"CARITAS IN VERITATE": A SIGNIFICATIVA CONTRIBUIÇÃO DE BENTO XVI NA DIFÍCIL BUSCA
DE UMA FASE DE ESTABILIDADE
Cidade do Vaticano, 10 ago (RV) - A nova encíclica de Bento XVI, "Caritas in
veritate", de 29 de junho passado, tem motivado a sua análise por parte de estudiosos
de diferentes formações e suscitado o interesse das mais diversas categorias.
Ao
comentar a encíclica social do papa, o historiador italiano Gaetano Quagliarello –
que também é um dos diretores da revista de estudo sobre transições "Ventunesimo Secolo"
– destaca que a análise de mercado e dos processos globais contida na "Caritas in
veritate" está inserida numa moldura epocal que o Santo Padre reconstrói estabelecendo
uma continuidade com o magistério pontifício, assegurada pelo princípio que o papa
Ratzinger chama de fidelidade dinâmica. Continuidade com a "Populorum progressio"
de Paulo VI.
Segundo o referido historiador existem algumas razões temáticas
para afirmar essa conjunção. Mas existe, sobretudo, uma mais profunda razão analítica
que perpassa todo o pontificado de Bento XVI.
De fato, Paulo VI é o papa do
Concílio. E Bento XVI, evocando-o, quer justamente reafirmar que o Vaticano II não
constitui aquele momento de reviravolta e de ruptura longamente acreditado pelas correntes
católicas chamadas "sociais", mas que, na história da Igreja, existe uma continuidade
mais profunda que contempla também a leitura e a interpretação do Concílio.
A
esse propósito, o historiador observa que, não por acaso, a quase toda referência
à "Populorum progressio" corresponde uma referência que evoca a "Rerum novarum" do
Papa Leão XIII.
Prosseguindo a sua análise, o diretor da referida revista italiana
ressalta que a globalização – como nos recorda o pontífice – apresenta grandes dificuldades
e perigos, diante das quais, porém, a resposta não pode e não deve ser o retorno a
formas de controle estatal e de fechamento autárquico. Citando o papa, ressalta que
é necessário, sobretudo, "tomar consciência daquela alma antropológica e ética que
impele a própria globalização a metas de humanização solidária".
Segundo o
historiador, trata-se de uma leitura de certo modo revolucionária, sobretudo aos olhos
daqueles que, diante da atual crise financeira e econômica e de sua dureza, esperavam
uma encíclica de renovada condenação ao modelo capitalista, e de relançamento daquelas
leituras da Doutrina Social da Igreja de cunho cético em relação ao desenvolvimento
e suas potencialidades.
Quagliarello observa que foi justamente invertendo
essa perspectiva que Bento XVI quis fazer de modo que a mensagem da Igreja pudesse
penetrar os processos globais chamando a atenção para as regras que se impõem ao funcionamento
do mercado e às relações entre os Estados.
Por fim, o historiador italiano
conclui afirmando que temos diante de nós um papa que do ponto de vista do estudo
e da reflexão quis dar uma significativa contribuição na difícil busca de uma fase
de estabilidade. (RL)