Cidade do Vaticano, 1º ago (RV) - Apesar dos protestos da Igreja, a Agência
Italiana dos Fármacos (Aifa) autorizou quinta-feira o uso da pílula abortiva no país.
Desde 1978, o aborto é legal na Itália nos primeiros 90 dias de gestação,
sem necessidade de justificativa, ou até a 24ª semana, caso haja malformação fetal
ou risco à vida da mãe. Por lei, todos os abortos devem ser praticados em um hospital.
Desenvolvida na década de 1980 na França, a substância mifepristone, ou RU-486,
é hoje comercializada livremente nos EUA e em quase toda a União Europeia, exceto
em Portugal e Irlanda.
Usada para interromper gestações de até 49 dias, a
pílula RU486 permite que a mulher evite um aborto cirúrgico, pois faz com que o embrião
se descole da parede uterina e seja expulso.
A Aifa estipulou que a pílula
só pode ser administrada em hospitais, mas segundo muitos, há o risco de que com a
liberação, algumas mulheres abortem em casa, sem assistência médica.
Para
o Vaticano, não há diferença entre a pílula e o aborto cirúrgico: “Haverá excomunhão
para o médico, a mulher e para quem quer que estimule seu uso” - disse Dom Elio Sgreccia,
presidente emérito da Pontifícia Academia para a Vida., acrescentando que o RU-486
“não é um medicamento, mas um veneno mortal”.
“Primeiro, o aborto foi legalizado
para que deixasse de ser clandestino, mas agora os médicos estão lavando suas mãos
e transferindo o ônus da consciência para as mulheres” - afirmou aos jornalistas.
“A Igreja não pode assistir de forma passiva ao que está acontecendo na sociedade”
– opina Dom Rino Fisichella, atual presidente da Pontifícia Academia, em um artigo
publicado na primeira página de ontem do jornal do Vaticano, L'Osservatore Romano.
“Trata-se
de uma verdadeira técnica abortiva” – afirma, explicando que “o fármaco elimina uma
vida humana plena, responsabilidade que ninguém pode se permitir assumir sem conhecer
suas conseqüências”.
“O aborto em si suprime uma vida humana; uma vida que,
embora seja visível apenas através de máquinas, tem a mesma dignidade de qualquer
pessoa” - escreve Dom Fisichella.
Segundo a vice-secretária do Ministério da
Saúde, Eugenia Roccella, vinte e nove mulheres morreram no mundo pelo consumo da pílula
Ru486 desde que é comercializada. Roncella explicou que as mortes foram causadas pelos
efeitos colaterais do fármaco. (CM)