Cabul, 03 ago (RV) - Quase como no tempo das catacumbas, mas o século é 21
e o local Cabul, no coração de um dos países mais islamizados do mundo. Esse é um
pouco o espírito que prevalece nas celebrações eucarísticas nos domingos na pequena
igreja de Nossa Senhora da Divina Providência, único edifício de culto católico existente
no Afeganistão.
Pouco antes de se dirigir até o altar, vestido com os paramentos,
Padre Giuseppe Moretti, barnabita a quem o Papa João Paulo II confiou a responsabilidade
da missão 'sui iuris' por ele criada, abre os braços e admite: “Sim, esta é um pouco
uma igreja catacumba”. “Com a diferença de que aqui – acrescenta - vem quem quer,
com espírito aberto de solidariedade e grande participação”.
A igreja, uma
pequena construção branca de 20 x 15, se encontra dentro do terreno da embaixada italiana,
e isso pesa para o Padre Moretti, cujo sonho é poder construir um dia uma igreja no
centro de Cabul.
“O senhor soube das notícias provenientes do Paquistão onde
cristãos foram queimados vivos? pergunta-se ao sacerdote. “Sim”, responde imediatamente,
acrescentando que durante a missa “rezamos por eles como também pelos católicos perseguidos
na Nigéria e pela ex-presidente filipina Corazon Aquino, que faleceu dias atrás”.
Presente
no Afeganistão desde os anos 70, Padre Moretti se transferiu a Cabul em 1985, vivendo
sob a ditadura, o regime soviético e dos mujajedins. Em 1994 foi ferido durante a
guerra civil e transferido. “Retornei no ano 2000 e agora me falta somente viver sob
o regime dos talibãs” diz brincando. Ele acrescenta: “Nós aqui não tivemos ameaças,
mas o fechamento em relação a nós é total e as perspectivas de se chegar até os afegãos
são mínimas”. (SP)