sincero aos demais e por um generoso espírito de reconciliação e fraternidade”.(3)
Dessa
perspectiva, o turismo, ao pôr em contato pessoas com diferentes modos de viver, que
praticam distintas religiões, com outras formas de ver o mundo e sua história(4),
é também uma ocasião para o diálogo e a escuta e se constitui em um convite para que
as pessoas não se fechem em torno de sua própria cultura, sem abrir-se e pôr-se em
contato com modos de pensar e de viver diferentes.(5) Não deve surpreender, portanto,
que setores extremistas e grupos terroristas de índole fundamentalista sinalizem o
turismo como um perigo e um objetivo a destruir. O conhecimento mútuo ajudará – esperamos
ardentemente – a construir uma sociedade mais justa, solidária e fraterna.
A
experiência inicial do homem a respeito da diversidade é, hoje, também vivida no
mundo virtual, megalópole cósmica oferecida permanentemente a cada um de nós. Graças
a essa forma de “turismo” virtual, a diversidade é observada de perto, facilitando
a aproximação com o diferente longínquo. Esse turismo é o primeiro passo para consagrar
a diversidade.
O turismo é, sobretudo, entendido como deslocamento físico,
que evidencia a diversidade natural, ecológica, social, cultural, patrimonial e religiosa
e que também nos faz descobrir o trabalho partilhado, a cooperação entre os povos
e a unidade dos seres humanos, na magnífica e desconcertante diversidade de suas realizações.
No
descobrimento da diversidade aparecem também paradoxos e limites: se o turismo se
desenvolve com ausência de uma ética de responsabilidade, paralelamente toma corpo
o perigo da uniformidade e da beleza como “fascinatio nugacitatis” (cfr. Sb 4,12).
Assim sucede, por exemplo, quando os nativos exibem para os turistas espetáculos de
suas tradições, oferecendo a diversidade como um produto comercial, com o único objetivo
de lucro.
Tudo isso exige um esforço, tanto por parte do visitante como do
nativo que o acolhe, de assumir um comportamento de abertura, respeito, proximidade
e confiança de que, o desejo do turista de encontrar-se com outros, respeitando-os
em sua diversidade pessoal, cultural e religiosa, leve ambos a se abrirem ao diálogo
e à compreensão.(6)
A diversidade se fundamenta no mistério de Deus. A Palavra
criadora está na origem da riqueza das espécies, especialmente de quem é “imagem e
semelhança” de Deus. Essa Palavra bíblica, poética, é a da diversidade, fundadora
da identidade de cada criatura, sendo o Criador o primeiro a contemplar a beleza-bondade
de tudo aquilo que Ele fez (cfr. Gen 1). Deus é também essa força maravilhosa, princípio
da unidade de todas as diversidades que aparecem como “uma manifestação particular
do Espírito para o bem comum”(l Cor 12,7). Contemplando a diversidade, o homem descobre
as pegadas divinas e humanas. Para aquele que crê, o conjunto das diversidades abre
caminhos para ele aproximar-se da infinita grandeza de Deus. Para nós o turismo, como
fenômeno possível de consagração da diversidade, pode ser cristão, caminho aberto
para a profissão contemplativa da fé.
Deus confia à Igreja a tarefa de forjar
por meio de Cristo Jesus, graças ao Espírito, uma nova criação, recapitulando n’Ele
(cfr. Ef 1,9-10) todo o tesouro da diversidade humana que o pecado tem transformado
em divisão e conflitos(7), de modo que contribua “para a criação, sob o Espírito de
Pentecostes, de uma nova sociedade em que as diferentes línguas e culturas já não
constituirão limites insuperáveis, como aconteceu depois de Babel, na qual, precisamente
por causa dessa diversidade, seja possível concretizar-se uma nova maneira de comunicação
e de comunhão”.(8)
Esses são pensamentos que podem incentivar no compromisso
daqueles que se ocupam da pastoral específica do turismo, especialmente na sua atenção
àquele que sofre de alguma maneira em decorrência do fenômeno do turismo, que também
é um sinal do nosso tempo e traz consigo aspectos positivos que destacamos por ocasião
do 40° aniversário de publicação de Peregrinans in terra.
