IGREJA NEGA ENVOLVIMENTO EM CONFLITOS NA SELVA PERUANA
Lima, 08 ago (RV) - O arcebispo de Trujillo, no Peru, Dom Miguel Cabrejos Vidarte,
também presidente da Conferência Episcopal Peruana, divulgou ontem um comunicado aos
fiéis e pessoas de boa vontade, esclarecendo a posição da Igreja em relação aos episódios
de violência ocorridos em junho passado, na Amazônia.
O episcopado lamenta
profundamente as recentes declarações do Ministro da Justiça diante do Comitê para
a Eliminação Racial da ONU, em Genebra. O ministro Aurélio Pastor teria envolvido
um membro da Igreja Católica nos acontecimentos, acusando-o de instigar a violência
na região de Bagua. Conflitos entre indígenas e policiais causaram a morte de 33 pessoas
nesta localidade amazônica, em 5 de junho passado.
Pastor disse ao Comitê
da ONU que “pessoas alheias às comunidades começaram a incitar a violência, de diversas
formas. Um membro da Igreja – referiu o ministro – teria dito que havia fossas comuns
e que os corpos estavam sendo jogados no rio. De forma irresponsável, uma emissora
de rádio difundiu a notícia de que havia ocorrido um massacre de índios, o que era
absolutamente falso”.
A declaração do arcebispo nega a versão ministerial:
“A narração de Pastor não coincide com a realidade dos fatos na cidade de Bagua, onde
a Igreja Católica não teve alguma participação, nem operativa, nem no desenlace lamentável”
– escreve Dom Cabrejos Vidarte.
Naquele mesmo dia, 5 de junho, o Presidente
da Conferência Episcopal escreveu um pronunciamento, lamentando o ocorrido e pedindo
o fim da violência, a atenção humanitária imediata dos feridos e o restabelecimento
do canal de diálogo, que nunca deveria ter sido interrompido. O então premiê, Yehude
Simon, foi à sede da Conferência pedir apoio para a solução do conflito.
“Hoje,
reiteramos o chamado para que todos nos comprometamos em restituir a paz social e
evitar todo indício de violência. Aceitamos o pedido do ministro de participar de
uma equipe de diálogo para buscar uma solução pacífica, junto com os bispos das regiões
atingidas, com os governadores e os apus (chefes das tribos locais).
O presidente
da Conferência afirma que depois do conflito, um sacerdote do Vicariato de Jaén, preocupado
pelos fatos, recolheu opiniões dos moradores sobre uma possível fossa comum - que
foi posteriormente desmentida – mas isto não pode ser interpretado como instigação
à violência.
“A Igreja Católica atua há muitos anos na Amazônia, com 11 jurisdições
eclesiásticas, e conhece bem aquela realidade. Não apenas promove a fé, mas trabalha
na promoção integral de seus habitantes. Sempre defendendo a paz, a não-violência,
a Igreja promove o diálogo e a solução pacífica dos conflitos. Sendo pré-existente
ao Peru, à República, à Constituição, ajudou o país a formar-se como nação e tem uma
importante presença social, que não pode ser subestimada” – conclui a nota. (CM)