Reflexão para o XVII
Domingo do Tempo Comum – Ano B Para quem diz que a religião deve se preocupar
apenas com o espírito, deverá surpreender o tema deste domingo onde na primeira leitura
e no Evangelho o pão é multiplicado para que todos se alimentem bem. Aliás, na Sagrada
Escritura, o verbo comer aparece quase mil vezes, enquanto que rezar só umas cem.
Na primeira leitura, o profeta Eliseu não aceita comer, em uma situação de penúria,
de fome mesmo, os 20 pães que um devoto de outro lugar lhe traz. Ele diz a esse bom
homem que o distribua aos seus cem seguidores. O benfeitor diz ser impossível, que
o pão é pouco e os ouvintes são cinco vezes mais. Eliseu ordena, confiando na Palavra
de Deus dita a ele. “O homem distribuiu e ainda sobrou” nos diz a Sagrada Escritura.
Naquela época isso aconteceu, bem como outros sinais semelhantes, para que o povo
confiasse só em Deus e não nos ídolos. Deus se preocupa com nossas necessidades materiais,
mas quer a nossa colaboração. Por isso a multiplicação do que foi trazido, do esforço
físico de quem trabalhou, da solicitude de quem o trouxe e da generosidade e fé do
profeta, que não reteve o dom para si, mas ensinou o homem a partilhar o que Deus
criou para todos. A atitude de Eliseu faz Deus ser verdadeiro e não mentiroso,
já que o Senhor havia dito “Comerão e ainda sobrará”. Em nossa realidade social
somos os primeiros a fazer Deus passar por mentiroso, quando vivemos no Brasil, país
que faz parte do grupo dos seis emergentes e se prepara para entrar no G 14, quando
o G8 assumir em seu meio esses novos poderosos, e temos mais de 33 milhões de pessoas
vivendo abaixo da “pobreza absoluta”. País tão rico e população tão pobre! Deus não
é mentiroso, nós é que somos egoístas e não queremos abrir mão de nossos pães que
sobram para saciar a fome dos irmãos. E não é só o pão. É a saúde, as vestes,
o afeto, a educação, tudo aquilo que depende de nós, porque nós os temos, pouco até,
mas os temos. Se confiarmos em Deus, Ele cumprirá sua Palavra e do pouco sobrará bastante.
Conta-se que São Vicente de Paulo ao chegar à cidade em que foi destinado como pároco,
assistiu a morte de uma senhora e ficou penalizado por ter deixado sua filhinha de
pouca idade. Após o sepultamento perguntou à população bastante pobre, quem tinha
mais filhos e apareceu uma mãe com seus quatro filhos. Aí São Vicente entregou a ela
a pequena órfã e ele acrescentou, mais ou menos assim: quem tem menos posses e mais
filhos, sabe dividir e aceita o novo membro como bênção. No Evangelho, ao mandar
as pessoas se sentarem, Jesus quer dizer que todos são cidadãos livres, já que os
escravos não se sentavam para comer. Mais ainda, no projeto de Jesus não ensina primeiro
acumular para depois dividir, mas partilhar o que cada um possui, para que todos fiquem
saciados. Esta é a autêntica Eucaristia, o dom de Deus, associado ao esforço das
pessoas, em vista da partilha, da fraternidade e da igualdade. E a Carta de
Paulo aos Efésios nos diz que há “um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos,
age por meio de todos e permanece em todos”. Que nosso testemunho de crer no
Deus único e verdadeiro no leve a colocar as mãos em nosso bolso e partilhar tudo
aquilo que recebemos ou produzimos porque dele tudo recebemos para partilhar, para
sermos irmãos.