ÁFRICA: OS CONFLITOS "ESQUECIDOS" MATAM TRÊS MIL PESSOAS A CADA ANO
Cidade do Vaticano, 17 ago (RV) – Mais de três mil pessoas morrem, a cada ano,
nas guerras "esquecidas" no continente africano. Da África pouco se fala nos meios
de comunicação internacionais e é justamente isso que deixa a opinião pública indiferente
diante dos dramas e da tragédia que afligem o continente negro.
Mas quais são
esses chamados "conflitos esquecidos"? Silvia Koch do SIC da Rádio Vaticano, perguntou
ao prof. Giampaolo Calchi Novati, docente de História e Instituições dos Países Afro-asiáticos,
na Universidade de Pavia.
Prof. Giampaolo Novati:- "Durante a guerra,
existe a possibilidade de ocupar algumas áreas produtoras de recursos, por exemplo,
de diamantes, de outras pedras preciosas e até mesmo de outras minas, como aconteceu
no Congo. A parte noroeste está, provavelmente, fora do controle do Governo central
e vem sendo, continuamente, alvo de tensões, embora, ao que tudo indica, tenha sido
alcançado um acordo entre o Congo e Ruanda, que eram os principais protagonistas do
conflito."
P. Quais são os "conflitos esquecidos" em andamento hoje, no
continente africano? Prof. Giampaolo Novati:- "Na Somália
e Sudão. Existe uma situação conflituosa pouco conhecida na faixa subsahariana saheliano-sudanesa.
Outra é no Congo, que devemos sempre recordar. Ainda temos outros conflitos pouco
conhecidos como o da Guiné-Bissau, por onde passa – é preciso salientar – todo o tráfico
de drogas em trânsito para a África, e que foi, recentemente, palco de um golpe de
Estado com todas as suas consequências."
P. Quais podem ser as causas comuns
dos principais conflitos africanos? Prof. Giampaolo Novati:- "Desde
a independência os Estados africanos jamais gozaram do monopólio legal da violência.
Essa característica torna mais fácil aqui do que em outras regiões do Planeta, que
uma crise política possa se transformar rapidamente num conflito bélico. A guerra
tem como objetivo a conquista do poder dentro do próprio país."
P. De que
maneira os imanes recursos do continente africano contribuem para a economia de guerra
que alimenta esses conflitos internos?
Prof. Giampaolo Novati:-
"O problema dos recursos tem duas faces: de um lado é um dos motivos geradores do
conflito. Mas de outro ponto de vista, esses recursos ativam a guerra, porque dão
aos rebeldes a oportunidade de obter dinheiro para adquirir armas, para recrutar soldados
e tropas, e para aumentar o tráfico ilegal de armas, bens e drogas. Portanto, a guerra
em si é uma espécie de "fabricante" de recursos."
P. Quais são os fatores
que chamam a atenção (ou não chamam) da opinião pública para este ou aquele conflito
africano? Prof. Giampaolo Novati:- "Quando existe muito interesse,
é provável que por detrás haja interesses materiais ou estratégicos. O fato que a
opinião pública se interesse apenas de vez em quando faz com que sejam ignoradas as
raízes dos conflitos. É preciso sublinhar que a capacidade da opinião pública internacional
de influir nos eventos da periferia do mundo está diminuindo. Instalou-se uma espécie
de "convivência tolerante" em relação às formas de repressão e de violência existentes
nos países e povos que não pertencem ao centro do sistema."
P. Muitas das
intervenções dos organismos internacionais que têm tentado acabar com os conflitos
africanos, faliram. Por quê? Quais foram os erros cometidos?
Prof.
Giampaolo Novati:- "Muitas vezes, as grandes potências que são responsáveis pelas
intervenções internacionais, têm segundas intenções, pretendem defender seus próprios
interesses. Portanto, a premissa imprescindível é que se intervenha tendo como objetivo
o desenvolvimento, a paz, a reconciliação e a reconstrução. Um caso feliz que teve
um êxito positivo é o de Moçambique, mediado pela Itália, por meio da comunidade romana
de Santo Egídio e do Ministério do Exterior (a Farnesina) e deveria ser tomado como
exemplo." (AF)