2009-08-17 16:24:40

ÁFRICA: OS CONFLITOS "ESQUECIDOS" MATAM TRÊS MIL PESSOAS A CADA ANO


Cidade do Vaticano, 17 ago (RV) – Mais de três mil pessoas morrem, a cada ano, nas guerras "esquecidas" no continente africano. Da África pouco se fala nos meios de comunicação internacionais e é justamente isso que deixa a opinião pública indiferente diante dos dramas e da tragédia que afligem o continente negro.

Mas quais são esses chamados "conflitos esquecidos"? Silvia Koch do SIC da Rádio Vaticano, perguntou ao prof. Giampaolo Calchi Novati, docente de História e Instituições dos Países Afro-asiáticos, na Universidade de Pavia.

Prof. Giampaolo Novati:- "Durante a guerra, existe a possibilidade de ocupar algumas áreas produtoras de recursos, por exemplo, de diamantes, de outras pedras preciosas e até mesmo de outras minas, como aconteceu no Congo. A parte noroeste está, provavelmente, fora do controle do Governo central e vem sendo, continuamente, alvo de tensões, embora, ao que tudo indica, tenha sido alcançado um acordo entre o Congo e Ruanda, que eram os principais protagonistas do conflito."

P. Quais são os "conflitos esquecidos" em andamento hoje, no continente africano?
 
Prof. Giampaolo Novati:- "Na Somália e Sudão. Existe uma situação conflituosa pouco conhecida na faixa subsahariana saheliano-sudanesa. Outra é no Congo, que devemos sempre recordar. Ainda temos outros conflitos pouco conhecidos como o da Guiné-Bissau, por onde passa – é preciso salientar – todo o tráfico de drogas em trânsito para a África, e que foi, recentemente, palco de um golpe de Estado com todas as suas consequências."

P. Quais podem ser as causas comuns dos principais conflitos africanos? 
Prof. Giampaolo Novati:- "Desde a independência os Estados africanos jamais gozaram do monopólio legal da violência. Essa característica torna mais fácil aqui do que em outras regiões do Planeta, que uma crise política possa se transformar rapidamente num conflito bélico. A guerra tem como objetivo a conquista do poder dentro do próprio país."

P. De que maneira os imanes recursos do continente africano contribuem para a economia de guerra que alimenta esses conflitos internos?

Prof. Giampaolo Novati:- "O problema dos recursos tem duas faces: de um lado é um dos motivos geradores do conflito. Mas de outro ponto de vista, esses recursos ativam a guerra, porque dão aos rebeldes a oportunidade de obter dinheiro para adquirir armas, para recrutar soldados e tropas, e para aumentar o tráfico ilegal de armas, bens e drogas. Portanto, a guerra em si é uma espécie de "fabricante" de recursos."

P. Quais são os fatores que chamam a atenção (ou não chamam) da opinião pública para este ou aquele conflito africano? 
Prof. Giampaolo Novati:- "Quando existe muito interesse, é provável que por detrás haja interesses materiais ou estratégicos. O fato que a opinião pública se interesse apenas de vez em quando faz com que sejam ignoradas as raízes dos conflitos. É preciso sublinhar que a capacidade da opinião pública internacional de influir nos eventos da periferia do mundo está diminuindo. Instalou-se uma espécie de "convivência tolerante" em relação às formas de repressão e de violência existentes nos países e povos que não pertencem ao centro do sistema."

P. Muitas das intervenções dos organismos internacionais que têm tentado acabar com os conflitos africanos, faliram. Por quê? Quais foram os erros cometidos?

Prof. Giampaolo Novati:- "Muitas vezes, as grandes potências que são responsáveis pelas intervenções internacionais, têm segundas intenções, pretendem defender seus próprios interesses. Portanto, a premissa imprescindível é que se intervenha tendo como objetivo o desenvolvimento, a paz, a reconciliação e a reconstrução. Um caso feliz que teve um êxito positivo é o de Moçambique, mediado pela Itália, por meio da comunidade romana de Santo Egídio e do Ministério do Exterior (a Farnesina) e deveria ser tomado como exemplo." (AF)







All the contents on this site are copyrighted ©.