Que o sopro divino
vença toda espécie de xenofobia, discriminação e racismo, torne próximos os que estão
distantes, na visão da unidade/diversidade de uma família humana abençoada por Deus.
O Espírito é que reúne, na unidade e na paz, na harmonia e na admiração recíproca.
N’Ele há ordem e bondade ao longo dos sete dias da criação. Que Ele entre, igualmente,
na difícil história humana, graças também ao turismo.
Cidade do Vaticano, 24
de junho de 2009.
Dom Antonio Maria Vegliò - Presidente
Dom Agostino
Marchetto - Arcebispo Secretário
Notas:
(1) BENTO XVI, Mensagem por
ocasião da jornada de estudo sobre o tema “Culturas e religiões em diálogo” organizada
pelo Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso e o Pontifício Conselho da
Cultura, 3 de dezembro de 2008: L’Observatore Romano, n. 287 (45.027), 9-10 de dezembro
de 2008, p. 1. Na mesma linha se manifestava João Paulo II: “Querer ignorar a realidade
da diversidade – ou, pior ainda, tratar de anulá-la – significa excluir a possibilidade
de explorar as profundidades do mistério da vida humana. A verdade sobre o homem é
o critério imutável com o qual todas as culturas são julgadas, mas cada cultura tem
algo a ensinar acerca de uma ou outra dimensão daquela complexa verdade. Portanto,
a ‘diferença’ que alguns consideram tão ameaçadora poderá ser, mediante um diálogo
respeitoso, a fonte de uma compreensão mais profunda do mistério da existência humana.”
(Discurso na Assembleia Geral da ONU no 50° aniversário de sua fundação, 5 de outubro
de 1995, n. 10: Insegnamenti di Giovanni Paolo II, XVIII – 1995 – Libreria Editrice
Vaticana, 1998, p. 738).
(2) Paulo VI, Carta Encíclica Eclesiam suam,
6 de Agosto 1964, n. 67: AAS LVI (1964), p. 639
(3) Bento XVI, Mensagem
por ocasião de uma jornada de estudo sobre o tema “Culturas e religiões em diálogo”,
l.c.
(4) Cfr. PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A PASTORAL DOS MIGRANTES E ITINERANTES,
Instrução Erga migrantes caritas Christi (A caridade de Cristo para com os migrantes),
3 de maio de 2004, n. 30 AAS XCVI (2004), p. 778.
(5) ”Filho de sua
própria cultura, o viajante, o turista, sai ao encontro/desencontro dos filhos de
outra cultura e, se estabelece um diálogo com eles, aceita deixar-se interpelar pelos
elementos que enriquecem o seu patrimônio intelectual, espiritual e cultural. Pode
ser levado, em consequência, a questionar alguns de seus comportamentos, de seus prejulgamentos,
inclusive das crenças que influenciam sua vida quotidiana”. (PONTIFÍCIO CONSELHO PARA
A PASTORAL DOS MIGRANTES E ITINERANTES, Documento Final da IV Reunião Europeia da
Pastoral do Turismo, 29-30 de abril de 2009, n. 34).
(6) Cfr. BENTO
XVI, Mensagem por ocasião da Jornada Mundial de Turismo, 16 de julho 2005: Insegnamenti
di Benedetto XVI, I (2005), Libreria Vaticana, 2006, p. 339.
(7) Cfr.
PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A PASTORAL DOS MIGRANTES E ITINERANTES, Introdução Erga migrantes
caritas Christi (A caridade de Cristo para com os migrantes), I.c., n. 102.
(8)
Cfr. PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A PASTORAL DOS EMIGRANTES E ITINERANTES, Introdução
Erga migrantes caritas Christi (A caridade de Cristo para com os migrantes), I.c.,
n. 89.