Bogotá, 13 ago (RV) – A Igreja Católica colombiana confirmou ontem, 12 de agosto,
que manteve contactos telefônicos com o chefe maior das FARC, Alfonso Cano, que manifestou
o interesse em iniciar diálogos de paz com o governo do presidente Álvaro Uribe. O
presidente emérito da Congregação para o Clero e da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei,
Cardeal Darío Castrillón, revelou ontem a existência desses contatos na saída de uma
reunião com o presidente colombiano, Álvaro Uribe.
A afirmação do cardeal de
que o chefe das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) manifestou-lhe a
“vontade de diálogo” contrasta com as declarações que o mesmo Alfonso Cano fez esta
semana à revista "Cambio", que estará nas bancas nesta quinta-feira. O conteúdo da
entrevista não foi antecipado, porém o diretor da revista, Rodrigo Pardo, disse à
agência Efe que o que mais chama a atenção é “o tom agressivo” do líder máximo das
FARC.
Segundo Pardo, “é um tom surpreendentemente agressivo”, que acaba com
“as expectativas de um discurso mais político e de maior disposição a abrir canais
de diálogo”, expectativas que se criaram quando Alfonso Cano chegou à direção das
FARC no lugar de “Tirofijo”, falecido no ano passado. Na entrevista, feita através
da internet, Alfonso Cano se mostra “muito radical e sem nenhuma confiança em relação
ao governo”, o que dá lugar a “muitas poucas esperanças", acrescentou Pardo.
A
razão desta diferente percepção sobre a atitude do líder guerrilheiro pode ser derivada
do fato que o Cardeal Castrillón conversou com ele em abril e desde então se verificaram
novos eventos como o anúncio de que a Colômbia negocia com os Estados Unidos um acordo
para que militares norte-americanos usem bases das Forças Armadas deste país. Em um
comunicado de 28 de julho, as FARC afirmaram que esse possível acordo com os Estados
Unidos é um “ato de alta traição à pátria” e uma “afronta à dignidade nacional e à
memória de todos os mártires do exército libertador de Bolívar”.
Após se reunir
com Uribe, o cardeal, que falou com os rebeldes em virtude da autorização para mediar
com as FARC, que o presidente concedeu aos bispos, afirmou ontem: “sim, eu mantive
conversas telefônicas com Alfonso Cano, e com outro membro, que neste momento não
recordo o nome”. “Chefes de grupos de oposição armada conversaram comigo, estiveram
na minha casa e manifestaram também a vontade de diálogo”, acrescentando que isso
abre “uma luz de esperança”.
O Cardeal Castrillón, de 80 anos, precisou que
a conversa com Alfonso Cano realizou-se poucos dias antes da viagem do Presidente
Uribe ao Vaticano, no último dia 29 de abril. Ao mesmo tempo indicou que o presidente
mantém a porta aberta ao diálogo sem deixar de lado seu dever constitucional de velar
pela segurança dos colombianos. (SP)